A candidata do PSC ao Senado pelo RS, Maristela Zanotto, tenta repetir na esfera política o sucesso alcançado na vida privada. A empresária do setor calçadista, natural de Paraí e moradora de Caçapava do Sul, aos 59 anos disputa sua primeira eleição. A mudança de rumo não é novidade para ela, que dos 10 aos 18 anos viveu em um convento com a meta de virar freira. A vocação para o mundo dos negócios falou mais alto. Se eleita, tem como plataformas a desburocratização e o alívio da carga tributária das empresas, a geração de empregos e o auxílio à Metade Sul.
Série de entrevistas
De 12 a 20 de setembro, GZH publica entrevistas com candidatos ao Senado no RS que concorrem por siglas com ao menos cinco representantes no Congresso. A ordem de publicação é alfabética, conforme o nome que estará na urna.
Essa é a primeira vez que a senhora concorre em uma eleição. A falta de experiência não pode dificultar um primeiro mandato já como senadora?
É um grande desafio, até porque o Senado é uma esfera do mais alto grau. Mas, na observância daquilo que a gente vê das pessoas, das reclamações, das pessoas dizendo que são sempre as mesmas que estão no poder, que nós precisamos de mudança, de rostos jovens, então, surgiu (a candidatura). Acho que linkamos muito ao que o seu Roberto (Argenta, candidato a governador da coligação) diz e faz, temos uma vida muito semelhante, as nossas origens, os desafios que a gente enfrentou, onde chegamos, claro que nas devidas proporções. Mas é uma história que testifica que a gente é capaz de fazer as mudanças que são necessárias. Porque eu acho que quem cuida bem do que é seu cuida também do que vai ser dos outros. Sou comerciante. A minha missão agora seria fazer política, mas não essa política que está aí. A gente vem com uma proposta de mudança.
A senhora citou o candidato a governador da sua coligação. Suas propostas também seriam as mesmas, de focar na geração de empregos, ou teria outras prioridades?
O que nos deixou muito conectados é exatamente o que ele defende, a geração de empregos e o fortalecimento da Metade Sul. Temos de desburocratizar toda essa carga tributária que está quase inviável para alguém hoje ser um empreendedor, um investidor.
A carga tributária é muito grande.
A reforma tributária é justamente um dos temas que o Congresso deverá tratar. Que tipo de mudança a senhora defende?
Temos de, além de diminuir (alíquotas), criar menos impostos. Temos de olhar cada empresa, o faturamento de cada empresa, e ter um índice de acordo. A gente vê muitas empresas engessadas pelos altos impostos. Elas gostariam de abrir novas unidades, ampliar a rede de negócios, mas pagam demais para o governo. E pagar para o governo até não seria tão ruim se a gente tivesse uma saúde melhor, uma educação melhor, uma segurança melhor. Todos esses fatores têm de ser discutidos.
A senhora falou do setor empresarial, mas hoje o cidadão de classe média está na faixa de quem mais paga imposto proporcionalmente. Isso não sobrecarregaria ainda mais esse setor da sociedade?
Por isso digo que a gente teria de rever todo esse contexto. É uma coisa que, estando lá (no Senado), isso é parte do diálogo. Isso tudo a gente tem que sentar, tentar harmonizar de uma forma que se equacione isso e que se venha a desenvolver principalmente o Rio Grande do Sul. Porque somos um Estado, infelizmente, que já teve tudo e hoje está perdendo principalmente os nossos jovens da Metade Sul, que estão indo para Santa Catarina em busca de trabalho. Isso nos deixa muito tristes, porque olho para a Metade Sul e vejo que, daqui a uns anos, vamos ser uma Metade Sul de velhos.
No tema das reformas, também está pendente a administrativa. Acha que deve ser feita?
Analisando a situação, acho que teríamos de fazer uma limpeza em tudo e recomeçar. Acho que em todos os setores, saúde, educação, segurança, temos que dar uma olhada, fazer uma varredura, uma limpeza, e começar talvez fazendo pelo que a gente acredita realmente que se é capaz de fazer.
Mas quais seriam os pilares?
Não vou vir aqui te prometer que vamos fazer, não sei o que vou encontrar lá (no Congresso). Nós queremos fazer, isso sim está na nossa plataforma de governo, é gerar empregos, é dar dignidade, é olhar para a Metade Sul com outros olhos.
Um tema que diz respeito diretamente ao Estado é a renegociação da dívida com a União recentemente concluída. Como senadora, apoiaria esse acordo ou buscaria revisá-lo?
Acho que essa dívida nós já pagamos várias vezes. Essa dívida está inviável, nós temos de tratar de outra forma, sim.
Outro tema polêmico é o orçamento secreto e as emendas Pix, que dificultam a fiscalização do uso do dinheiro público. Como senadora, faria uso desse tipo de recurso?
É uma coisa que a gente também tem de analisar. Mas, na decisão que a gente tomar, teria de haver transparência. Uma coisa que sei fazer é uma empresa dar certo, gerar emprego, dar oportunidade às pessoas, dar dignidade, liderar. Não gosto da palavra discussão, não gosto de enfrentamento e não gosto de nada secreto.
Mas em casos concretos em que há conflito, como a recente medida proposta pela União que cortou alíquotas de ICMS dos Estados, gerando temor de grandes perdas de receita, como a senhora se posicionaria?
Todo repasse do governo federal teria de ser destinado ao governo estadual já com planejamento também. Porque se sabe que nós recebemos dinheiro, não é essa administração, são várias administrações, que a União repassa para o Estado e, infelizmente, o Estado não consegue canalizar aquele dinheiro porque vamos tapar um furo aqui, outro lá. Então acho que, quando vem o dinheiro da União, tem de vir destinado já com um planejamento para aquilo que realmente se destina.
Perdão, mas nesse caso concreto a senhora concorda com a União ou com o Estado?
Eu acho que o Estado, nesse momento, teria razão em ficar com esses valores. Passamos por uma pandemia, pela maior estiagem em 70 anos, então o Estado tem de ter dinheiro pra arcar com isso tudo. Mas tem de ser bem canalizado, tem de ser bem colocado, nas devidas proporções, e nós temos de perceber que o dinheiro está sendo bem usado.
Em relação às questões de costumes, que ganharam relevância nos últimos anos, há vários projetos buscando restringir o aborto no Congresso. A senhora entende que a legislação atual está adequada, deve ser mais ou menos restritiva?
Olha, eu venho de uma família cristã, quase fui freira, então meus princípios realmente não compactuam com o aborto, exceto aqueles casos que nós já temos previstos por lei, como quando é uma menor, quando é um estupro, aí é outra discussão. Agora, nós legalizarmos o aborto, não. Eu sou contra isso. Eu sou extremamente contra.