Nádia Rodrigues Silveira Gerhard, a Comandante Nádia (PP), é natural de Porto Alegre. Casada e mãe de três filhos, é formada em Letras, com especialização em psicologia escolar, e pós-graduada em gestão pública. Tenente-coronel da Brigada Militar, atuou por 28 anos no policiamento ostensivo e, em 2007, foi a primeira mulher a comandar um batalhão no Estado.
Está no segundo mandato de vereadora da Capital e, em 2018, assumiu uma secretaria municipal. Pretende levar ao Senado ações que priorizam saúde, educação, segurança e desenvolvimento econômico.
Série de entrevistas
De 12 a 20 de setembro, GZH publica entrevistas com candidatos ao Senado no RS que concorrem por siglas com ao menos cinco representantes no Congresso. A ordem de publicação é alfabética, conforme o nome que estará na urna.
O início de legislatura é marcado por expectativa de reformas. Há certo consenso e até pressão sobre a necessidade da administrativa e da tributária. Na sua avaliação, em que moldes deveriam ocorrer?
As pessoas tendem a achar que a reforma administrativa, por exemplo, é algo estanque, quando, na verdade, tem caráter permanente. Deve ocorrer de tempo em tempo, porque as atividades se modificam. A forma do atendimento do setor público para as pessoas também. A reforma administrativa precisa avaliar, fiscalizar o serviço e averiguar se o mesmo está atendendo às necessidades da população. Tivemos uma tímida reforma administrativa em nível nacional, que só não avançou mais por conta de fatores políticos. Me parece que faltou um pouco de maturidade e coragem por parte das pessoas envolvidas para sentarem e realizarem amplo estudo a respeito. Eu encaro de frente o problema para resolvê-lo. A Comandante Nádia já fez uma reforma em Porto Alegre e sentou com todos os sindicatos. É preciso fazer essa análise crítica sempre pensando que os servidores estão lá para bem servir. A reforma não é contrária ao funcionário, como pensam alguns, mas necessária para que a engrenagem funcione e ninguém tenha perdas, nem de salário nem de serviços.
E a tributária?
Está engavetada desde 2019 com mais de 200 emendas. Tenho uma máxima: tudo que é muito “emendado” é porque no início já não estava bom. Mesmo assim, é necessário extenuar o tema. É mais do que imperativo fazê-la, porque, hoje, toma-se uma xícara de café e não se sabe o quanto de imposto está embutido. Em outros países, é de conhecimento de todos. A reforma tributária não é boa apenas para o empreendedor, mas para o consumidor. É justo saber o quanto estou pagando e se a carga de determinado produto está muito elevada. É preciso que essa reforma simplifique — de oito ou nove tributos para um. A gasolina é exemplo. No final do processo, incidem seis ou sete tributos. Foi retirado o ICMS e olha só o quanto baixou. Perde-se arrecadação nos Estados, mas uma de minhas pautas é o pacto federativo. Não pode o RS arrecadar R$ 22 bilhões e receber R$ 9 bilhões. É dinheiro do gaúcho, do trabalho, da mão calejada. E a Bahia? Arrecada quase nada e recebe R$ 17 bilhões. A reforma tributária deve facilitar para o consumidor e o empreendedor, o pacto federativo é para os Estados e para ontem. Agora, a primeira reforma é a política, para acabar com acordos e conchavos de portas fechadas nos gabinetes e com as velhas estruturas.
Acredita que é possível mexer nisso dentro do Congresso?
É o que me proponho. Se vou conseguir, não sei. Mas tenho certeza de que vou incomodar. Sou da Brigada Militar, estou na reserva remunerada. Não preciso da política para viver, entrei por indignação, por ver, sempre, mais do mesmo. É preciso renovar para mudar velhas estruturas. E a reforma política urge. Não podemos ter mais a figura do “político de profissão”. A máquina tem de ser leve. Veja as emendas parlamentares. Você acredita que hoje nas eleições não tem candidato cobrando emendas liberadas durante o mandato para o município? É claro que tem e está errado. Emenda tem de ser de uma bancada, coletiva...
Mas, nesse aspecto, surgiram o orçamento secreto, as emendas impositivas e as emendas Pix. A senhora pretende utilizar o que lhe seria de direito?
Pretendo mudar. Isso não pode existir. Mas existe. É preciso mudar o que existe. Emendas parlamentares que chegam aos montes e em maior volume em ano de eleições? Não é correto e desequilibra a política eleitoral. Receber R$ 1 milhão num hospital de uma cidade média é maravilhoso, mas vamos combinar que se trata de compra de voto institucional que não pode existir. Outra coisa, quando se é candidato não deveria ser permitido permanecer no cargo. Pedi licença da Brigada para concorrer à Câmara de Porto Alegre. Como vereadora eu não preciso sair do cargo. Está certo? Não está, mas é o que está posto e eu quero mudar. O vice-presidente da República (Hamilton Mourão, candidato ao Senado pelo Republicanos) não precisa sair do cargo, desde que não assuma, mas utiliza toda a estrutura. Enquanto eu, vereadora, se quiser ir para qualquer lugar do Estado pego o meu carro, pago a gasolina e a minha hospedagem, assim como a daqueles que estão comigo. O vice-presidente, não. É legal? É, mas, no meu entendimento, é imoral. Me aguardem, porque vou fazer essas mudanças. Quando se quebra as estruturas já enraizadas, aí, sim, a gente muda o contexto e retira do político de carreira aquilo que faz com que ele esteja sempre ali. A caneta é uma ferramenta, a foice também e não se coloca ferramentas na mão de quem não sabe usá-las. Uma caneta na mão de um poeta vai criar algo bonito. A foice na mão de um agricultor vai roçar ervas daninha, mas, para alguém do MST, não habilitado, vai provocar a degola de um soldado na Esquina Democrática, como já aconteceu em Porto Alegre. A política é uma ferramenta, tem de ser entregue nas mãos de quem tem transparência, ética e compromisso.
Há projetos em tramitação para legalizar ou criminalizar o aborto. A senhora defende manter a situação atual, restringir ou ampliar a possibilidade de interrupção da gravidez?
Carrego dentro da minha bolsa pessoal um bonequinho que é um feto para mostrar às pessoas a vida. Na Brigada Militar, sempre defendi a vida dos gaúchos. Na política, não é diferente. A meu ver, já está tipificado na legislação o que pode ser feito. Fora isso é crime, é matança e não pode acontecer. Mas não basta ser contra, é preciso dar a solução: trabalhar o tema no nível médio, quando afloram os hormônios da gurizada. Falar em planejamento familiar e métodos contraceptivos. Sexo é bom, desde que se tenha cuidado. É preciso tratar de forma técnica. Não no oba-oba, como sugerem os defensores da ideologia de gênero ao dizerem que “menino pode ser menina”. Isso cada um vai decidir na hora certa.
E as drogas?
Totalmente contra. Serei uma fiel e ferrenha lutadora em Brasília para não liberar nenhum tipo de droga. Tem uma galera falando em maconha medicinal. Sim, para os laboratórios. Não precisa plantar em casa para ter medicamentos. Desde que liberaram 30 gramas de porte de maconha para uso pessoal recreativo, em 2006, houve um estouro da criminalidade.