O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL, voltou a defender o armamento dos cidadãos neste sábado (24), em Campinas, no interior de São Paulo. O fato ocorre apenas três dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) formar maioria para confirmar a decisão do ministro Edson Fachin que suspendeu trechos de decretos editados pelo seu governo para flexibilizar o acesso da população civil a armas e munições. Sem citar o STF, o atual mandatário do país disse que vai rever "a questão dos decretos" depois das eleições, que tem o primeiro turno de votação marcado para o próximo dia 2 de outubro.
Em comício, o político puxou o coro de "povo armado jamais será escravizado" e atribuiu a defesa pelo desarmamento a seus adversários.
— Do lado de cá, tem alguém que diz que temos direito ao sagrado direito da defesa; do lado de lá, um ladrão que tenta desarmar o cidadão de bem. Após as eleições resolverei a questão do decreto das armas para vocês — afirmou.
Ignorando as denúncias de corrupção em seu governo, como as que envolveram a compra de vacinas pelo Ministério da Saúde, o caso das rachadinhas e a compra de 51 imóveis em dinheiro vivo pela família Bolsonaro, o presidente disse que chegou a três anos e oito meses de governo sem denúncia.
— Acusam-me de tudo, mas nunca me chamam de corrupto. Sim, eu digo palavrão, mas não sou ladrão — disse, referindo-se ao seu principal adversário. — Se precisar lutar contra essa quadrilha do Lula, nós lutaremos e repito, povo armado jamais será escravizado.
A oito dias do primeiro turno das eleições e estacionado em segundo lugar, Bolsonaro deu mostras de que vai para o tudo ou nada. Além de chamar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, de ladrão sete vezes durante o discurso, ele acusou o ex-governador Geraldo Alckmin de roubar merenda.
Alckmin, que não foi citado nominalmente, é vice na chapa de Lula e tem cacife eleitoral no interior de SP, um colégio eleitoral cobiçado pelos bolsonaristas. Graças aos votos em São Paulo, Lula é líder nas pesquisas e com chance de vitória no primeiro turno.
— Está fácil escolher. Do meu lado, na minha chapa, dois militares (Tarcísio de Freitas, candidato a governador pelo Republicanos, e Marcos Pontes, candidato do PL ao Senado por São Paulo), dois soldados do Brasil. Do lado de lá, dois ladrões, um roubou o Brasil por 14 anos, o outro roubou merenda aqui em São Paulo por oito anos — disse.
Desvios na merenda escolar foram investigados em 2016, durante o governo de Alckmin, mas em nenhum momento o governador foi citado nas investigações. As apurações conduzidas pelo Ministério Público de São Paulo e pelo Ministério Público Federal chegaram a um parlamentar da bancada governista da época e foram indiciados presidentes de cooperativas de produtores de alimentos no Interior.
Apesar de ter se recusado a comprar vacinas no início da pandemia, Bolsonaro voltou a dizer que fez tudo certo durante a emergência sanitária de covid-19 e que, por não ter adotado medidas restritivas para evitar a disseminação da doença, o Brasil agora "é um país condenado a dar certo".
— Estamos entrando no terceiro mês com deflação, ou inflação negativa, o que não acontece em nenhum país do mundo — afirmou Bolsonaro.
Antes do comício, Bolsonaro participou de uma motociata com apoiadores pelas ruas de Campinas. O candidato desfilou levando Tarcísio de Freitas na garupa da moto — ambos estavam sem capacetes. A motociata percorreu ruas interditadas pela Polícia Militar e seguiu até o Largo do Rosário, no centro, onde estava montado o palco do comício. O comércio do entorno foi obrigado a fechar as portas. A PM deslocou um helicóptero para fazer a segurança.
A Rodovia Prof. Zeferino Vaz (SP-332), na zona norte da cidade, foi interditada por volta das 6h30min,com desvio no trânsito. A motociata se concentrou no trecho conhecido como Tapetão. Depois do comício, o candidato participou de uma carreata pela cidade. Bolsonaro havia estado em Campinas pela última vez em 15 de abril, quando fez motociata pela Rodovia dos Bandeirantes até a cidade de Americana.