Apelos por mobilização na reta final e pela vitória no primeiro turno da eleição presidencial marcaram o comício de Lula (PT) nesta sexta-feira (16), no Largo Glênio Peres, no Centro Histórico de Porto Alegre, que foi tomado por militantes partidários e simpatizantes.
Em discurso de 33 minutos, Lula perpassou vários temas, com destaque para a proteção e a valorização da mulher e as pautas econômicas. Ele ainda fez ataques contundentes ao presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), mas encerrou sua manifestação pedindo empenho e lançando presságios de uma hipotética vitória logo na primeira fase eleitoral. As pesquisas indicam que isso é possível, embora o cenário seja estreito e imprevisível.
— Daqui para frente, temos de ficar alertas com as mentiras do zap (WhatsApp), com as fake news, com as mensagens, e não deixar passar nenhuma mentira. E vamos poder resolver no dia 2 de outubro o nosso problema com a história desse país. Tenho certeza que temos condições de ganhar — afirmou Lula.
O tema das mulheres, gênero que tem se mostrado um importante eleitorado do petista, foi outra tônica. Lula sinalizou a intenção de endurecer as leis, como a Maria da Penha, para combater os feminicídios. Também no contexto de proteção à mulher, prometeu criar o Ministério da Segurança Pública.
— A mulher não é objeto, ela é sujeito da história e tem o direito de ser o que quiser — disse Lula, que chamou Edegar Pretto (PT), candidato ao Palácio Piratini, para ficar ao seu lado durante a maior parte do discurso.
O petista citou nominalmente a nova ponte do Guaíba, afirmando que é uma obra do governo de Dilma Rousseff (PT), emendando com a crítica de que o governo Bolsonaro “não fez absolutamente nada nesse país”.
Lula subiu o tom contra Bolsonaro, entremeando o monólogo a promessas de recuperar a economia e acabar com a fome. Também repetiu o bordão de que vai recolocar o “churrasco e a cervejinha” na mesa da população aos finais de semana. O petista citou os decretos de sigilos de 100 anos assinados pelo presidente sobre informações sensíveis e a compra, pela família Bolsonaro, de 51 imóveis com R$ 25 milhões em dinheiro vivo, em valores atualizados. Chamou Bolsonaro de “genocida” repetidamente e comentou a ida do presidente às despedidas fúnebres da rainha Elizabeth, no Reino Unido.
— Seria mais louvável se, além de ir no enterro da rainha, ele tivesse ido no enterro de uma das 680 mil pessoas que morreram de covid nesse país. Ele não chorou nenhuma lágrima. Ele zombou da vacina. Zombou da falta de ar — discursou Lula.
O petista ainda comentou sua relação com o agronegócio, setor majoritariamente alinhado a Bolsonaro, e prometeu fortalecer políticas de preservação ambiental.
— Eu não tenho problema com o agronegócio, eles produzem em larga escala, exportam muito. Mas por que eles não gostam de nós? Eles não gostam de nós porque vai acabar essa história de invadir a Amazônia — afirmou Lula, destacando as políticas de crédito para auxiliar o segmento durante os governos do PT.
Antes da manifestação de Lula, a nota mais tocada foi a mobilização nas últimas duas semanas de campanha.
A ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), entre outros, reforçaram os apelos por dedicação para tentar liquidar o pleito na primeira rodada.
— São 15 dias de gás por quatro anos de paz — discursou Manuela.
A busca pelo voto útil também esteve na pauta. A ex-presidente Dilma, ao discursar, fez um chamado aos brizolistas, numa tentativa de atrair para Lula os votos do presidenciável Ciro Gomes (PDT).
— Eu tenho certeza que se o Leonel Brizola estivesse vivo, ele estaria naquele palanque sentado ao lado de Lula — afirmou Dilma, que foi uma longeva militante do PDT antes de migrar ao PT em 2001.
Militantes e simpatizantes lotaram o Largo Glênio Peres, munidos de bandeiras e instrumentos de percussão, para participar do comício. O palanque foi montado ao lado do terminal de ônibus Parobé e o público se espraiou pelo espaço entre o Mercado Público e o Chalé da Praça XV. Um telão transmitiu o ato ao vivo para quem estava mais ao fundo. Havia pessoas aglomeradas até a altura da Avenida Borges de Medeiros, da Praça Montevidéu e da Rua Uruguai.
Lula foi chamado a compor o palanque em torno das 18h45min. Ele surgiu diante do público junto da esposa, Janja Lula da Silva. Ambos foram recebidos com euforia e cânticos que lembravam um estádio de futebol. Antes deles, foram anunciados Pretto, o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) e o ex-governador Tarso Genro (PT). Dilma e o candidato ao Senado Olívio Dutra (PT) foram recebidos com entusiasmo. Lula pediu votos em Pretto para governador, mas dedicou especiais palavras a Olívio, que atendeu o chamado partidário e aceitou se lançar em nova disputa eleitoral aos 81 anos. Logo depois dos anúncios das lideranças presentes, artistas interpretaram o hino nacional, o que foi sucedido por manifestações de que os símbolos pátrios são de todos e não podem ser capturados por grupos, em referência indireta a Bolsonaro. O ato foi encerrado às 21h.