Há quem escolha um apelido e quem invista em uma composição engraçada. Alguns apostam em suas profissões ou em homenagens a artistas e personagens. Outros fazem referências a municípios, comunidades ou empreendimentos pelos quais são conhecidos. Independentemente da estratégia, a criatividade rola solta quando o assunto é o nome dos candidatos nas disputas eleitorais. Em todos os pleitos, basta uma rápida conferida no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou nas propagandas de rádio e TV para deparar com algumas pérolas — e neste ano não seria diferente.
Na disputa por uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul estão figuras como Alex Waywerine e John Elvis, que inclusive aparecem caracterizados como o personagem Wolverine e como o cantor Elvis Presley em suas fotos. Ninja Motoboy, O Homem do Caminhão e Prettu do Ferro Velho também competem pela preferência do eleitor para o cargo de deputado estadual.
Enquanto a Assembleia também poderá ter o Repolhinho como um de seus integrantes, o Cebola pode ser um dos eleitos para a Câmara dos Deputados. Na disputa federal, DJ Alexandre Thusco Elvis também faz referência ao Rei do Rock e Bombeiro França é um dos que destacam a categoria profissional. Tristinho, Xurras e Zoinho são outros dos nomes mais curiosos na lista de postulantes a deputado federal do Estado (confira a relação completa no final desta reportagem).
De acordo com especialistas, esse fenômeno dos nomes pitorescos que se repete em todas as eleições é um recurso para tentar chamar a atenção dos eleitores e, assim, conseguir votos. É mais comum entre os possíveis deputados justamente devido ao número de concorrentes: neste ano, somente no Rio Grande do Sul, são mais de 500 candidaturas para a Câmara e mais de 800 para a Assembleia, conforme dados do TSE.
Os apelidos geralmente são destacados na composição do nome quando a pessoa se torna conhecida daquela forma, aponta o doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) João Pedro Schmidt. Como exemplo, ele cita dois ex-jogadores do Grêmio e do Internacional que se candidataram com referências aos times: nas eleições deste ano, Douglas Maestro Pifador e Preto Ex Goleiro do Inter são dois dos atletas que disputam vagas na Câmara.
— É o uso do prestígio social, da reputação que se conseguiu, na tentativa de converter isso em votos — comenta Schmidt.
Gustavo Paim, doutor em Direito e professor de Direito Eleitoral e Ciência Política da Unisinos, concorda que, na maioria das vezes, a escolha tem relação com a história do candidato, embora algumas sejam menos conhecidas pelas pessoas. O especialista afirma que sem dúvida há uma tentativa de apelo e de buscar uma identificação com o eleitor, seja mencionando uma localidade, palavra, expressão ou apelido pelo qual a pessoa se destaca em algum núcleo:
— Talvez para alguns eleitores não faça sentido, mas, para a realidade daquele candidato, para a comunidade dele, tem alguma associação. Então, o que muitos candidatos buscam é realmente algo que remeta a sua história de vida para gerar a empatia ou a atenção de um determinado público.
Mas também há casos em que os candidatos optam por apelidos mais jocosos para adentrar naquilo que se chama de antipolítica, diz Schmidt, ressaltando que há um conjunto razoável de eleitores, não apenas no Brasil, que não gosta de política e que prefere votar em alguém que “expresse a inconformidade do eleitor”. Paim relembra a candidatura de Tiririca, com o slogan “pior que tá não fica”, nas eleições de 2010, em que o humorista foi o deputado federal mais votado do país.
— Era o auge do Mensalão e ele estava buscando um voto de protesto, e ele foi um voto de protesto para muitas pessoas. Então, é uma forma de tentar atrair o eleitor que muitas vezes está de saco cheio com a política — considera o professor da Unisinos.
O docente da Unisc acrescenta que, apesar de não haver uma teoria fechada sobre como as pessoas votam, acredita que não seja somente por questões racionais, mas também por razões emocionais. Aponta também que o marketing da política costuma trabalhar bastante com a emotividade para influenciar na decisão dos eleitores.
Impacto das redes sociais e dicas para definir o voto
Questionado se as redes sociais não teriam oportunizado melhores espaços de divulgação de candidaturas, Gustavo Paim pondera que alguns candidatos podem ter uma grande influência no mundo digital, mas outros, não. Neste cenário, destaca a importância do horário eleitoral gratuito e das propagandas em rádio e TV, especialmente as inserções diárias de 70 minutos.
— As redes sociais dependem muito da história de vida do sujeito, tem gente que é mais digital e gente que é mais analógica. Então, via de regra, esses nomes mais peculiares não são de pessoas com uma atuação tão grande nas redes sociais — afirma.
Bruno Marques Schaefer, professor do Departamento de Ciência Política da UFRGS e doutor em Ciência Política pela mesma instituição, acrescenta que, por mais que a maioria dos candidatos tenha um perfil em alguma das redes existentes, é caro fazer campanha no ambiente digital para, de fato, ser competitivo. Por isso, concorda que a escolha de nomes curiosos seja uma tentativa de se destacar de algum modo, principalmente porque os eleitores acabam prestando menos atenção nas disputas do Legislativo, por não saberem muito bem o que fazem os deputados estaduais e federais ou como são eleitos.
Por isso, Schaefer indica que, antes de escolher em quem votar, os eleitores procurem se informar sobre qual a função de cada cargo e, para uma filtragem mais específica, considerem os candidatos e partidos que mais representem seu viés ideológico:
— É preciso votar com convicção e é importante saber qual o partido desse candidato, porque, ao votar nele, você também está votando no partido dele, já que é um sistema proporcional.
O professor João Pedro Schmidt acrescenta que o eleitor não deve deixar a escolha dos candidatos a deputado federal e estadual para a última hora porque a quantidade de concorrentes aumenta a dificuldade de uma definição. Também recomenda que a população lembre de anotar e levar no dia da votação os números escolhidos, a fim de evitar erros nas urnas.