O ex-governador Eduardo Leite (PSDB) foi o alvo preferencial dos adversários durante painel promovido pela Federasul com candidatos ao governo do Estado, nesta quarta-feira (10), em Porto Alegre. Concebido para fomentar propostas de desenvolvimento para o Rio Grande do Sul, o evento serviu de prévia da campanha eleitoral que se avizinha, com cobranças a Leite pela renúncia ao cargo e nacionalização do debate regional a partir da polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Participaram do encontro sete dos 11 aspirantes ao Piratini. Além de Leite, também estavam presentes Edegar Pretto (PT), Luis Carlos Heinze (PP), Onyx Lorenzoni (PL), Ricardo Jobim (Novo), Vicente Bogo (PSB) e Vieira da Cunha (PDT). A entidade definiu como critério convidar somente os candidatos com bancada na Assembleia Legislativa, o que excluiu Roberto Argenta (PSC), Rejane de Oliveira (PSTU), Carlos Messalla (PCB) e Paulo Pedra (PCO).
Já na abertura, o presidente da Federasul, Anderson Cardoso, citou o tom que esperava dos candidatos, ao elencar como prioridades da entidade o estímulo à livre iniciativa e ao empreendedorismo, com respeito à economia de mercado e investimentos em educação, infraestrutura e inovação. Porém, ciente das diferenças entre cada uma das sete propostas, salientou a necessidade de união de esforços em torno do bem comum.
— Se divergir é da democracia, convergir é da civilização. Nós precisamos das duas coisas: divergir no que nos distingue, mas convergir nos que nos une para melhorar o Estado — destacou Cardoso, diante das quase 300 pessoas — entre empresários, políticos e autoridades — que lotavam o salão nobre do Palácio do Comércio.
Embate
Nas cerca de duas horas de duração do evento, foram raras as convergências. Como não se tratava de um debate, não houve perguntas entre os candidatos, mas a troca de provocações surgiu quando eles respondiam questões formuladas pela entidade. Os embates mais ásperos se deram entre Onyx e Leite.
Indagado se pretendia aumentar impostos em um eventual governo, Onyx negou, acrescentando que as regras do regime de recuperação fiscal impediam inclusive uma redução da carga tributária. Em seguida, chamou Leite de mentiroso por ter afirmado em um debate anterior que o PIB do Estado havia crescido duas vezes mais do que o do país no últimos anos.
— Se o ex-governador tivesse buscado o Departamento de Estatística do Estado, iria encontrar que a economia gaúcha caiu 2,24%, enquanto a economia do Brasil, pelos dados do IBGE, cresceu mais 3,05% — afirmou Onyx.
Sorteado para falar na sequência, Leite aproveitou uma pergunta sobre inovação para rebater o adversário. Embora tenha invocado o apóstolo errado em sua réplica — Leite atribuiu a Mateus a passagem bíblica “conheceis a verdade e ela te libertará”, muito citada por Onyx, mas o texto é de autoria de João —, o tucano disse que o regime não impede redução de tributos e que os dados do PIB eram de épocas distintas.
— Em 2019, 20 e 21, o PIB gaúcho cresceu o dobro do PIB brasileiro. É a absoluta verdade. Os dados que ele traz, deste ano, tem a ver com a estiagem mais severa das últimas décadas — retrucou Leite.
Embora Onyx tenha sido o mais enfático na oposição ao tucano, as críticas partiam da esquerda à direita. Como precaução, Leite fez logo no início uma prestação de contas do mandato, mostrando realizações referentes a temas como equilíbrio fiscal e privatizações, suscitados em evento semelhante realizado pela Federasul na eleição de 2018.
Ciente de que estava em território refratário às teses da esquerda, Pretto disse não ter preconceito contra concessões e pedágios, mas defendeu investimentos públicos em infraestrutura e prometeu reverter o processo de venda da Corsan. Sempre reforçando o alinhamento nacional com Lula, o petista tentou colocar os principais antagonistas do painel no mesmo campo ideológico, ao citar o voto declarado de Leite em Bolsonaro e a presença do PL na gestão do tucano no Estado.
— Vejam como as contradições aparecem. Leite fez campanha para Bolsonaro. Até ontem, o partido do Onyx fazia parte do governo do Leite. A pergunta que fica é: qual mesmo é a diferença entre um projeto e outro? Em que momento aconteceu esse rompimento? Não acreditem nessa guerra de bugio, ela é falsa, não é verdadeira — afirmou.
Somente Bogo e Heinze evitaram ataques frontais ao ex-governador. Apresentando-se como um humanista, Bogo destacou sua experiência como vice-governador e deputado federal constituinte para sustentar um governo de diálogo permanente e com foco na saúde e educação, com descentralização dos recursos.
— Tudo que dá para vir de Brasília para o Estado, e do Estado para os municípios, é melhor. Resolve-se os problemas onde está a comunidade — receitou.
Propostas
Já Heinze destacou sua trajetória de apoio à iniciativa privada, com defesa de privatizações, concessões e eficiência administrativa. O senador sugeriu vender mais de 30 mil imóveis do Estado e a cobrança de R$ 20 bilhões em dívidas como forma de aumentar a arrecadação.
— Onde eu ponho a mão, as coisas acontecem. Fiz a primeira parceria público-privada no Estado quando era prefeito de São Borja, com a ponte São Borja-Santo Tomé — garantiu.
Em paralelo aos embates entre Onyx e Leite, Vieira e Jobim eram os mais enérgicos nas explanações. Salientando a condição de empresário e debutante na política, Jobim propôs redução de impostos, flexibilização de regras administrativas e ambientais na autorização de empreendimentos e a privatizações. Após trocar farpas com alguém da plateia, criticou o que chamou de “velhos acordos da política tradicional” para defender investimentos em educação com dinheiro da venda do Banrisul.
— Não temos medo de criticar ninguém. A politicagem não quer saber de investimentos em educação. Então vou deixar bem claro: nossa ideia é privatizar o banco e investir 100% do dinheiro num fundo que vai revolucionar a educação no Estado — afirmou.
Críticas
De dedo em riste, Vieira também defendeu aporte maciço de recursos em políticas educacionais. Citando Leonel Brizola e Ciro Gomes, destacou boas práticas do PDT na área, mas elevou o tom de voz para atacar a privatização da CEEE e a intenção de venda da Corsan.
— Com uma empresa pública, o lucro vai para o caixa do Tesouro, para investir nas necessidades da população. Nós vamos interromper esse processo na Corsan. Água não é mercadoria. Quero uma Corsan pública e o Banrisul público, dando rendimento ao Estado — argumentou.
A Federasul entregou aos candidatos um caderno com as proposições da entidade para o futuro governo. Em 12 páginas, a entidade defende temas como desenvolvimento, inovação, equilíbrio fiscal e educação. Na próxima semana, haverá um painel semelhantes com os postulantes ao Senado.