Dois documentos de teor semelhante circulam na internet defendendo a democracia, o sistema eleitoral e as instituições da República. O primeiro e mais famoso é a Carta em Defesa da Democracia, produzida na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e que já conta com quase 500 mil assinaturas — entre juristas, autoridades, banqueiros, empresários e sociedade em geral, bem como outras participações.
Já o manifesto em criação pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) é o segundo documento público lançado após seguidos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao sistema eleitoral.
Entenda abaixo as diferenças entre elas:
Carta em Defesa da Democracia - USP
Um variado grupo de empresários aderiu a uma carta, intitulada Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito, em tom duro em defesa da democracia brasileira e do sistema eleitoral. O manifesto, gestado na Faculdade de Direito da USP por ex-alunos, já conta com quase 500 mil assinaturas.
Empresariado e juristas se articularam para unir forças na mobilização, que terá como ápice um ato no dia 11 de agosto, nas arcadas do Largo de São Francisco, em defesa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da democracia brasileira.
O texto não faz menção expressa ao presidente Jair Bolsonaro, mas afirma que o país está "passando por um momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições". Ao citar "desvarios autoritários" que puseram em risco a democracia dos Estados Unidos, a carta diz: "Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão."
A polêmica reunião entre o presidente Bolsonaro e embaixadores de vários países, na qual o presidente da República colocou em dúvida o sistema eleitoral do Brasil, impulsionou o movimento de defesa do sistema eleitoral, apesar da dificuldade em se costurar um consenso entre empresários de diferentes inclinações políticas.
O manifesto é inspirado pela Carta aos Brasileiros de 1977, um texto de repúdio ao regime militar, redigida pelo jurista Goffredo Silva Telles, e lida também na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
No manifesto, disponível para assinatura do público em geral, estão petistas, tucanos, procuradores que trabalharam na Lava-Jato, o advogado que ajudava a campanha do ex-juiz Sergio Moro, ex-ministros de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT), Dilma e Temer, empresários, economistas liberais, subprocuradores-gerais da República, membros do Ministério Público Federal (MPF), uma ex-assessora de Paulo Guedes e João Doria (PSDB), a coordenadora de programa de Simone Tebet (MDB) e uma série de outras personalidades.
Entre banqueiros e empresários, estão Roberto Setubal, Candido Bracher e Pedro Moreira Salles, do Itaú Unibanco, Pedro Passos e Guilherme Leal, da Natura, Walter Schalka, da Suzano, Eduardo Vassimon (Votorantim) e Horácio Lafer Piva (Klabin).
A carta seguirá recebendo assinaturas até o dia 11 de agosto, quando será lida no Largo de São Francisco.
Em Defesa da Democracia e da Justiça - Fiesp
Batizado de Em Defesa da Democracia e da Justiça, o manifesto que a Fiesp está preparando e divulgará nos próximos dias não é o mesmo elaborado pela Faculdade de Direito da USP, apesar de também defender a democracia. Ele será endossado por entidades empresariais e da sociedade civil. O conteúdo dos textos será semelhante, mas a expectativa é de que o da Fiesp tenha um tom mais contido e seja publicado nos principais jornais do país.
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) e outras organizações também endossam o manifesto. As principais centrais sindicais do país decidiram aderir por unanimidade ao documento. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também anunciou que assinará a carta.
Carta de empresários
Um manifesto com mais de 6 mil assinaturas, intitulado O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados, também circulou na internet nos últimos dias. No entanto, ele não é atual, tendo sido produzido em agosto de 2021 por empresários.
Atos
Na próxima terça-feira (2), às 10h, a Coalização em Defesa do Sistema Eleitoral, iniciativa que reúne mais de 200 entidades e organizações da sociedade civil, promoverá um ato em defesa das eleições e contra a violência política no Senado.
As entidades empresariais unirão forças aos ex-alunos da USP, e ambos os manifestos serão lidos em duas cerimônias na Faculdade de Direito da USP no dia 11 de agosto. O primeiro, com empresariado e entidades da sociedade civil, deve ocorrer no Salão Nobre da faculdade, às 10h, com a leitura do manifesto da Fiesp.
Já o segundo ato do dia será aberto com a leitura da "nova Carta aos Brasileiros", que será feita pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, às 11h30min, no pátio da faculdade.
A escolha da data faz referência à criação dos cursos jurídicos no Brasil, além de ser o nome do centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP.