A dificuldade em ampliar o leque de aliados está forçando dirigentes da federação que reúne PT, PCdoB e PV a discutir indicações dos seus quadros para integrar a chapa ao Palácio Piratini que será encabeçada pelo deputado estadual Edegar Pretto (PT). A composição com nomes exclusivamente da federação partidária entrou em pauta em reunião nessa segunda-feira (18). O cenário de momento indica que o PCdoB deve fazer a indicação do candidato a vice-governador e o PT do Senado. O PV poderá preencher a suplência ao posto de senador.
O PCdoB apresentou o nome da suplente de vereadora Luciane Pereira para vice de Pretto. Na eleição de 2020, em Porto Alegre, ela anotou pouco mais de três mil votos concorrendo à Câmara como representante do coletivo Cuca Congo, que reúne quatro professoras negras da rede municipal. Luciane também é dirigente do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa).
Para o Senado, sem nomes que se imponham naturalmente após a decisão de Manuela D’Ávila (PCdoB) de não entrar na disputa, as bases têm ampliado o coro para que os ex-governadores Tarso Genro e Olívio Dutra, ambos do PT, assumam a missão. A situação é delicada porque ambos não demonstram este desejo. Tarso, por exemplo, vem reiterando posição pública de não ingressar na corrida. Existe uma tentativa de renovação de lideranças no PT gaúcho, o que é expressado pela candidatura de Pretto ao Piratini, mas as circunstâncias estão levando a crescentes chamamentos por Tarso e Olívio.
— Olívio é mais difícil. Já deu sua cota de sacrifício em 2014 (quando atendeu chamado do partido para concorrer ao Senado). Nessas alturas, o Tarso seria o nome. É um último esforço para que ele seja candidato. Acreditamos que teria possibilidade de vitória pela divisão do campo da direita. Mas é difícil, ele não parece estar afim — avalia um experiente petista, sob anonimato.
Para o secretário-geral do PT gaúcho, Carlos Pestana, a alternativa de apelar aos dois líderes históricos é pouco factível.
— O Tarso e o Olívio já colocaram que não tem essa disposição. Avalio que, pelo menos hoje, não está colocada uma reconsideração. Sinceramente, não acredito nessa possibilidade — comenta Pestana.
O PSOL avisou ao PT que não há chance de composição. Petistas desejavam ver Pedro Ruas (PSOL) concorrendo ao Senado na chapa liderada por Pretto, mas a hipótese foi descartada em contatos entre as direções. Ruas está confirmado como candidato ao Piratini e sua chapa será pura, com Neiva Lazzarotto a vice-governadora e Roberto Robaina ao Senado. A escalação será apenas referendada em convenção, no próximo domingo (24), da federação entre PSOL e Rede.
Na direção regional do PSOL, a análise é de que a sigla chegou ao seu limite ao concordar em apoiar o ex-presidente Lula (PT) desde o primeiro turno da eleição presidencial. Mais do que isso, asseguram líderes do partido, é impossível avançar.
A composição com o PSB, que nacionalmente tem Geraldo Alckmin como vice de Lula, também é cada vez mais improvável. As conversas, que já não eram auspiciosas, esfriaram nas últimas semanas. Pré-candidato do PSB ao Piratini, Beto Albuquerque atualmente tenta robustecer sua chapa com o apoio do PDT.
Apesar de as conversas com outras siglas serem escassas, dirigentes da federação PT/PCdoB/PV mantêm o discurso oficial de que irão buscar aliados até o final. A data da convenção foi alterada na reunião desta segunda–feira (18) para dar mais prazo aos eventuais contatos.
— Sugerimos que a convenção fosse adiada para o dia 31 de julho. Incialmente, seria dia 24. É uma semana a mais para articulação. Não vamos jogar a toalha — diz Juliano Roso, presidente estadual do PCdoB.
Pestana avalia que, nesta semana, terá de ser dada a última cartada para ampliar a coligação além da federação.
— Tem essa reunião entre PDT e PSB. Se não confirmar aliança, poderá nos reabrir uma possibilidade. A ideia é insistir com PSB e PSOL. Estamos concentrando esforços nessa semana. Caso não se concretize, vamos ter de avaliar na federação quais são os melhores nomes para a composição da chapa — avalia Pestana.
O petista, que foi um dos principais articuladores da última vitória do partido em uma eleição ao Piratini, em 2010, ressalta que a dificuldade em fazer alianças tem atingido candidatos de diversos campos, não sendo exclusividade da federação.
Dirigente regional do PV, Marcio Souza admite que entrou em discussão a composição da chapa majoritária somente com indicações da federação. Ele afirma que a legenda poderá apresentar um nome - provavelmente à suplência do Senado -, mas mantém os apelos por unidade.
— O PV se sentiria realmente representado se conseguíssemos, no primeiro turno, produzir a composição de centro-esquerda — avalia Souza.
Beto e Vieira se reúnem em Brasília
No espectro da esquerda e centro-esquerda, além de Edegar Pretto (PT) e de Pedro Ruas (PSOL), estão colocados como candidatos ao Palácio Piratini os ex-deputados federais Beto Albuquerque (PSB) e Vieira da Cunha (PDT). Eles se reúnem no final da tarde desta terça-feira (19), em Brasília, juntamente com os presidentes nacionais do PDT, Carlos Lupi, e do PSB, Carlos Siqueira.
Embora manifestem desejo de unir forças e montar um palanque competitivo para o presidenciável Ciro Gomes (PDT), Vieira e Beto sofrem com a indisposição de ambos em abrir mão da cabeça de chapa. O PSB entende que Beto aparece mais bem posicionado nas pesquisas e deveria ter preferência. Beto tem afirmado reiteradamente que só concorrerá se for a governador.
Já Vieira avalia que sua rejeição é menor, o que lhe daria maior potencial de crescimento. Além disso, uma chapa liderada pelo PDT é considerada importante para eleger bancadas estadual e federal.
— O que pega mais forte é a estrutura partidária. Temos 66 prefeitos. Somos um dos partidos com maior número de filiados no Estado. É difícil para o nosso pessoal (abrir mão da candidatura própria), o PSB tem números menores. Temos consciência da necessidade de união, mas não conseguimos evoluir no plano local. Quem sabe, com a participação dos presidentes nacionais, encontremos alguma fórmula. É a minha esperança — diz Vieira.
Com cenário inalterado desde o princípio das movimentações eleitorais, a centro-esquerda e a esquerda seguem tendo quatro pré-candidaturas ao Palácio Piratini. O temor dos dirigentes é de que a fragmentação cause a repetição do que ocorreu em 2018, quando o campo político ficou de fora do segundo turno do pleito ao governo gaúcho.