Disposta a virar votos na reta final e a atrair a atenção de eleitores que optaram por não escolher ninguém no primeiro turno, a candidata à prefeitura de Porto Alegre Manuela D'Ávila (PCdoB) percorreu, nesta quinta-feira (26), áreas da periferia da Capital. Acompanhada de representantes da comunidade e de lideranças petistas, ela dedicou a manhã a conversar com moradores da Vila dos Herdeiros, na divisa entre os bairros Agronomia e Lomba do Pinheiro.
Na região marcada por dificuldades, da falta de água a esgoto a céu aberto, Manuela pediu apoio e ouviu apelos por atenção. Não foram poucas as reclamações de pessoas cansadas de esperar respostas do poder público.
— Eu quero ver tu entrar lá no beco com o chinelo que eu uso. Falam, falam, falam. É sempre a mesma coisa. Mas lá falta tudo. A gente não aguenta mais — lamentou a desempregada Sandra Pimentel, 49 anos.
Sob o mormaço de 30°C, parada à beira da calçada esburacada e íngreme, a candidata deixou que a interlocutora terminasse o desabafo. Então, falou:
— Eu te dou razão. É por isso que quero tirar esses caras (referindo-se aos adversários) de lá (do comando da prefeitura). São sempre os mesmos há anos. Vota em mim e depois pode me cobrar.
Pouco antes, Manuela havia pedido licença para entrar na casa de tijolos à vista da aposentada Eva Domingos, 70 anos, chamada carinhosamente de Tia Eva por toda a vizinhança. No portão, um cartaz exibia a foto e o número do candidato a vereador Moisés Barboza, o Maluco do Bem, do PSDB, eleito no último dia 15.
— Tia Eva, conto contigo, hein? Conto contigo para a gente mudar as coisas — disse a ex-deputada.
De cadeira de rodas, na porta do casebre, a senhora negra de óculos e cabelos grisalhos sorriu e fez sinal de positivo com a mão. No primeiro turno, Eva votou no atual prefeito, Nelson Marchezan (PSDB).
— Agora eu vou com a Manuela. E eu voto mesmo, viu? — garantiu, apesar das dificuldades de locomoção e de já não ser obrigada a honrar o dever.
Satisfeita, Manuela seguiu avançando na vila, ora caminhando, ora no carro de som. Passou pela unidade de saúde local, por minimercados, distribuiu adesivos, escutou a história de uma moradora que perdeu tudo em um alagamento. Cumprimentou homens, mulheres e crianças, desmentiu fake news (entre elas o boato de que, se eleita, "fecharia igrejas"), posou para selfies e parou diante de uma escola de Educação Infantil.
Ao perceber a movimentação da campanha, a criançada se aproximou da grade, gritando o nome da candidata. Sorrindo por trás da máscara, Manuela chegou perto e ouviu pedidos inusitados dos pequenos:
— Eu quero um patinete!
— Eu quero massinha!
Achando graça, a postulante respondeu:
— Vocês estão achando que eu sou o Papai Noel, é? Eu sou candidata a prefeita de Porto Alegre e o que eu quero é mais crianças na creche.
Às professoras e funcionárias que acompanhavam a cena, Manuela assegurou que não acabaria com os estabelecimentos conveniados — o município de Porto Alegre oferta vagas na Educação Infantil por meio de duas modalidades: via rede própria (36 escolas municipais e sete jardins) e via escolas parceiras (em torno de 200).
— Pelo contrário. Eu quero é ampliar as vagas. Essa é mais uma mentira que inventaram por aí. Podem dizer nos grupos de Whats de vocês, gurias — pediu a ex-deputada, antes de seguir para a próxima atividade.
Ao longo do dia, Manuela ainda faria uma caminhada na Lomba do Pinheiro, participaria de encontro com comerciantes locais e percorreria o Morro da Cruz. No fim do dia, deve participar de uma sabatina com veículos de imprensa, de uma reunião com a missão eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) e, à noite, de uma sequência de lives (transmissões ao vivo) nas redes sociais.