Do alto do carro de som, na zona norte da Capital, a candidata à prefeitura de Porto Alegre Manuela D'Ávila (PCdoB) recebeu a confirmação, na manhã desta quarta-feira (11), de que o adversário e ex-prefeito José Fortunati (PTB) havia renunciado à candidatura. Ao ser informada da decisão, que pode alterar os rumos da eleição, a ex-deputada reagiu com lamento e expressão séria no rosto coberto pela máscara.
Mais tarde, disse lastimar o desfecho, afirmou ter respeito por Fortunati e, diante das dúvidas sobre o destino dos votos do oponente, enumerou pontos em comum entre ambos os programas de governo.
Na última segunda-feira (9), o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) indeferiu o registro do vice de Fortunati, André Cecchini (Patriota), deixando a chapa toda sub judice. A decisão foi tomada a partir de recurso do candidato a vereador Luiz Armando de Oliveira (PRTB), que integra a coligação de Sebastião Melo (MDB).
Na ação, Oliveira alegou que Cecchini não estava filiado ao Patriota no prazo legal para concorrer, de seis meses antes da eleição. Por pressão do PTB, que passou a discutir possível apoio ao MDB nos bastidores, e para evitar insegurança jurídica às vésperas da votação, Fortunati abdicou da candidatura.
— Primeiro, acho muito lamentável essa judicialização da eleição aqui em Porto Alegre. Realmente, a nossa candidatura fez a opção de manter o nível e de não tentar vencer de nenhuma outra maneira que não seja construindo o apoio junto à população — destacou Manuela, ao final do ato de campanha, que durou cerca de uma hora.
Embora a ex-parlamentar tenha apontado diferenças em relação a Fortunati, também destacou semelhanças e fez um aceno, ainda que comedido, aos eleitores do ex-prefeito — vale lembrar que Fortunati vinha em empate técnico no segundo lugar nas pesquisas, junto de Melo e de Nelson Marchezan (PSDB).
À frente dos levantamentos, Manuela sabe que os votos de Fortunati são valiosos na reta final da campanha. Medindo as palavras, evitando entrar em polêmicas, ela disse que há pontos em comum entre as duas candidaturas:
— Temos diferenças, Fortunati e eu. Temos posicionamentos distintos sobre alguns temas, mas ele tem uma trajetória que faz com que assuma compromissos durante a candidatura, por exemplo, com o Orçamento Participativo, com o tema da vacinação como um elemento central, com o tema do microcrédito. Acho que a origem dele fez com que o programa dele tivesse uma conexão conosco e talvez a população perceba assim nos próximos dias.
Antes de deixar a zona norte da Capital para "peparar comida para a Laura", sua filha de cinco anos, Manuela ainda destacou a boa relação que sempre manteve com o adversário.
— Repito: lamento que ele não esteja nas urnas, inclusive pela dignidade com a qual me tratou nos debates que tivemos. Para mim, não é pouca coisa o gesto dele de ter sido o candidato que denunciou a violência machista que se organiza nos debates contra mim — reforçou a candidata.
Durante a atividade na Avenida Assis Brasil, Manuela pediu que as pessoas não deixem de votar no próximo domingo. Passou por cabos eleitorais de uma candidatura do PSL e ouviu gritos de "Bolsonaro, Bolsonaro". Na calçada, um homem se negou a receber um panfleto da equipe da campanha, dizendo "sai fora, imagina, nunca!", mas, na maior parte do trajeto, a ex-deputada recebeu acenos e palavras de apoio.
— Bom dia, pessoal do Espetão! Trabalhando firme e forte para vencer a crise — falou Manuela, dirigindo-se aos funcionários de uma churrascaria local.
— Que cheiro bom — complementou o candidato a vice, Miguel Rossetto, que acompanhou o ato.
Logo à frente, um casal de namoradas abanou para os companheiros de chapa. Rochelle Gomes, 19 anos, bateu no peito e sorriu. Ao seu lado, Inaê Machado, 21 anos, repetiu o gesto. Do carro de som, Manuela viu as duas garotas de mãos dadas e deu o seu recado, sob o olhar atento de homens e mulheres.
— Obrigada, meninas! Vamos construir uma cidade em que toda forma de amor valha a pena. No domingo, vamos votar — reforçou a postulante.