A igualdade entre homens e mulheres na política ainda é um desafio no Brasil, onde os espaços de poder seguem eminentemente masculinos. Ainda que o Estado já tenha tido uma governadora, isso vale para o Rio Grande do Sul também.
GZH perguntou a cinco mulheres que já deixaram a vida pública que conselho elas têm a dar para as candidatas que estão entrando para a política nessas eleições. Confira o resultado.
Clenia Maranhão, vereadora de Porto Alegre pelo PMDB e PPS entre 1993 e 2008 e secretária municipal de Coordenação Política e Governança Local na administração de José Fogaça.
“É importante que as mulheres eleitas criem redes entre elas, pois há temas que podem ser tratados com mais prioridade por mulheres de bancadas diferentes, como o direito da criança e do adolescente e a violência doméstica. Hoje a gente chama isso de sororidade, na minha época a gente não usava essa palavra. Me orgulho muito de ter trabalhado com mulheres vereadoras em muitos momentos da Câmara, fizemos várias coisas juntas. Também é importante saber que vai haver momentos difíceis, mas somos capazes de vencer. Nesses momentos, a gente tem que ter mais tranquilidade.”
Esther Pillar Grossi, deputada federal pelo PT em 1995 a 2002 e secretária municipal de Educação de Porto Alegre de 1989 a 1992.
“Quero dizer que é realmente um lugar próprio para nós. Eu me senti muito bem nesse meio. Mas é claro que a gente precisa estar atenta ao machismo, às vezes os colegas querem nos diminuir. É incrível os dados de feminicídio, nossas candidatas têm que estar atentas a isso também. Tem mulheres que se esquivam de entrar na política por causa da família. Mas se a gente der ouvido a todas as críticas, a gente sucumbe. A política só se beneficia com a presença das mulheres, com a nossa sensibilidade. Eu cumprimento que tem coragem de se apresentar, que possa contribuir para que a política perca essa pecha ligada à corrupção.”
Dercy Furtado, primeira mulher eleita para a titularidade da Câmara e vereadora mais votada em 1972, pela Arena. Foi também a terceira deputada na Assembleia Legislativa, em 1975.
“Como eu era a única mulher, não existia ainda banheiro feminino na Câmara, tudo era para os homens lá. Mas eu fui mudando e levando a contribuição feminina. Acredito que a mulher tem que lutar pela justiça social, pelo bem-estar, por salários justos, luta que é praticamente a mesma que a dos homens. Mas há algumas nuances diferentes. Por exemplo, na minha época, nós propusemos uma delegacia para mulheres. É importante focar na promoção da mulher, no direito da criança, na criação de creche para os filhos, para que possa trabalhar.”
Maria do Carmo Bueno Garcia, eleita deputada estadual pelo PPB em 1994 e reeleita em 1998. Em 1990, chegou a concorrer a vice-governadora na chapa de Nelson Marchezan (PDS) e, em 1996, disputou a prefeitura de Porto Alegre.
“Seja autêntica. Firme. Defenda seus princípios. Lembre-se que a sociedade muda na medida em que muda a mulher. Portanto, vá à luta com determinação. É fundamental para aquelas mulheres que desejam participar da política o compromisso da verdade. Ter postura, seriedade, respeito com o eleitor. Não prometer o que não vai cumprir. Não entrar para a política somente pensando em dinheiro e poder, senão estará sendo mais uma parlamentar do time dos que não estão nem aí para o povo. Ética na política não é uma simples frase. É postura. É caráter. É honestidade e retidão. Para ser simplesmente mais uma, não vale a pena. O povo não merece.”
Mariza Abreu, ex-diretora do Cpers, ex-secretária de educação de Caxias do Sul e do RS, consultora legislativa na Câmara dos Deputados e suplente de vereadora pelo PPS em 1992.
“As mulheres que entram para a política têm que ser muito fortes, mas é importante que tragam sua percepção para a atividade política, seu olhar mais sensível. Especialmente nas tarefas da prefeitura, que tem uma ação de cuidado direto com as pessoas na educação, na assistência social, na mobilidade. Minha dica para as mulheres que estão concorrendo é conseguir deixar claro o que vai trazer de diferente. Dizer: eu defendo as bandeiras do meu partido, mas meu diferencial é este.”