GZH provocou os 13 candidatos à prefeitura de Porto Alegre a se posicionarem de forma curta, clara e direta sobre assuntos controversos da Capital. Na série de reportagens Vida Real, primeiro é apresentado ao leitor um panorama sobre o tema. Logo a seguir, você confere o que cada um respondeu.
Acostumados a divergir em muitas áreas, os candidatos a prefeito de Porto Alegre nas eleições de 2020 tendem a concordar sobre um tema ligado à saúde: a importância de ampliar o horário de unidades básicas de atendimento.
A maioria pretende dar sequência a um projeto que estende o horário de fechamento até as 22h, como já ocorre em oito pontos da cidade. A iniciativa é considerada um meio de facilitar o acesso da população aos serviços de saúde, mas exigirá recursos e planejamento do futuro gestor. O custo mensal para acrescentar um turno de trabalho em cada local e atingir esse horário oscila entre R$ 500 mil e R$ 600 mil, o que representa mais de R$ 6 milhões anuais em um cenário de dificuldades econômicas agravadas pela pandemia de coronavírus. Também será preciso enfrentar questões práticas como a violência urbana para cumprir a promessa.
A importância de estender o horário é confirmada por números: desde o ano passado, foram prestadas mais de 250 mil consultas no período entre 18h e 22h nas unidades que passaram a operar até mais tarde no município. Além disso, no turno estendido, uma pessoa de qualquer região pode buscar auxílio em qualquer local, mesmo que não seja na sua área de referência.
Além dos oito postos abertos até as 22h, a Capital conta hoje com 23 unidades com funcionamento estendido de 12 horas, fechando às 19h ou às 20h. A ampliação até as 22h em oito pontos foi um compromisso da atual gestão e exigiu cerca de três anos para ser atendida na íntegra.
Hoje, funcionam na Capital por esse sistema os postos Morro Santana e Belém Novo (os mais recentes, localizados nos bairros homônimos), além do Modelo (Santana), Tristeza, Diretor Pestana (Humaitá), Ramos (Rubem Berta), São Carlos (Agronomia) e Primeiro de Maio (Cascata).
Um dos desafios para dar novo fôlego ao projeto é o custo, já que a ampliação, conforme informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), exige a contratação de pessoal — e 85% das despesas de uma unidade desse tipo correspondem a recursos humanos. Conforme nota da SMS, no turno estendido é necessário contar com "entre cinco e seis equipes de saúde da família, mais uma equipe de atenção primária". No mínimo, exige R$ 500 mil mensais.
O contexto é agravado pela pandemia, que, segundo o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcelo Matias, deverá exigir mais recursos do município ao longo de 2021 em outras áreas:
— A ideia de ampliar o horário dos postos é interessante para a comunidade e para a categoria dos médicos, já que permite abrir horário para outros trabalhos. Mas a pandemia deverá transferir para o ano que vem muita demanda reprimida por diagnósticos e tratamentos que deixaram de ser feitos. Isso vai exigir muito esforço — analisa Matias.
Mesmo uma ampliação mais modesta, até 19h ou 20h, precisará de planejamento cuidadoso. Outro fator que limita a expansão do atendimento, em algumas regiões da cidade, é a pressão exercida pela violência urbana. Esse é um dos fatores já levados em conta na decisão sobre que pontos serão contemplados pelo turno estendido, além de proximidade com transporte público e movimentação no entorno.
Representantes da comunidade confirmam essa situação, que exigirá combinação entre as áreas da saúde e da segurança.
— Isso é um problema. Seguidamente, mesmo em horário normal, temos situações em que o posto precisa fechar por problemas de violência, tentativa de assalto nas proximidades, essas coisas. À noite, então, a situação piora muito — afirma a integrante do Conselho Local de Saúde e moradora da zona norte da Capital Roselaine Pádua.
O que pensam os candidatos
GZH fez aos 13 candidatos à prefeitura de Porto Alegre a seguinte pergunta:
Caso seja eleito, você vai ampliar o número de postos com horário estendido? Em quantos?
Fernanda Melchionna (PSOL): "Sim. E farmácias, laboratórios, centros odontológicos e de atendimento psicossocial."
Gustavo Paim (PP): "Nossa meta é dobrar a quantidade de postos com horário estendido. É possível fazer."
João Derly (Republicanos): "Manteremos as oito. E os outros terão horário adequado à demanda local, que varia."
José Fortunati (PTB): "Sim. Sancionei a lei que trouxe a ampliação. Novos dependem da situação financeira."
Juliana Brizola (PDT): "Sim. É nossa prioridade, na saúde, ampliação massiva do horário dos postos de saúde."
Júlio Flores (PSTU): "Ampliar, com decisão dos Conselhos Populares. Concurso público e jornada de 30 horas."
Luiz Delvair (PCO): "A saúde deve ser pública e de qualidade e oferecida 24 horas por dia."
Manuela D’Ávila (PCdoB): "Sim, haverá mais postos com horário estendido, nos locais com piores indicadores de saúde."
Montserrat Martins (PV): "Os postos fechados em plena pandemia têm de ser reabertos. E o horário, ampliado."
Nelson Marchezan (PSDB): "Já ocorre. Até 2021 serão 43 unidades abertas no mínimo 12 horas ao dia."
Rodrigo Maroni (PROS): "Vamos ampliar em todos os postos que os servidores que atendem achar necessários."
Sebastião Melo (MDB): "Sim, vamos ampliar. E vamos trabalhar para reabrir os postos que fecharam."
Valter Nagelstein (PSD): "Uma promessa que não se cumpriu. Pretendemos aumentar em 25% a oferta já existente."