A disputa pela prefeitura de Porto Alegre se aproxima da reta final do primeiro turno com as quatro candidaturas melhor posicionadas na mais recente pesquisa Ibope dispostas a não arriscar mudanças bruscas. A ordem nos comitês de Manuela D’Ávila (PCdoB), Nelson Marchezan (PSDB), Sebastião Melo (MDB) e José Fortunati (PTB) é reforçar a biografia dos candidatos, suas realizações e a apresentação de propostas.
É consenso entre os coordenadores de campanha que a pandemia atrasou o processo de definição do voto. A propaganda cada vez mais restrita, combinada com a escassa movimentação dos cabos eleitorais nas ruas e os poucos debates entre os candidatos, diminuíram a frequência das conversas sobre política, seja no trabalho ou em casa.
A partir desse diagnóstico, todos pretendem evitar reviravoltas na estratégia justamente no momento em que o eleitor está fazendo sua escolha.
À frente da campanha de Manuela, o cientista político Juliano Corbellini acredita que a manutenção da estratégia irá garantir a vaga no segundo turno. Líder nas pesquisas desde o início da campanha e agora com 27%, praticamente o dobro de intenção de votos que o segundo colocado, segundo o Ibope, Manuela tem feito uma campanha propositiva e focada nas carências estruturais do pré e pós-pandemia.
Com uma trajetória de combatividade política e alvo de inúmeras fake news, ela tem evitado ataques aos demais candidatos, críticas ao governo federal e até mesmo exibir marcas tradicionais do PCdoB, como a foice e o martelo que simbolizam o comunismo. A aliança com o PT e o vermelho característico do partido também são presenças raras na propaganda de rádio e TV. Na pesquisa Ibope divulgada quinta-feira (29), Manuela cresceu três pontos em relação ao levantamento anterior, de 5 de outubro.
— A Manuela nunca teve postura beligerante em campanhas. Em 2008 e 2012, quando também disputou a prefeitura, já tinha muito roxo e a questão feminina. A linha de apresentar propostas e soluções foi concebida no início da campanha e estamos verificando uma adesão crescente. Não vamos mudar e acredito que essa linha vai nos consolidar no primeiro lugar. A proposição é de diálogo amplo e isso está claro, na forma e no discurso — afirma Corbellini.
Logo atrás de Manuela, Marchezan e Melo surgem empatados com 14% na aferição do Ibope, seguidos de perto por Fortunati, com 13%. Alvo de um processo de impeachment na Câmara de Vereadores, o atual prefeito tenta se descolar do grupo mostrando as ações de seu governo e se dizendo vítima de um complô para tirá-lo da eleição. Alvo preferencial dos adversários no início da campanha, ele reagiu exibindo o cumprimento de promessas e o arquivamento de denúncias.
Nas próximas semanas, a ideia é projetar o futuro. De acordo com o coordenador da campanha, o publicitário Fábio Bernardi, parte da propaganda será usada para exibir as realizações que o tucano pretende conduzir num eventual segundo mandato. As caminhadas pela cidade, marca da campanha exitosa de 2016, devem acabar.
— Vamos mudar mais a forma de dizer as coisas do que o conteúdo. Agora, todos nossos adversários caminham na propaganda, então nós paramos de caminhar. Mas não tenho porque interromper algo que está nos ajudando, como as conquistas na saúde e na educação. Temos margem para crescer e menos propensão de perder votos nessa reta final — pontua Bernardi.
Vice-prefeito de Fortunati entre 2013 e 2016 e derrotado por Marchezan no segundo turno da eleição passada, Melo também precisou usar a propaganda para lembrar os eleitores de sua atuação na cidade. Após começar a campanha apresentando um plano emergencial pós-pandemia, baseado em ações na saúde e na economia, o emedebista verificou em pesquisas qualitativas que precisava ressaltar o próprio currículo.
Nessa reta final, a ideia é seguir formulando propostas para setores estruturais e com foco nas urgências cotidianas da população, como creches e postos de saúde. Na perspectiva pessoal, a propaganda vai mostrar Melo como o candidato mais próximo dos porto-alegrenses.
— A campanha está consolidada e seguirá a mesma linha. Mostramos como sair da crise e reforçamos a biografia. O resultado do Ibope confirma tendência de crescimento e as avaliações positivas demonstram a consolidação do Melo como candidato competitivo. Na reta final vamos mostrar como ele vai modernizar a prefeitura e promover o crescimento econômico da cidade — diz a coordenadora de comunicação, a jornalista Isara Marques.
No comitê de Fortunati — único entre os primeiros colocados a registrar queda em relação à pesquisa anterior, ainda que dentro da margem de erro — a orientação continua a mesma: apresentar o ex-prefeito como um gestor preparado para atender aos desafios econômicos e sanitários impostos pela pandemia. Após quatro anos afastado das discussões políticas locais, o petebista usou a primeira etapa da propaganda para reativar a memória dos eleitores sobre suas realizações no período em que administrou a Capital.
Segundo o coordenador da campanha, o jornalista Marcos Martinelli, o objetivo agora é mostrar que Fortunati tem experiência e capacidade de aglutinação política para conduzir a cidade nos próximos quatro anos. Martinelli lembra que apenas Manuela está com vaga praticamente garantida no segundo turno, mas destaca que o Ibope mostra Fortunati como o candidato capaz de derrotá-la com mais facilidade na fase decisiva da eleição. Ele inclusive já tem um bordão para o segundo turno contra a candidata do PCdoB. A ideia é dizer aos eleitores que "agora é TU ou ela", num jogo de palavras que destaca o pronome pessoal encaixado como sílaba no nome de Fortunati.
— Ele foi o último a entrar na campanha e teve de enfrentar muitos ataques. Isso nos fez atuar em duas frentes: defender e apresentar propostas. Agora vamos mostrar que ele tem experiência, liderança e principalmente as melhores condições de vencer o segundo turno — comenta Martinelli.