A menos de três semanas do primeiro turno das eleições 2020, partidos de centro e direita lideram a corrida pelas prefeituras das capitais no Brasil. As mais recentes pesquisas realizadas por Ibope ou Datafolha indicam que MDB, PSDB e DEM reúnem a maior parte dos candidatos à frente na preferência do eleitorado nas grandes cidades brasileiras. Na esquerda, o PSB aparece como principal força e assume um protagonismo que antigamente cabia ao PT.
Quando se dividem os partidos por orientação ideológica, as siglas de direita somam 15 concorrentes com liderança nas pesquisas, contra 13 de partidos de centro e 10 à esquerda. O MDB tem a maior quantidade de favoritos, com seis nomes, seguido por PSDB e DEM, com cinco cada um. O PSB aparece na sequência, com quatro candidaturas, ao lado do Podemos.
Para o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Peres, o cenário das eleições municipais em 2020 reflete duas tendências. Uma, de longo prazo, envolve a capilaridade de partidos de centro como PMDB e PSDB — que costuma ajudar em campanhas de caráter local e favorecer esses partidos tradicionais. Outra, mais recente, tem relação com o desempenho eleitoral da esquerda.
— A esquerda vinha crescendo no Brasil, em termos de organização partidária e conquista de prefeituras, se espalhando pelo Nordeste. Mas começou um refluxo após 2010 e, em 2014, já tivemos uma eleição presidencial muito parelha. O que veio depois, com denúncias de corrupção e o impeachment (de Dilma Rousseff), criou um ambiente mais favorável para o discurso de direita atualmente — avalia Peres.
No momento, o PT conta com apenas um candidato líder nas pesquisas: João Coser, de Vitória (ES), empatado com Fabrício Gandini, do Cidadania. É uma situação bem diferente em comparação a 2008, quando o Partido dos Trabalhadores arrematou a maior quantidade de capitais (seis), ao lado do MDB.
— A esquerda não conseguiu fazer um processo de renovação. Quem pode sair mais fortalecido dessas eleições talvez seja o PSOL, não em número de prefeitos, mas de vereadores, porque começa a ocupar o espaço que era do PT entre os jovens — analisa o cientista político e professor da UFRGS Rodrigo Stumpf González.
Na eleição municipal passada, de 2016, o PSDB foi a sigla com mais capitais conquistadas. Foram sete vitórias, incluindo centros importantes como São Paulo e Porto Alegre. A seguir figurava o MDB, com quatro. Partidos de esquerda vinham em seguida, por meio do PDT (três capitais) e do PSB (duas), com sua força concentrada no Nordeste.
O cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro Sérgio Praça faz a ressalva de que eleições municipais devem ser analisadas com cautela porque costumam depender em maior grau de fatores e líderes locais. Mas, de forma geral, Praça percebe uma maior pulverização de forças, com novos partidos ganhando peso:
— Não consigo enxergar grandes vitoriosos em termos partidários. Há uma pulverização que não chega a ser novidade, porque as eleições municipais dependem muito das forças políticas locais.
Podemos, PSD e Cidadania também figuram na lista de siglas com mais de um favorito, enquanto outros nove partidos têm um candidato à frente nas pesquisas — seja de forma isolada ou em empate técnico com um ou mais adversários.
Favorecem essa pulverização, além do recuo eleitoral do PT na esquerda, as dificuldades internas do PSL. A sigla, que elegeu e perdeu Jair Bolsonaro, prometia concentrar boa parte dos novos votos da direita brasileira. Mas crises internas e a desfiliação do presidente fizeram com que o partido se desestruturasse e perdesse votos e candidatos. No momento, nenhum concorrente pelo PSL desponta como favorito nas principais cidades do país.
Em ano de pandemia, candidatos à reeleição mostram força
A pandemia pode ter contribuído para valorizar o desempenho dos atuais prefeitos em busca de reeleição nas capitais. De 13 gestores que lutam para renovar o mandato, 11 figuram nas primeiras posições das pesquisas de forma isolada ou em empate técnico.
Somente no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, onde Marcelo Crivella (Republicanos) e Nelson Marchezan (PSDB) buscam mais quatro anos, as sondagens de opinião apontam outros concorrentes na liderança.
Uma das razões para o bom desempenho geral é que os atuais ocupantes das cadeiras geralmente têm vantagens sobre os demais.
— O candidato à reeleição já tem uma imagem pública, o que se torna ainda mais importante em uma campanha com tantas limitações em razão da pandemia — opina o cientista político Rodrigo González.
Mas um fator pontual também pode estar auxiliando os atuais gestores: o combate ao coronavírus, que ampliou os holofotes sobre as ações adotadas pelas administrações municipais.
— Bruno Covas (PSDB), em São Paulo, dava entrevistas diárias e projetou imagem de liderança preocupada com a população. Mas é uma faca de dois gumes. Em Porto Alegre, Nelson Marchezan parece não ter agradado muito nem a quem queria fechar tudo, nem a quem queria abrir tudo — diz González.
Covas, segundo a pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (22), ultrapassou Celso Russomanno (Republicanos) e aparece com 23% contra 20%. No Rio, Marcelo Crivella (Republicanos) tem 13% contra 28% de Eduardo Paes (DEM). Em alguns casos, como em Belo Horizonte, a eleição está praticamente decidida: o atual prefeito, Alexandre Kalil (PSD), soma nada menos do que 60% das intenções de voto.
Outras situações confortáveis aos favoritos ocorrem em Curitiba (PR), onde o prefeito Rafael Greca (DEM) aparece com 46% nas pesquisas, e em Florianópolis, com Gean Loureiro (DEM) com 44%.
DEM e PSB crescem à sombra dos maiores partidos
À sombra das maiores siglas nacionais, dois partidos demonstram força crescente nas eleições das capitais brasileiras em 2020 — um à direita, outro à esquerda. DEM e PSB, respectivamente, ocupam a terceira e a quarta posição no ranking dos partidos com maior número de favoritos conforme as pesquisas realizadas nas capitais.
Depois de passar por um período de enfraquecimento, durante os governos Lula e Dilma, o DEM confirma sua recuperação e emplaca cinco favoritos incluindo centros importantes como Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador.
— O DEM é um dos partidos que sobreviveu bem ao baque provocado pela Lava-Jato e conseguiu crescer depois disso — afirma o cientista político e professor da FGV Sérgio Praça.
A sigla também é auxiliada por contar com figuras nacionais como os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Em Macapá (AP), o partido tenta emplacar o irmão de Davi, Josiel Alcolumbre, na prefeitura. Ele lidera as pesquisas em empate técnico com outros três nomes.
Já na esquerda, o PSB ocupa um espaço que já coube ao PT como principal força nas eleições municipais das capitais. Tem quatro favoritos, dois no Nordeste (Maceió e Recife) e dois no Norte (Rio Branco e Macapá, em empate técnico).
— O PSB é mais forte no Nordeste, onde Miguel Arraes (ex-governador pernambucano, falecido em 2005) foi um dos idealizadores. Mas o partido vem em um crescimento gradativo, auxiliado pelo declínio do PT — analisa o cientista político Paulo Peres.
Peres lembra que outros partidos de esquerda também podem sair fortalecidos, como o caso do PCdoB, que no momento lidera a disputa pela prefeitura de Porto Alegre com Manuela D’Ávila.
O Podemos é outro partido que se destaca nas pesquisas, com quatro candidatos favoritos em São Luís (MA), Cuiabá (MT), Manaus (AM) e Macapá (AP).