O eleitorado gaúcho está mais maduro, feminino e instruído. Desde a última disputa municipal, em 2016, as três características vêm se acentuando, em especial o envelhecimento do contingente apto a votar. O perfil do eleitor é um dos aspectos levados em conta por partidos, estrategistas de campanha e Justiça Eleitoral para avaliar os desafios do comparecimento às urnas em meio à pandemia do coronavírus.
A partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é possível identificar a mudança sutil em curso no perfil dos votantes no Estado, que também se desenha no cenário nacional. Em quatro anos, a quantidade de jovens eleitores de 16 a 24 anos caiu 17,3% no Rio Grande do Sul. A redução na parcela de 16 e 17 anos, cujo voto é facultativo, foi ainda mais forte (62,3%), superando a queda observada na população, o que sugere maior desinteresse pela política.
Na outra ponta, o grupo de eleitores acima de 60 anos avançou 16,2%, praticamente uma Santa Maria inteira em números absolutos. Embora a faixa da meia-idade ainda seja prevalente, os idosos respondem, em 2020, por 25% do total de eleitores no Estado, enquanto os mais novos representam 11,4% (veja os gráficos no fim do texto).
Nada disso surpreende quem trabalha com demografia. A inversão, diz Pedro Zuanazzi, diretor do Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão, tem conexão direta com a dinâmica populacional.
— O aumento da expectativa de vida e a baixa taxa de fecundidade entre os gaúchos colaboram para esse resultado. Desde os anos de 1990, os casais vêm tendo menos filhos, o que reduz o número de jovens. Ao mesmo tempo, entre 2016 e 2018, a expectativa de vida atingiu 76,89 anos no Estado, uma das mais altas do país — afirma Zuanazzi.
A longevidade é ainda maior entre as mulheres, o que explica a preponderância no eleitorado — elas vivem mais. Não seria exagero supor que caberá às eleitoras veteranas papel definidor na votação de novembro. Isso vale tanto para as “balzaquianas”, como aponta o demógrafo José Eustáquio Alves (leia mais detalhes nesta entrevista), quanto para aquelas que exibem rugas e cabelos brancos.
O desafio, ressalta a cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), é garantir a presença dos votantes no pleito que se aproxima. Em sondagens diárias, realizadas em diferentes municípios, as equipes lideradas por Elis têm detectado ampla sensação de incerteza. O sentimento, segundo ela, não se restringe à porção mais velha do eleitorado, que não é obrigada a votar a partir dos 70 anos. Atinge, também, a mais nova, de até os 25 anos.
— Não podemos esquecer da pandemia. Os jovens e os idosos são os que estão em isolamento. O que isso tem a ver com o voto? Eles não vão votar se não se sentirem seguros. Nas nossas pesquisas, a perspectiva de abstenção chega a 20% entre os mais novos e a 30% entre os mais velhos. Além disso, há um sentimento grande de negação da política, que se ampliou com o coronavírus — relata a especialista em comportamento eleitoral.
O fato de ter melhorado o nível de instrução dos votantes nos últimos quatro anos (há mais gente com Ensino Médio e Superior completos do que em 2016) também pode contribuir para torná-los mais questionadores. Elis diz que o eleitorado demonstra ceticismo, independentemente da faixa etária, o que exigirá mais do que boa lábia e promessas fáceis de quem deseja se eleger prefeito ou vereador.
— Temos percebido, em campo, que as pessoas estão cansadas e receosas. Querem saber como será o dia da eleição. Se ficarão expostas, se haverá filas e aglomerações. Não vão se arriscar por pouco — afirma a socióloga.
Em tempos de coronavírus, sairá em vantagem o candidato que conseguir tirar o eleitor de casa para votar. Seja ele quem for.