Candidato a vice na chapa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o general Hamilton Mourão (PRTB) afirmou nesta sexta-feira (19), em entrevista à Rádio Gaúcha, que chapa desconhecia apoio ilegal de empresários, revelado pelo jornal Folha de S.Paulo na quinta-feira (18).
— Eu só tomei conhecimento pela reportagem da Folha. O que a gente verifica é a verdadeira histeria que ocorre dentro das redes, com troca de ofensas e desaforos para tudo que é lado — afirma Mourão.
A reportagem da Folha, divulgada na última quinta, afirma que empresários que apoiam a candidatura do capitão estariam pagando por pacotes de milhares de mensagens com notícias falsas contra o PT no aplicativo. O contrato dos disparos de milhões de mensagens chegariam até R$ 12 milhões.
— Eu acho que isso é um clima que não ficou bom para nossa campanha — admitiu Mourão, em meio a ações de partidos de oposição que recorreram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a candidatura de Bolsonaro — se por acaso algum empresário fez isso, terá que ser investigado — pontuou.
Leia a entrevista na íntegra:
Qual é o seu papel como vice? Deve assumir ministério?
Eu julgo que o vice-presidente é um assessor especial do presidente, próximo dele. Em todas aquelas tarefas que o presidente julgar que o vice deva atuar, ele tem de estar em condições de fazer isso. E também de agir na defesa dos interesses, das ideias que estão sendo colocadas pelo presidente.
Mas o senhor olharia para o ministério e pensaria numa pasta, por exemplo, para ajudar?
Não, não. Não vejo desse jeito. Acho que o vice é um assessor direto. O ministério deixa para quem está, quando está.
Gostaria que o senhor explicasse essa proposta que está no plano de governo de Bolsonaro, de criação de uma carteira de trabalho verde e amarela, diferente da azul, que seria opcional para os trabalhadores que concordassem em trabalhar em contratos diretos que não regidos pelas atuais leis trabalhistas. Como isso funcionaria na prática?
Sabemos que nossa legislação trabalhista tem ainda um viés do passado em que havia, vamos dizer assim, uma certa exploração em cima do trabalhador e que acaba engessando a relação entre o empregador e seu empregado. A carteira verde e amarela, na visão do Bolsonaro, serviria para destravar esse jogo, para haver maior liberdade no contrato entre o empregador e o empregado, sem as regras mais rígidas da CLT. Eu vejo como uma forma de tentar até abrir o mercado de trabalho e absorver essa grande parcela de desempregados que temos hoje.
Mas não haveria risco de as empresas não quererem mais empregar trabalhadores com a carteira azul com esses direitos trabalhistas que existem na legislação, mesmo após a modificação, e só contratarem quem aceitasse esse contrato direto?
O risco sempre vai haver, e isso deve ser medido. E obviamente que isso é um projeto, né? Tem de passar pelo Congresso. O presidente não pode fazer isso (criar a carteira de trabalho verde e amarela) por uma canetada. Terá de ser negociado no Congresso e, eventualmente, pode nem ocorrer.
Em relação àquelas declarações que o senhor deu no interior do RS, sobre o 13º salário e o abono de férias (em evento em Uruguaiana, o general criticou o pagamento dese benefícios) no final das contas, Bolsonaro lembrou da Constituição e disse que não deverão ser modificadas. Qual é a sua opinião?
O que eu coloquei naquela ocasião, lá em Uruguaiana, é a questão do planejamento, que tanto empresas quanto governo tem de ter para fazer frente a essa despesa, porque quem não planeja isso corretamente acaba por não pagar ou paga atrasado como vemos em diversos governos estaduais. E, obviamente, fiz uma referência com o meu linguajar, que causou um mal-entendido, ah “O general Mourão quer acabar com o 13º salário e com férias”. Não, eu não posso acabar com isso. Eu apenas lembrei àquelas pessoas que estavam lá que, se não se planejassem, não cumpririam com o que está estabelecido na legislação.
O senhor levaria adiante essa ideia caso eleito?
Não, em absoluto. Isso é uma questão que, cláusula constitucional não dá para mexer. Acho que nós temos outros problemas para resolver antes disso.
Naquele mesmo dia, o candidato Bolsonaro lhe desautorizou, o senhor ficou incomodado com isso?
Não, não fico não, de jeito nenhum. Não faz parte da minha forma de agir. O Bolsonaro é o candidato, sou apenas um apêndice aí da chapa. As pessoas estão votando nele, não em mim.
Sabemos no Brasil o quanto o vice é relevante, basta ver a nossa história. Por isso mesmo a sua opinião é muito importante neste momento. Sobre a Reforma da Previdência, o senhor conversou com pessoas do mercado e vem falando desse assunto. Se Bolsonaro for eleito, essa é a primeira reforma que vão encaminhar ao Congresso?
Julgo, mas essa é a minha opinião, que esta é a primeira atividade, a prioritária. Inclusive, nós temos uma que está parada aí, que é obra do governo Temer. O Bolsonaro vai analisar isso, os assessores estão colocando os diversos fatores para ele decidir, mas a minha visão, conhecendo orçamento da União e a situação em que se encontra, é que vamos ter de partir para uma reforma. É um problema que tem que ser encarado, não pode haver fuga disso, teremos de trocar o motor do avião com ele voando. Todo mundo está trabalhando, todo mundo tem expectativa e nós teremos de buscar um equilíbrio, atendendo o interesse do trabalhador e a capacidade que o Estado tem para gerenciar isso aí.
Nessa reforma da Previdência, entrariam os militares? Nos estados, uma das reclamações dos governadores é que os policiais se aposentam muito cedo. No caso do RS, temos coronéis aposentados com menos de 50 anos. O senhor vê necessidade de uma reforma nessas aposentadorias especiais, e neste caso, já incluindo os professores, que também tem regime diferenciado?
Todos os estudos foram feitos, e concordo que a pessoa se aposentar com menos de 50 anos hoje é inviável. Antigamente, o cara com 50 anos tinha perdido parte da sua capacidade. Hoje, tenho 65 e não me sinto um ancião, por assim dizer.
Julgo que esta extensão da idade tem de atingir as Forças Armadas também. Isso implica, obviamente, em uma carreira estratificada, como é a militar, algumas mudanças. Nós, dentro das forças armadas, estamos preparados para absorver isso aí. Todos os estudos foram feitos, e concordo que a pessoa se aposentar com menos de 50 anos hoje é inviável. Antigamente, o cara com 50 anos tinha perdido parte da sua capacidade. Hoje, tenho 65 e não me sinto um ancião, por assim dizer.
Qual é a medida mais necessária para diminuir a criminalidade e aumentar a sensação de segurança no país?
Temos um exemplo aqui que é o trabalho da intervenção militar que está sendo feito no Rio de Janeiro. Ela demonstrou que, no momento em que se investiu realmente nas polícias — porque se trouxe gente que estava fora da atividade policial cedida para outros órgãos – se readestrou a força policial. O camarada se forma dando 10 tiros e depois não atira nunca mais. Uma reorganização dentro da própria Secretaria de Segurança e o uso mais intensivo da inteligência começam a dar frutos. Então, julgo que essa experiência bem-sucedida. E uma das primeiras medidas que temos de fazer, junto com os governadores,é um planejamento integrado, porque não há. O nosso Infoseg (rede que reúne informações dos órgãos de segurança pública), deixa de ser abastecido pelos Estados. Temos que partir para essa integração.
Foi bem-sucedida a intervenção no Rio?
Completamente. Os índices estão muito claros. O próprio jornal O Globo, que era um crítico (à intervenção), mudou totalmente a sua forma de ver. Mas o que estou falando é que não é o fato da intervenção em si, mas o que ela realizou junto à força policial.
O RS também tem problema de segurança pública. O senhor admitiria a possibilidade de se discutir uma intervenção federal aqui no Estado para mudar a realidade?
Não, não é o caso. O caso do RS é complicado, mas não chega ao nível do Rio. Agora, as ideias que foram colocadas aqui, sobre a reorganização, é por aí.
Em relação ao estatuto do desarmamento e à flexibilização para o porte de armas, como os senhores imaginam que deva ser feita esta modificação? Porque há um clamor nas ruas, para que seja muito mais facilitada a compra e o porte. Qual a sua opinião?
O que Bolsonaro tem colocado não é jogar pistola e fuzil para cima e cada um apanha o seu. Ele quer dar uma flexibilizada nessas regras, para que haja maior facilidade. Mas, obviamente, a pessoa para ter direito a um porte de arma deve passar pelos testes, seja o psicológico e o de tiro. Senão, simplesmente vou numa loja e saio andando com ela (arma) na rua.
O que Bolsonaro tem colocado não é jogar pistola e fuzil para cima e cada um apanha o seu. Ele quer dar uma flexibilizada nessas regras, para que haja maior facilidade. Mas, obviamente, a pessoa para ter direito a um porte de arma deve passar pelos testes, seja o psicológico e o de tiro. Senão, simplesmente vou numa loja e saio andando com ela (arma) na rua.
Mas essa flexibilização seria possibilitar que a pessoa ande armada. Não há preocupação, como os críticos dessa medida apontam, de que qualquer briga no trânsito termine em morte ou que as pessoas, na dúvida de que podem estar diante de um assaltante, acabem atirando em um inocente?
Olha, toda a decisão dessa natureza tem um risco. Acho que esse risco será menor em relação à sensação de segurança que a pessoa vai ter se quiser andar armada. Mas te digo uma coisa: eu, por exemplo, tenho arma e não ando armado.
Mas o senhor é treinado, é um militar, tem experiência.
Mas eu estou dizendo que não ando armado, não uso. Ela está em casa guardada numa gaveta.
O senhor acha melhor deixar ela guardada em casa, mais seguro?
Eu acho, no meu caso.
Por quê?
Eu defendo a minha residência, essa acho que tenho de defender. Agora, na rua, você sempre vai ser pego numa situação de desvantagem. Esse é o problema.
Ainda a respeito de segurança pública: a base das facções criminosas está dentro dos presídios. Vocês algum plano para tentar resolver o problema?
Sim, considero a questão dos presídios fundamental. É o outro lado da moeda da segurança pública. Vamos ter de separar os diferentes níveis de criminosos, não pode se misturar o de alta periculosidade com aquele que acabou de roubar um par de chinelos e está preso. Temos de adotar um sistema de parceria público-privada na construção de presídios, onde o Estado é responsável pela execução da pena e o investidor privado explora o trabalho do preso. O preso vai trabalhar, receber um salário e sustentar a família que está do lado de fora.
Um assunto que ganhou o centro do debate político foi que empresários que apoiam a sua candidatura e a de Bolsonaro estariam comprando pacotes de mensagens falsas pelo WhatsApp para prejudicar o seu concorrente. Como o senhor está vendo essa situação?
Só tomei conhecimento pela reportagem da Folha. O que a gente verifica é a verdadeira histeria que ocorre dentro das redes, com troca de ofensas e desaforos para tudo que é lado. Acho que isso é um clima que não ficou bom para nossa campanha e, se por acaso, algum empresário fez isso, terá de ser investigado.
O Brasil é um país com uma situação ruim na educação e, até agora, a proposta de vocês para a área não ficou clara. O senhor pode resumir quais são os pontos mais importantes para qualificar a educação?
Primeiro, não falta recurso. Muita coisa é mal feita. Tem de haver melhor distribuição, naquela visão que temos, de que o recurso tem de estar desde cedo na mão dos Estados e dos municípios, que são os responsáveis pelo Ensino Fundamental. Temos de organizar realmente a questão da base curricular, o método de alfabetização — as nossas crianças não estão sendo bem alfabetizadas, a gente sabe que os índices são baixos porque os nossos alunos não conseguem terminar a prova porque não entendem a questão. Então vamos ter de investir mais na educação fundamental e menos no Ensino Superior, vamos ter de inverter a equação.
Está nos planos que as universidades federais cobrem de quem pode pagar?
Olha, na minha opinião, acho que deveria ser assim. Digo isso porque meus filhos frequentaram a universidade federal e eu poderia ter pago alguma coisa.
Como está Bolsonaro? Vocês têm conversado?
Ele está bem. Nós nos comunicamos muito bem.
Ele não vai a debate mesmo neste segundo turno?
Acho que não. É questão de estratégia. A estratégia é a arte de você saber onde deve aplicar a sua força maior.
O senhor concorda com essa decisão?
Concordo com ele. Tento me colocar na visão dele.