Em sua primeira fala após a vitória, feita de sua casa em transmissão ao vivo nas redes sociais, Jair Bolsonaro (PSL) levou, além de uma tradutora de libras e a mulher, Michelle de Paula, quatro livros: a Constituição Federal, a Bíblia, Memórias da Segunda Guerra e O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota.
Quando se encaminhava para o final da gravação de quase oito minutos, o capitão reformado explicou por que trazia os livros sobre a bancada, pegando as obras à medida que falava:
— O que eu mais quero é seguir ensinamentos de Deus ao lado da Constituição brasileira, inspirando-me em grandes líderes, com boa assessoria, técnica e profissional ao seu lado, isenta de indicações políticas de praxe.
Publicado em 1948 e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura cinco anos depois, Memórias da Segunda Guerra conta detalhes do maior conflito da História sob o olhar de Winston Churchill.
Jornalista, militar e historiador, Churchill ocupou mais de 10 posições no governo britânico durante sua vida, inclusive ministro da Defesa e chanceler do Tesouro, mas foi como primeiro-ministro da Inglaterra que ele deixou sua marca. Churchill assumiu o cargo-chave durante o período mais severo da Segunda Guerra Mundial e ficou conhecido por ter liderado com sucesso a resistência britânica.
A fama também se deve aos discursos inspiradores. Um dos trechos mais célebres diz: "Nós lutaremos nas praias, nós lutaremos nos campos, nós lutaremos nas colinas, nós nunca nos renderemos". Na sinopse de Memórias da Segunda Guerra divulgada pela editora Nova Fronteira, o autor é descrito como "um homem que como poucos soube administrar seu país e cativar não só os ingleses como toda a população mundial".
Pela obra, o líder europeu recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1953, devido à "maestria na descrição histórica e biográfica, assim como pela brilhante oratória em defesa dos direitos humanos".
Além de Bolsonaro, Churchill foi lembrado por Ciro Gomes (PDT), candidato à Presidência que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, justamente numa crítica ao rival do PSL. Ao comentar o desentendimento com um eleitor do adversário, Ciro comparou Bolsonaro a Hitler e a si mesmo ao primeiro ministro britânico.
— O grande estadista do século XX, Winston Churchill, pagou o que estou pagando hoje, quando denunciou precocemente Hitler, nas preliminares do nazismo — afirmou o pedetista em setembro.
Já a obra O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota é de autoria de Olavo de Carvalho. Considerado o "guru" de boa parte do conservadorismo brasileiro, o jornalista, escritor e filósofo paulista já havia sido citado por Bolsonaro antes das eleições como uma de suas referências.
O livro posto sobre a mesa no discurso da vitória do presidente eleito traz 193 artigos e ensaios de Olavo de Carvalho publicados em diversos veículos de imprensa entre 1997 e 2013. Conforme a sinopse da editora Record, nos textos "o autor reflete sobre temas do dia a dia, analisa as notícias, o que nelas fica subentendido e procura entender o que se passa na cabeça do brasileiro".
Os temas abordados vão "da juventude à maturidade, da economia à cultura, da ciência à religião, da militância à vocação, do regime militar ao petismo de Lula e Dilma, do governo de George W. Bush ao de Barack Obama, entre outros muitos temas (que) são alvo do olhar arguto do autor".
Em um vídeo gravado dos Estados Unidos, onde mora, logo após o atentado sofrido por Bolsonaro, Carvalho diz que a vitória é certa: "Não só você já ganhou essa eleição, mas os seus inimigos, sobretudo os mais pérfidos, nunca mais terão uma chance".
Além das declarações recentes de apoio ao capitão, Carvalho se envolveu em outra polêmica relacionada ao então deputado federal. Em abril de 2016, a Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia) condenou falas do escritor sobre o episódio em que o deputado Jean Wyllys cuspiu em Bolsonaro durante votação do impeachment de Dilma. Nas redes sociais, Olavo afirmou que Jean, como "membro de um grupo de risco", deveria se submeter a um exame para verificar "se sua saliva não transmite o vírus da Aids".