Sem participar de debates durante o segundo turno, o presidente eleito Jair Bolsonaro apostou nas transmissões ao vivo pelo Facebook para se comunicar com os eleitores. A estratégia, adotada às vésperas da votação de primeiro turno, ganhou força na reta final da campanha. As mais de duas horas no ar foram usadas para atacar o Partido dos Trabalhadores e lançar suspeitas sobre a credibilidade das urnas eletrônicas. Acenos para ações em um futuro governo foram esparsos e vagos.
GaúchaZH assistiu às sete transmissões realizadas entre 7 e 27 outubro e contabilizou os temas mais abordados, as principais críticas aos adversários e as promessas feitas pelo então candidato.
Quase 82% do tempo (111 dos 136 minutos) de transmissão foi dedicado a atacar o programa de governo do PT, Fernando Haddad e a rebater fake news supostamente divulgadas pelo rival. No discurso, temas corriqueiros na artilharia antipetista: críticas ao kit gay, às inclinações comunistas dos adversários, à corrupção e à Lei Rouanet.
No lugar de políticos de carreira como Magno Malta e Silas Malafaia, o capitão reformado preferiu convidados do círculo de confiança nas gravações feitas durante o segundo turno: a mulher Michelle, o filho Eduardo, o economista Paulo "Posto Ipiranga" Guedes e o príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança, deputado federal eleito, a quem Bolsonaro chama de "vice do coração".
O subtenente Hélio Fernando Barbosa Lopes, agora eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, é o único a aparecer em gravações realizadas nos dois turnos de campanha. Ao lado do político negro e da intérprete de Libras surda Priscila, Bolsonaro faz um aceno ao movimento negro e aos portadores de deficiência, contra quem garante não ter qualquer preconceito.
Gravados na sala da sua casa, no Rio de Janeiro, com um cenário simples (uma mesa e uma bandeira do Brasil fixada na parede amarela), os vídeos do ainda candidato alcançaram números de dar inveja a qualquer youtuber profissional. As sete transmissões somam juntas, até a noite deste domingo (28), mais de 23 milhões de visualizações e mais de 2 milhões de interações.
Propostas e indicações de futuras ações de governo são poucas e aparecem como contraponto a promessas de campanha de Haddad. Duas delas são citadas mais de uma vez: tipificação de terrorismo à invasão de propriedade privada e venda ou extinção de 50 das 150 estatais já no primeiro ano de governo.
Com o acirramento da disputa na reta final, as arremetidas contra o PT se tornaram mais fortes. Dois episódios fizeram Bolsonaro subir ainda mais o tom das críticas: a reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo que mostrava suposto apoio de empresários na disseminação de mensagens pelo WhatsApp e o crescimento de Fernando Haddad nas pesquisas eleitorais.
A divulgação da pesquisa Ibope que mostrava, a três dias das eleições, vitória do candidato petista na capital paulista foi um dos raros momentos que Bolsonaro deixou de fazer críticas aos adversários para cobrar os aliados.
— A gente apela para os deputados e senadores para que não se preocupem com as campanhas para governador do Estado. Eu vejo uma briga em São Paulo. Em vez de briga por mim, ficam brigando por um candidato ou outro. O objetivo de vocês primeiro é Jair Bolsonaro, depois França ou Doria — exigiu, em tom indignado.
7 de outubro
6,3 milhões de visualizações e 14min6s de transmissão
Tivemos relatos de urnas que tiveram problemas. E não foram poucas.
A primeira transmissão no segundo turno foi realizada logo após a apuração do TSE indicar que haveria disputa direta com Fernando Haddad. Um pouco abatido, Bolsonaro fala de possível fraude nas urnas e acena que buscará no Nordeste os votos que faltavam para se tornar presidente.
Promessas:
- Redução de 23 para 15 ministérios.
- Venda ou extinção de 50 das 150 estatais.
- Desoneração da folha de pagamento.
11 de outubro
2,4 milhões de visualizações e 15min50s de transmissão
O homem respeita o que ele teme.
Com o retorno da campanha eleitoral, Bolsonaro passa a criticar de forma mais ferrenha o plano de governo do PT e a chapa adversária. Os principais alvos são o candidato Fernando Haddad e a vice Manuela D'Avila.
Promessa:
- Fim do regime de progressão para condenados a até 10 anos de prisão.
12 de outubro
2,2 milhões de visualizações e 22min30s de transmissão
Concordo com 90% do que o Paulo Guedes diz.
Na terceira transmissão ao vivo do segundo turno, Bolsonaro continua os ataques ao candidato petista. Acusa o PT de dividir o Brasil entre sulistas e nordestinos e afirma que Haddad seria responsável pela criação do kit gay. Também faz um novo aceno aos eleitores do Nordeste e lança dúvidas sobre a credibilidade das urnas.
Promessas:
- Tornar as urnas mais confiáveis e auditáveis já na eleição de 2020.
- 13º salário para quem recebe Bolsa Família.
- Isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
14 de outubro
2,7 milhões de visualizações e 20min29s de transmissão
Sergio Moro tem menos liberdade que um cara com tornozeleira. Não pode sair de casa sem segurança.
O tom das críticas ao adversário cresce. A dissertação de mestrado e tese de doutorado de Haddad é usada como prova das supostas inclinações marxistas do candidato petista. Para se aproximar das minorias, traz uma intérprete de libras surda para demonstrar apoio à campanha.
Promessa:
- Tipificar como terrorismo qualquer invasão de propriedade privada.
18 de outubro
3,7 milhões de visualizações e 20min2s de transmissão
Vamos moralizar a Lei Rouanet.
Bolsonaro rebate reportagem da Folha de S.Paulo que relacionava o apoio de empresários à disseminação de mensagens por WhatsApp. Acusa o PT de espalhar fake news, faz críticas à Lei Rouanet e justifica a ausência em debates por falta de segurança.
Promessa:
- Tipificar como terrorismo qualquer invasão de propriedade privada.
24 de outubro
3 milhões de visualizações e 21min56s de transmissão
Nós queremos diminuir o preço do gás, mas com seriedade. Não na base da canetada.
Bolsonaro rebate o que chama de "mentiras do PT" e da mídia e cobra mais engajamento dos parlamentares eleitos em São Paulo. Cita também o caso da suástica gravada em adolescente em Porto Alegre como "prova das mentiras da esquerda".
Promessa:
- Impedir a legalização de cassinos no Brasil.
27 de outubro
3,4 milhões de visualizações e 25min43s de transmissão
Sou escravo da Constituição. Jamais vou querer uma nova Constituinte.
Bolsonaro demonstra preocupação com o crescimento de Haddad nas pesquisas. As críticas ao candidato petista dividem espaço com pedido de mais engajamento do eleitorado. Bolsonaro também mostra surpresa com o apoio de Joaquim Barbosa ao concorrente.
Promessa:
- Indicação técnica para os ministérios.