O apoio crítico a Jair Bolsonaro (PSL) garantiu a Eduardo Leite (PSDB) a herança dos votos à esquerda no Rio Grande do Sul, assegurando, por 7,24 pontos percentuais, a vitória sobre José Ivo Sartori (MDB). Dos 46 municípios onde Miguel Rossetto (PT) venceu no primeiro turno, o tucano foi o mais votado em 45 na segunda etapa – o emedebista ganhou apenas em Rondinha, no Norte.
Das cidades petistas, o melhor desempenho de Leite foi em Candiota. Rossetto havia recebido 53,04% dos votos. No domingo, Leite somou 79,39%. A maior diferença entre os percentuais obtidos pelo petista e pelo tucano ocorreu em Itacurubi – 36,59% para o ex-ministro na votação do início do mês e 71,36% para o ex-prefeito de Pelotas no último domingo.
O governador eleito recebeu 3.128.317 votos válidos (53,62%) em todo o Estado, enquanto Sartori amealhou 2.705.601 (46,38%) – diferença de 422.716. Juntos, Rossetto e Jairo Jorge (PDT) somaram 28,84% da votação no início de outubro, desempenho próximo do de Sartori na ocasião (31,11%). Com isso, 1,72 milhão de eleitores ficaram sem a opção de um candidato da esquerda no segundo turno.
Os dois concorrentes que avançaram à disputa final pelo Palácio Piratini declararam apoio a Bolsonaro, em meio a um contexto no qual o militar da reserva havia alcançado boa performance entre os gaúchos. Sartori foi mais incisivo ao tentar colar-se à imagem do presidente eleito, sugerindo, inclusive, a dobradinha do slogan “Sartonaro”. O tucano foi mais crítico e, apesar do apoio, não forçou vinculação.
– Leite foi inteligente porque sinalizou a posição com Bolsonaro, mas de forma discreta. Há diferença entre se declarar contra o PT e fazer campanha acintosa pelo capitão da reserva, como Sartori fez. O eleitor mais à esquerda se identificou com os ataques a Haddad em nível nacional e se posicionou contra o atual governador. Em vez de anular ou votar em branco, fez o voto útil – analisa Paulo Peres, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Peres ainda cita como prejuízo ao emedebista uma fake news contra Leite que circulou na reta final de campanha. Viralizou na internet imagem em que o tucano aparece ao lado de um homem sem camisa, sob a legenda “É isto o que queremos para o Rio Grande? O primeiro governador homossexual do Brasil?”. Na foto original, sem cortes, Leite está ao lado dos dois irmãos e da mãe em praia do Uruguai.
– Embora os candidatos de centro-esquerda tenham sido derrotados, a esquerda ainda tem a capacidade de determinar o resultado da disputa no Estado. Sartori jogou quem votou no Jairo e no Rossetto no colo do Leite – observa Augusto de Oliveira, doutor em Ciência Política e professor da PUCRS.
As duas cidades em que Jairo havia ganho se dividiram. Ainda que por pequena margem, Canoas foi de Sartori, para quem o pedetista abriu voto no segundo turno. Em Eldorado do Sul, venceu Leite. Também houve alternância mútua: 31 municípios mudaram do governador eleito para o atual. No sentido inverso, a troca foi maior – 50 com vitória inicial do emedebista optaram pelo tucano no segundo turno. Porto Alegre foi uma das vira-casacas – 26,45% para o MDB no primeiro turno e 52,03% para o PSDB no domingo.