Às 18h21min deste domingo (28), o clima de inquietude na casa dos pais de Eduardo Leite (PSDB), no centro de Pelotas, dissipou-se. O tucano, que saiu atrás de José Ivo Sartori (MDB) na apuração do segundo turno, consolidava-se no primeiro lugar com pouco mais de 52% dos votos válidos. Cauteloso, Leite preferiu se manifestar somente após o adversário reconhecer a derrota nas urnas.
Cercado de familiares, amigos e aliados no jardim da residência, o ex-prefeito de Pelotas acompanhou as parciais em um computador, pelo portal G1, e em seu iPhone. Às 18h44min, subiu para um quarto no segundo piso da casa.
— Está muita loucura, ele quer ficar sozinho — resumiu um interlocutor.
Em frente à residência, eleitores – sobretudo mulheres – aguardavam Leite ao som de “Eduardo, cadê você / Eu vim aqui só pra te ver”. Leite reapareceria somente às 19h02min, quando a sua vitória era irreversível, e José Ivo Sartori (MDB) telefonara.
Aos 33 anos, dono de um perfil informal, o tucano fez a sua primeira manifestação como governador eleito do Rio Grande do Sul em uma live no Facebook. Segurando o celular em modo selfie, agradeceu:
— Meus amigos e minhas amigas, seguidores do nosso Facebook, muito, muito, muito obrigado. Tantas vezes quanto eu falar muito obrigado vai ser ainda insuficiente para dizer o quanto eu sou feliz por receber a confiança de cada um de vocês.
Agradeceu também seu vice, o delegado Ranolfo Vieira Júnior (PTB) e disse:
— O povo gaúcho pode acreditar, vamos buscar honrar esse voto.
Depois de abraçar os seus pais, Leite atendeu à imprensa e colocou como prioridade à frente do Palácio Piratini o combate à criminalidade, o desenvolvimento econômico e a contenção de despesas.
— O foco é o equilíbrio financeiro para colocar os salários dos servidores em dia ainda no primeiro ano, que é um compromisso que estabelecemos — afirmou.
Leite ainda reforçou que será governador “de todos os gaúchos” e que irá formar uma equipe com “habilidade técnica e política” ao longo dos dois meses de transição. Ao mencionar que recebeu o esperado telefonema de Sartori, pediu que a rivalidade com o atual governador dissipe-se:
— Fizemos uma campanha sem ataques pessoais, atacamos apenas os problemas. Do outro lado, infelizmente, fomos atacados pessoalmente. Espero que essas diferenças fiquem no passado e que possamos trabalhar daqui para frente com uma política do amor, não do ódio.
Ao vencer a disputa mais importante de sua breve trajetória política, Leite alcançou outra façanha: será o governador mais jovem eleito pelo voto popular da história do Rio Grande do Sul. Porém, preocupou-se em distanciar os poucos aniversários de sua capacidade de administrar um Estado falido:
— Não é sobre a idade, é sobre a experiência e a vontade. Me sinto experiente porque fui prefeito de uma grande cidade, me aperfeiçoei fazendo mestrado em gestão pública, me especializando no Exterior. Me sinto preparado para o desafio e, sobretudo, com vontade, com essa capacidade de indignação que tem de ser levada lá para dentro do gabinete.
Depois da coletiva, um grupo de amigos o carregou pelas pernas até o gramado da casa. Um a um, pularam sobre o novo chefe do Palácio Piratini – um “montinho”, na linguagem popular –, que saiu ileso. Ao som de batucadas de samba entoadas por uma banda que deu à vitória o clima de festa, Leite foi para o centro de Pelotas, onde discursou sobre um caminhão de som ao lado da prefeita, Paula Mascarenhas (PSDB).
Às 20h05min, o recém-eleito seguiu para o aeroporto, onde embarcou em um voo rumo a Porto Alegre.
— O povo gaúcho demonstrou, na sua maioria, que não cede às mentiras e que quer a verdade — finalizou o homem que, no dia 1º de janeiro de 2019, assume o mais importante gabinete do Estado.