Integrante da nova geração de tucanos que ascendem ao poder, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, faz projeções drásticas para o futuro do PSDB, conjecturando profundas modificações.
— O PSDB terá de se reinventar. E haverá cisão. Hoje, a reforma do partido cogita a hipótese de fusão, extinção, refundação, troca de sigla, troca de pessoas. No futuro, algumas pessoas não vão ficar no PSDB. E pessoas de outros partidos vão se agregar — projeta.
Para o prefeito, a eleição de 2018 expôs "posições divergentes" dentro do partido e "muitas relações pessoais foram rompidas".
Já o governador reeleito do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, entende que, para retomar protagonismo, o PSDB precisa voltar a discutir agenda para o país que atenda a aspirações populares.
— O partido perdeu a sintonia com as ruas, não olhou as prioridades das pessoas. Não podemos ficar em cima do muro, o PSDB sempre foi reformista. E ter entrado no governo Temer nos carimbou com a mesmice de um presidente extremamente rejeitado. Até poderemos ter fusão com algum partido. Mas qual a agenda? Precisamos de agenda para o país e reciclar o partido internamente – analisa.
Um dos debates que já começou é a postura diante do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
— Avaliou-se o perigo de repetir a mesma cena do governo Temer, quando parte queria ser governo e outra não. Foi um horror. Acho que a posição vai ser de apoio a Bolsonaro. Isso deverá ser puxado por Doria (João Doria, governador eleito de São Paulo). Vou defender isso. Não significa ter cargos, mas apoiar as reformas essenciais — diz o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA), ex-ministro do governo do presidente Michel Temer.
As articulações decorrem da maior derrota do PSDB desde a sua criação. Pela primeira vez, desde 1994, ficou de fora de um segundo turno à eleição presidencial.
O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, presidente nacional da sigla, amargou o quarto lugar na disputa, enquanto a bancada federal foi reduzida quase pela metade. Diretórios de Minas Gerais e do Paraná, outrora poderosas máquinas tucanas lideradas por Aécio Neves e Beto Richa, atrás só do ninho paulista no quesito influência, murcharam após derrota nas urnas em 2018.
Promessa de relevância
O colapso tucano em Minas Gerais e no Paraná, somado à eleição de Eduardo Leite para governar o Rio Grande do Sul, deverá alçar o diretório gaúcho da sigla à nova posição de relevância na disputa nacional. Antes de a crise dos partidos tradicionais ter início, a partir de 2013, com o seu possível ápice em 2018, o PSDB gaúcho era periférico, pequeno em número de filiados e de lideranças e, além disso, rachado por ferrenhas disputas entre seus poucos caciques.
Agora, o diretório tucano voltará ao comando do Palácio Piratini e, considerando o ranking político das prefeituras, é o partido que governa a maioria dos gaúchos, em Porto Alegre, Viamão, Novo Hamburgo, Santa Maria e Pelotas, entre outras cidades.
— No Rio Grande do Sul, estamos em um projeto de crescimento partidário que teve sucesso depois que se modificaram os grupos de poder. Antigamente, tinha aquela briga histórica entre Marchezan e Yeda. Yeda e o grupo dela foram perdendo espaço, regionalizamos os programas de TV, novas lideranças surgiram e se tornaram prefeitos — diz Marchezan.
O prefeito aponta que, enquanto a sigla luta para sobreviver no cenário nacional, com queda brusca de representatividade na Câmara e nos governos estaduais, o diretório gaúcho cresce.
— Estamos mais fortes dentro do PSDB, porém em um partido nacionalmente enfraquecido – diz.
Razões da derrocada:
A crise que abateu às instituições e os partidos tradicionais desgastou o PSDB, que rivalizava com o PT desde 1994 pela hegemonia nacional do país.
Lideranças manchadas
- Episódios de corrupção impuseram desgaste e implodiram a imagem de lideranças como Aécio Neves (MG), Beto Richa (PR) e Marconi Perillo (GO).
- Após as denúncias contra Aécio, o PSDB não tomou postura mais enérgica contra o político, então presidente nacional do partido. Segundo avaliação de tucanos, isso teria transparecido a ideia de acobertamento.
- Em maio de 2017, com a divulgação de conversas com o empresário Joesley Batista em que pedia dinheiro, Aécio se afastou da presidência do PSDB.
Racha pelo poder
- O partido, de atuação decisiva no impeachment de Dilma Rousseff, já fazia parte do governo de Michel Temer. A ocupação de cargos dividiu o tucanato e causou profundo racha.
- A ala liderada pelo senador Tasso Jereissati era contra a participação e defendia independência. Tasso, que assumiu a presidência interina da sigla, chegou a ser afastado da função por Aécio devido às divergências.
Mais do mesmo
- A sigla "perdeu a sintonia com as ruas", avalia Reinaldo Azambuja, governador reeleito do Mato Grosso do Sul. O PSDB deixou a linha de frente na defesa de bandeiras que o diferenciassem do PT.
- Como "subiu em cima do muro" em muitas pautas, elas acabaram, em maioria, encampadas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
- O desgaste entre lideranças do PSDB chegou ao ápice na eleição presidencial. Parte da legenda ignorou a candidatura de Geraldo Alckmin para apoiar Bolsonaro.