As vitórias de João Doria, em São Paulo, e de Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul, impulsionam os dois governadores eleitos como novas lideranças nacionais do PSDB. No partido, não há dúvida de que avaliação interna, com hipótese de antecipação da eleição ao comando da sigla, prevista para maio de 2019, irá promover profundas mudanças e a reorganização de forças entre o tucanato. Doria é o mais cotado para conduzir a legenda, enquanto Leite, considerado quadro dos mais promissores, também galga ascensão em uma sigla que busca sobreviver.
Quem deve perder espaço são tucanos históricos, como Alberto Goldman, Geraldo Alckmin, José Serra e Tasso Jereissati. Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deve enfrentar restrições. Na avaliação de tucanos experientes, "cisões" serão inevitáveis.
As articulações decorrem da maior derrota do PSDB desde a sua criação. Pela primeira vez, desde 1994, ficou de fora de um segundo turno à eleição presidencial. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, presidente nacional da sigla, amargou o quarto lugar na disputa, enquanto a bancada federal foi reduzida quase pela metade. Diretórios de Minas Gerais e do Paraná, outrora poderosas máquinas tucanas lideradas por Aécio Neves e Beto Richa, atrás só do ninho paulista no quesito influência, murcharam após derrota nas urnas em 2018.
— Com o resultado das eleições, novas forças emergem, com destaque para Doria, pela dimensão de São Paulo, e Eduardo, pela jovialidade, quadro extremamente promissor. Terão muita força pela titularidade dos cargos que irão ocupar, sem dúvida irão crescer na direção nacional — aponta o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA), ex-ministro do governo do presidente Michel Temer.
Imbassahy se diz contrário à antecipação das eleições partidárias e defende Alckmin, chamado a presidir o partido na esteira dos escândalos de corrupção envolvendo Aécio. Mas há articulações que almejam repassar o comando da legenda a Doria. Dentre as críticas mais recorrentes, o ingresso sem consenso partidário no governo Temer e a perda da hegemonia na defesa de bandeiras que tradicionalmente eram do PSDB, como as reformas, abertura da economia e a desestatização, fundidas com os ideais da social-democracia.
— É prematuro falar sobre Alckmin, ele perdeu as eleições de maneira muito errada. Sempre reclamei da falta de democracia interna e, agora, os debates terão de vir à tona. Temos de jogar luz aos acontecimentos, assumir a derrota. Vai haver nova recomposição de forças, e os eleitos irão comandar, sobretudo Doria — avalia Yeda Crusius, ex-governadora e ex-ministra do governo FHC, que cita reuniões em novembro para discutir o rumo político da legenda.