O clã Bolsonaro se consolidou nestas eleições como grife capaz de eleger seus integrantes com votações avassaladoras e ainda levar de arrasto quem personifica seus ideais. Juntos, o patriarca e dois de seus filhos garimparam Brasil afora 55.501.050 votos no domingo, quantidade suficiente para fazer de Eduardo o deputado federal mais votado na história do país, garantir a Flavio uma das três cadeiras do Rio de Janeiro no Senado e transformar Jair em favorito a vencer a corrida presidencial no segundo turno. Ao atravessar divisas estaduais, a família já é considerada uma das mais influentes no cenário político nacional, ofuscando os Sarney, os Calheiros, os Barbalho e os Magalhães.
— Mais de 60% dos parlamentares, na legislatura que se encerra na Câmara, têm vínculos com famílias políticas. No Senado, passa de 70%. A bancada da família certamente continuará sendo uma das maiores no Congresso — analisa o cientista político, sociólogo e professor da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Costa de Oliveira.
Diferentemente das famílias que se afirmaram com traços oligárquicos de dominação, os Bolsonaro ergueram-se prometendo combater o medo, a insegurança, o desemprego e o comunismo, além de pregar o fortalecimento da família tradicional. A lealdade de seus eleitores não está atrelada a nenhum tipo de dependência.
— No Nordeste, a dominação veio por meio de uma fidelidade canina, em que as pessoas não tinham como rompê-la, porque, se rompessem, morreriam. A relação envolvia dependência econômica e política — acrescenta Michel Zaidan, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Autor do livro Teias do Nepotismo, Oliveira considera a família Bolsonaro apartidária. O candidato a presidente, por exemplo, já defendeu sete siglas e flertou com a oitava antes de filiar-se ao PSL, legenda nanica elevada à segunda maior bancada da Câmara a partir de 2019.
A mudança de patamar veio pelas mãos de um parlamentar que, em quase totalidade da sua vida política, transitou entre o baixo clero do Congresso, longe do protagonismo. Aos 63 anos, caso seja eleito, Jair tornará os Bolsonaro a principal família da política brasileira, ainda que momentaneamente, acreditam ambos os especialistas. Mesmo que haja um revés no segundo turno, pai e filhos serão oposição ferrenha em defesa de pautas semelhantes dentro de suas esferas. Defendem agenda conservadora, contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o aborto. Além disso, trabalham para diminuir a maioridade penal.
— São eles quem criam o partido. Há alguns meses, tentaram com o Patriota, mas acabaram no PSL. O partido é uma questão secundária em relação ao interesse familiar. Eles agem como famílias políticas dentro das instituições — complementa Oliveira.
O poder passado de pai pra filho faz com que famílias se instalem no Estado e nele permaneçam por gerações, criando redes facilitadoras para postos em cargos comissionados, currais eleitorais e clientelismo. O professor Michel Zaidan, da Universidade Federal de Pernambuco, avalia que a renovação da política fica prejudicada, pois é feita por meio de familiares ou aliados políticos com a mesma ideologia, onde apenas o poder é transferido.
— Os clãs tendem a ser o que há de mais atrasado na democracia. Se há um estado mais desenvolvido, com a democracia consolidada e menor desigualdade social, a formação destes grupos familiares tende a ser menor — concluiu Zaidan.
Além do pai e dos filhos, uma ex-mulher de Jair chamada Ana Cristina Valle também concorreu com o sobrenome do militar reformado. Cristina Bolsonaro (Podemos) candidatou-se a deputada federal pelo Rio de Janeiro, mas não foi eleita. Fez 4.555 votos. Ela tornou-se peça central na reta final do primeiro turno quando a imprensa revelou que ela relatara ameaça de Jair contra ela durante processo de separação. Jair emprestou seu sobrenome, ainda, a um amigo militar. O subtenente do Exército Hélio Fernando Barbosa Lopes, o Hélio Negão, 49 anos, concorreu no pleito a uma vaga na Câmara dos Deputados do Rio com o nome de urna Hélio Bolsonaro (PSL). Ele foi o mais votado, com 345 mil votos.
O CLÃ BOLSONARO NA POLÍTICA
Jair Bolsonaro - Eleito para disputa em segundo turno com 46% dos votos, o patriarca dos Bolsonaro tem 63 anos. É deputado federal desde 1991 com passagens por partidos como PDC,PPR,PPB,PTB,PFL, PP, PSC e PSL. Jair afirmou que já pensou em filiar-se ao Prona, e em 2017, chegou a conversar sobre sua filiação ao PEN, atual Patriota, o que acabou não se consolidando. Iniciou na política como vereador do Rio de Janeiro em 1989.
Votação no domingo: 49.276.897
Eduardo Bolsonaro - Filho de Jair, elegeu-se domingo (7) o deputado federal mais votado da história do país, com mais de 1,8 milhões de votos. A votação representa um crescimento de 2030% em relação a 2014, quando foi o 61º mais votado em São Paulo - a primeira que disputou. Tem 34 anos.
Votação no domingo: 1.843.735
Carlos Bolsonaro - Aos 35 anos, é outro filho de Jair e está no seu quinto mandato como vereador no Rio de Janeiro. Foi o mais votado nas últimas eleições. Já passou pelos partidos PTB, PP e PSC, sua atual legenda. Não concorreu neste pleito.
Votação no domingo: não concorreu
Flavio Bolsonaro - Terceiro dos filhos políticos de Jair, entrou para a política como deputado estadual do Rio de Janeiro na legislatura 2003-2007, cargo que ocupa pela quarta vez. No domingo, aos 37 anos, foi eleito senador pelo PSL, o mais votado do Rio de Janeiro.
Votação no domingo: 4.380.418