O debate estava no intervalo e os assessores já haviam deixado o estúdio da Rádio Gaúcha, na manhã desta quinta-feira (16), quando Roberto Robaina (PSOL), de súbito, perguntou:
— Quem aqui está com o Jair Bolsonaro (candidato do PSL à Presidência)?
Reinou o silêncio. Todos se olharam, mas ninguém respondia. Robaina se dirigiu a Eduardo Leite (PSDB).
— É tu, Eduardo?
—Eu não. Estou com Alckmin - reagiu o ex-prefeito de Pelotas, citando o nome do candidato tucano ao Planalto.
Os candidatos ao governo do Estado que participavam do primeiro debate em rádio desta campanha não sabiam, mas quem apoiava Bolsonaro não estava no estúdio, e sim na rua. Era o folclórico Edison Estivalete, que disputou o Piratini em 2014, ficando em sétimo lugar com 0,16% dos votos. Pilchado e com chapéu de gaúcho, Estivalete concorre a deputado estadual nesta eleição pelo Pros, partido que não está apoiando nenhum dos postulantes ao Piratini. Sua explicação para a presença no local é o retrato da total falta de lógica no ideário político do país.
— O Pros nacional apoia o PT. Aqui no Estado, não apoia ninguém. Mas eu estou com o Bolsonaro para presidente e Jairo Jorge (PDT) para governador.
Dentro do estúdio também havia desacertos. O governador José Ivo Sartori (MDB) errou o nome da emissora ao fazer sua saudação inicial. Para evitar novo vexame, escreveu duas vezes "Rádio Gaúcha", sublinhado, nas anotações que trazia à mesa. Sartori também se confundiu ao ser informado sobre os tempos que cada um teria para falar durante os questionamentos entre os candidatos.
- São duas perguntas e duas respostas? perguntou.
- Não, governador. É pergunta, resposta, réplica e tréplica - explicou o mediador, Daniel Scola.
Para não se perder em meio às indagações e troca de farpas, cada político montou seu dossiê particular. O de Júlio Flores trazia no cabeçalho os principais ideais de campanha do PSTU, repetidos à exaustão: "1. Revolução" e "2. Rebelião". Mateus Bandeira (Novo) tinha à frente as 130 páginas do seu plano de governo, mas praticamente não consultou o material, diferente de Jairo Jorge, que a cada fala puxava de uma pasta uma página repleta de siglas e estatísticas.
Era o primeiro debate da campanha e toda concentração era fundamental para garantir uma boa performance. Mas a cada intervalo lá vinha Robaina com suas bem humoradas provocações. Após ouvir Bandeira dizer que vinha da iniciativa privada e não fazia da política um meio de vida, o candidato do PSOL não resistiu:
- Tu diz que não precisa da política, mas também não conta que tem R$ 25 milhões, né - cutucou, fazendo todos rir com a citação ao patrimônio do adversário.