Bastou o primeiro confronto direto entre sete candidatos ao governo do Estado para que as estratégias de campanha ficassem explícitas durante o debate desta quinta-feira (16), na Rádio Gaúcha. Em busca de um lugar no segundo turno, os políticos decidiram atacar os adversários do mesmo campo ideológico.
Foi o que motivou os embates na centro-direita, entre Eduardo Leite (PSDB) e Mateus Bandeira (Novo). Na esquerda, Jairo Jorge (PDT), Miguel Rossetto (PT) e Roberto Robaina (PSOL) se enfrentaram com menos intensidade, mas exaltando as próprias diferenças.
Último a chegar e primeiro a deixar o prédio da emissora, o governador e postulante à reeleição José Ivo Sartori (MDB) foi o alvo em comum entre os demais candidatos. Já Júlio Flores (PSTU) transitou em faixa própria, pregando uma "rebelião popular" para constituição de um "governo dos trabalhadores".
As confrontações surgiram no segundo bloco do programa, quando os candidatos fizeram perguntas entre si. Já na largada, Bandeira questionou se Leite pretende elevar impostos "como fez no primeiro ano de governo em Pelotas, aumentando o IPTU". Sorrindo, o ex-prefeito agradeceu por ter sido escolhido para a pergunta inaugural.
— Tá desconfortável? — revidou Bandeira.
— Fale no seu tempo — respondeu Leite, que destacou a necessidade de conter as despesas e aprimorar a arrecadação.
Na réplica, Bandeira disse que o contendor não havia respondido a pergunta. Leite afirmou que reduziu a alíquota, mas atualizou a planta de valores, com consequente aumento da taxação em condomínios fechados.
— O candidato está construindo uma casa lá, então talvez tenha ficado incomodado — provocou o tucano.
Na sequência, houve embates entre Leite e Sartori — "há quem proponha mágica, eu proponho trabalho", disse o governador sobre seu plano de desenvolvimento para o Estado — e entre Rossetto e Jairo, com ambos criticando os termos da renegociação da dívida com a União. Veio então a vez de Robaina perguntar:
— O PT esteve no governo federal. Podia ter revogado a Lei Kandir e acabado com a sangria da dívida do Estado. Por que não fizeram?
— Fizemos muito, mas não fizemos tudo — respondeu o petista.
Clima amigável nos bastidores
Fora dos microfones, o clima foi de total simpatia entre os candidatos. Sentados lado a lado e com visões antagônicas sobre o papel do Estado, Robaina e Bandeira trocavam sorrisos e conversavam amenidades a cada intervalo.
Na poltrona vizinha a de Sartori, Rossetto se surpreendeu quando o governador contou ter participado em um debate na Gaúcha em 1986, no qual o jornalista Mendes Ribeiro foi agredido por um coronel reformado do Exército. Jairo, que chegou carregando o próprio chimarrão, chamava os demais para o estúdio pouco antes do debate começar:
— Vamos lá que a campanha é curta — conclamou.
Por mais que os candidatos tentassem se diferenciar, houve semelhanças nos discursos. Todos ressaltaram a escassez de recursos, mas foram evasivos ao responder se pretendem renovar as atuais alíquotas de ICMS, elevadas em 2015 e que expiram no final do ano. Outra unanimidade foi a prioridade a políticas de segurança pública, tema escolhido pelos sete a partir de uma lista apresentada pelos ouvintes.
Com quase duas horas de duração, o debate serviu como cartão de visitas para cada candidato, inaugurando o primeiro dia de campanha. Sartori defendeu sua gestão e disse que pretende privatizar estatais e renegociar a dívida com a União. Rossetto criticou o "Estado dos salários atrasados" e a todo momento vinculava seu nome ao do ex-presidente Lula, primeiro colocado nas pesquisas à Presidência. Jairo destacou sua experiência em gestão pública, listando realizações dos dois mandatos na prefeitura de Canoas.
Leite também invocou sua administração em Pelotas, pregou concessões, parcerias com empresas e "a volta do entusiasmo". Bandeira se apresentou como um novo tipo de político, com carreira exitosa na iniciativa privada e coragem para tirar do Estado o estigma de "terra do atraso".
Robaina, o único a pedir voto e citar o número da sua legenda, defendeu uma moratória na dívida com a União e criticou a política dominada pelo poder econômico. Flores convocou uma greve geral e disse não acreditar que as eleições possam resolver os problemas da população.
Quase ao final, ficou no ar, sem contestação, uma observação de Sartori:
— Todo mundo tem palpite, mas ninguém apresenta uma solução.