Sem agressões entre os candidatos, o primeiro debate da campanha eleitoral, na Rádio Gaúcha, foi uma espécie de sondagem do terreno. Falou-se mais de segurança do que de qualquer outro tema, por iniciativa dos concorrentes e como resposta aos ouvintes, que indicaram ser a criminalidade a sua maior preocupação.
A grande ausente foi a educação. Por sorteio, a pergunta formulada pela produção, sobre como melhorar a qualidade da educação, caiu para Júlio Flores (PSTU), candidato monotemático, que tudo quer resolver pela revolução e pela rebelião do povo. No momento em que puderam escolher o assunto, ninguém lembrou do tema.
Nem da saúde, outro tema caro aos eleitores, mas praticamente ignorado no confronto. Outros temas relevantes para o Estado ficaram de fora do debate. Entre eles, cultura, inovação, ciência e tecnologia.
A maioria mostrou cautela na hora de falar de medidas amargas que pretende tomar para enfrentar a crise das finanças públicas. A exceção foi Mateus Bandeira (Novo), que desde a pré-campanha adotou o estilo supersincero, sem se preocupar em agradar as corporações, e defendeu a privatização ampla, geral e irrestrita.
José Ivo Sartori (MDB) defendeu a venda de estatais que tentou, sem sucesso, privatizar no mandato atual (CEEE, CRM e Sulgás). Eduardo Leite (PSDB) defendeu as privatizações "para viabilizar novo projeto de desenvolvimento, e não para pagar custeio", mas não disse quais. No Banrisul, ninguém tocou.
Miguel Rossetto (PT) foi o que mais promessas fez. Começou pelo pagamento em dia dos salários, passou pela nomeação de mais servidores para a área da segurança e se comprometeu com reajustes salariais. Como fonte de receita indicou a cobrança dos créditos da Lei Kandir, a renegociação da dívida, o combate à sonegação e corte de privilégios, como o auxílio-moradia dos juízes (que não está na alçada do governador).
Questionados sobre uma questão concreta, a renovação ou não do aumento do ICMS, que exigirá atitude do eleito logo depois de proclamado o resultado, as respostas foram obtusas. Apenas o governador Sartori defendeu a necessidade de manter as alíquotas atuais, válidas até 31 de dezembro. Deu a entender que, se reeleito, vai propor a renovação, para que o Estado não perca cerca de R$ 2 bilhões. Se o eleito for outro, terá de pedir a Sartori que encaminhe o projeto.
Jairo Jorge (PDT) e Mateus Bandeira sugeriram, com formatos diferentes, a redução progressiva das alíquotas. Leite desconversou, dizendo que "o aumento nas alíquotas tem de estar associado à redução de despesas".
Pelo que se viu no primeiro debate, Sartori será o principal alvo de Miguel Rossetto, Eduardo Leite e Roberto Robaina (PSOL). Bandeira escolheu o ex-prefeito de Pelotas – seu conterrâneo – como adversário. Os dois disputam, em tese, a mesma fatia do eleitorado. Jairo Jorge seguiu a linha "paz e amor" a que se propôs desde que iniciou a maratona de visitas aos 497 municípios.
Rossetto foi o único que, ao longo de todo o debate, vinculou sua candidatura à eleição presidencial, citando repetidas vezes o nome do ex-presidente Lula. Robaina citou Guilherme Boulos e os candidatos do partido a deputado estadual e federal, já nas considerações finais.
Todos os outros mantiveram o foco nas questões estaduais, sem mencionar seus candidatos a presidente. De Jair Bolsonaro, que com a saída de Luis Carlos Heinze da disputa ficou sem candidato a governador no Estado, ninguém falou.