Diante de representantes do setor empresarial, cinco candidatos ao governo do Estado foram estimulados a apontar soluções para equilibrar as contas públicas sem recorrer ao aumento da carga tributária. O encontro ocorreu no Tá na Mesa desta quarta-feira (22), tradicional reunião-almoço promovida pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul).
Os concorrentes ao Piratini falaram sobre incentivo ao empreendedorismo, diversificação das indústrias, geração de emprego, adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, adequação da folha de pagamento e melhoria do ambiente de negócios. Como o painel foi dividido em blocos, houve espaço para que fossem abordados assuntos relacionados a privatizações, responsabilidade fiscal, dívida pública e segurança pública.
Participaram do encontro Eduardo Leite (PSDB), Jairo Jorge (PDT), José Ivo Sartori (MDB), Mateus Bandeira (Novo) e Miguel Rossetto (PT).
Os demais candidatos – Roberto Robaina (PSOL), Julio Flores (PSTU) e Paulo Oliveira Medeiros (PCO) não foram convidados pela Federasul.
O ex-prefeito de Canoas Jairo Jorge detalhou sua proposta ao defender a desburocratização e o incentivo ao empreendedorismo. A ideia do pedetista é criar escritórios regionais do empreendedor "para emitir o licenciamento em no máximo 60 dias". Também sugeriu a redução da carga tributária com a implantação da lei do gatilho, mecanismo que reduzirá progressivamente impostos à medida que houver aumento de arrecadação.
Leite e Bandeira sobem tom e trocam acusações
O painel da entidade já encaminhava-se para o fim, quando as alfinetadas que Eduardo Leite e Mateus Bandeira vinham trocando em debates anteriores avançaram para o campo das ofensas. O liberal tem se apresentado como o candidato que não "faz a velha política" e invariavelmente é rebatido por Leite, ainda que de forma sutil, quando o tucano diz ser necessário "fazer a boa política".
Desta vez, o candidato do PSDB, inflamado pelos burburinhos que surgem dos seus apoiadores quando o ex-presidente do Banrisul faz insinuações, acusou o oponente de mentir sobre um acordo firmado entre a prefeitura de Pelotas e o banco estatal. Segundo o tucano, o contrato precisou ser renegociado por ele em 2013, quando era prefeito de Pelotas, por ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal. O contrato teria sido assinado por Bandeira em sua gestão no banco.
– O candidato Mateus Bandeira é mentiroso. Estou dizendo com todas as letras que é mentiroso – disse Leite, após o rival insinuar que o tucano, sem citar seu nome, teria "descumprido parcialmente dívidas com o Banco do Estado do Rio Grande do Sul".
Bandeira respondeu que Leite não quis regularizar a dívida com o Banrisul e optou por "descontinuar o pagamento para obter um financiamento".
Ao fim do encontro, a presidente da Federasul, Simone Leite, pediu que todos os candidatos a vice-governador subissem ao palco para uma foto coletiva. Abaixo, veja o resumo das respostas de cada debatedor às perguntas apresentadas no evento.
O que os candidatos disseram
EDUARDO LEITE (PSDB)
Como fazer a receita ser maior do que a despesa sem aumentar impostos?
Temos de atuar nas duas frentes: conter o aumento da despesa, a maior parte dela consumida por folha de pagamento. Temos de buscar parceria do setor privado, reduzindo a burocracia.
O que fazer para se adequar à Lei de Responsabilidade Fiscal sem usar criatividade contábil?
O tucano não titubeou ao dizer que será necessário discutir reformas estruturantes e nas carreiras dos servidores e que, com isso, será possível oferecer qualidade de vida à população.
Precisamos trabalhar para diminuir o custo da logística e atacar as despesas. As despesas com pessoal precisam ser discutidas.
JAIRO JORGE (PDT)
Como fazer a receita ser maior do que a despesa sem aumentar impostos?
Defendo menos burocracia e menos impostos. Vamos incentivar o empreendedorismo criando escritórios regionais do empreendedor para emitir o licenciamento em no máximo 60 dias.
Como amortizar a dívida pública, sendo que o Estado vem tendo sucessivos déficits orçamentários?
O pedetista defendeu união de empresários, população e poder político para que haja renegociação da dívida de forma que devolva ao Rio Grande do Sul capacidade de investimentos.
Se eu for eleito, vou negociar com o presidente uma proposta que seja favorável. Não podemos ser engessados em áreas estratégicas.
JOSÉ IVO SARTORI (MDB)
Como fazer a receita ser maior do que a despesa sem aumentar impostos?
Nosso plano é aderir ao Regime de Recuperação Fiscal. É, sim, privatizar e federalizar estatais. Assim, se arrecada mais, se tem o equilíbrio das contas e a retomada da capacidade de investimento.
Qual é sua opinião sobre privatizações, incluindo à do Banrisul? Como conseguir apoio?
O governador respondeu a esta pergunta citando a proposta de extinção de 11 órgãos ligados ao Poder Executivo como medida necessária para obtenção do equilíbrio financeiro. Medida foi aprovada pela Assembleia em 2016.
Nenhum serviço deixou de ser feito. Para nós, parcerias público-privadas trazem os resultados necessários – disse Sartori sem citar o banco.
MATEUS BANDEIRA (NOVO)
Como fazer a receita ser maior do que a despesa sem aumentar impostos?
A arrecadação cresceu menos do que a despesa por conta da irresponsabilidade fiscal. Equilíbrio deve ser buscado com contenção das despesas públicas, melhoria do ambiente de negócios e privatizações.
Como investir em infraestrutura de forma rápida?
O candidato liberal afirmou não ser possível conseguir restabelecer investimento em estrutura a curto e médio prazos sem optar por concessões e parcerias público-privadas.
Único caminho é o Regime de Recuperação Fiscal para resgatar o crescimento econômico. Impossível ter credibilidade sem contas em dia.
MIGUEL ROSSETTO (PT)
Como fazer a receita ser maior do que a despesa sem aumentar impostos?
Através do crescimento da economia, com uma nova agenda nacional estimuladora. Temos de recuperar o polo naval de Rio Grande, o agronegócio, diversificar nossas indústrias e gerar trabalho para ter a retomada do crescimento.
O que fazer para conseguir mais recursos para os investimentos necessários?
O petista sugeriu criar um ambiente de negócios positivo no Rio Grande do Sul para que seja possível a busca por investimentos privados e públicos, principalmente em parceria com o governo federal.
Essa total desorganização do Estado afasta investidores. É importante construirmos esse ambiente com o presidente eleito.