Embora preso há quase quatro meses e enquadrado na Lei da Ficha Limpa por ter sido condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não abre mão da candidatura. O Partido dos Trabalhadores (PT) irá chancelar seu nome ao Planalto na convenção de sábado (4) e registrá-lo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na data-limite para a inscrição dos candidatos, 15 de agosto.
A partir daí, a ideia é estender ao máximo possível a disputa jurídica, tentando fazer com que eventuais derrotas não impeçam o petista de ter sua foto estampada nas urnas eletrônicas em 7 de outubro, data do primeiro turno. O TSE tem prazo até 17 de setembro para julgar todos os registros de candidatura. A defesa de Lula prevê o julgamento no dia 6.
Nos bastidores, ministros da Corte eleitoral cogitam tomar decisão definitiva antes do prazo se esgotar. O objetivo seria julgar o caso em plenário até 31 de agosto, o que impediria o petista de aparecer na propaganda de rádio e TV. Embora os advogados possam recorrer ao próprio TSE e, depois, ao Supremo Tribunal Federal, o entendimento é de que os recursos não têm poder de suspender efeitos do indeferimento da candidatura, mantendo Lula fora da campanha.
Enquanto prepara a batalha jurídica, o ex-presidente trabalha para isolar Ciro. O PT tenta evitar que o pedetista consiga atrair PSB e PC do B para seu palanque. Os comunistas realizam convenção nesta quarta-feira (1º) para homologar a candidatura de Manuela D’Ávila, mas deixam brecha para possíveis alianças. No fundo do palco onde Manuela irá discursar, haverá faixa com a frase "Unidade Já".
— Ela é candidata à Presidência e está aberta ao diálogo. Porém, nem PT nem Ciro conseguem construir caminho. O PT tem medo de indicar vice de outro partido e essa pessoa acabar se tornando a figura pública, diminuindo o papel de Lula. Já Ciro está mais interessado em compor com algum partido de centro-direita — avalia uma testemunha das negociações.
Agosto decisivo
Do primeiro ao último dia, agosto será decisivo para os principais postulantes à Presidência da República. O mês começa com as últimas convenções partidárias chancelando alianças, passa pelo registro das candidaturas e deve se encerrar com a definição sobre a situação de Lula até o dia 31, quando tem início a propaganda eleitoral no rádio e na TV.
Tamanha profusão política acentua a busca por alianças. Até agora, nenhum dos primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto definiu vice.
Não bastasse a generalizada ausência de um companheiro de chapa, apenas Geraldo Alckmin (PSDB) montou coligação robusta. Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSL), Lula e Marina Silva (Rede) ainda não atraíram outros partidos para seus palanques.
No PSB, a indefinição é geral. O partido queria que o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda aguardasse até o final de semana, quando poderia ser anunciado vice de Ciro, mas ele está irredutível na disposição de concorrer ao governo de Minas Gerais. Diante do impasse, é possível que a legenda fique neutra no primeiro turno, liberando os diretórios estaduais para as composições mais convenientes.
— O Nordeste quer apoio a Lula, São Paulo a Alckmin, Paraná a Alvaro Dias (Pode), outros querem o Ciro. Então, a tese mais forte hoje é de liberação, pois causa menos traumas – admite o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
No PSDB, a discussão agora se resume à escolha do vice. Depois de conquistar o centrão e garantir 40% do tempo total de TV, Alckmin se preocupa em não melindrar os aliados.
O ex-governador de São Paulo tem testado vários nomes, nenhum ainda capaz de satisfazer o condomínio DEM/PP/PR/PRB/SD. A tendência é de que seja alguém do Nordeste, em uma tentativa de amenizar o forte apelo eleitoral de Lula na região.