No dia 2 de abril, o PSB anunciou com pompa a filiação do ex-prefeito de Porto Alegre José Fortunati, prometendo-lhe uma das candidaturas ao Senado. Na ocasião, o presidente do partido, José Stédile, foi taxativo sobre as exigências para emprestar apoio aos postulantes ao governo do Estado: queria as duas vagas, uma para Fortunati e outra para Beto Albuquerque.
— Só abriremos qualquer negociação com estes dois nomes, que são fortes e com reais chances de se elegerem — salientou.
Stedile chegou a informar aos membros da Executiva que os pré-candidatos Jairo Jorge (PDT) e Eduardo Leite (PSDB) aceitavam abrigar a dupla socialista. Na gelada noite de quinta-feira (14), porém, o PSB decidiu, por 58 votos a 34, que apenas Beto seria candidato. Por diferença maior, 60 a 35, o partido também escolheu apoiar a reeleição do governador José Ivo Sartori (MDB).
Rifado pelos novos colegas, Fortunati se recolheu. Na tarde de sexta-feira (15), evitou dizer que havia sido traído, mas lembrou de episódio semelhante ocorrido em 2000, quando seria o candidato natural do PT à prefeitura da Capital mas acabou abandonado pelo partido, que preferiu Tarso Genro.
— Nas duas vezes, pelo mesmo motivo: acreditar na palavra. Fui ingênuo por acreditar nas pessoas.
Confira a entrevista completa:
Como o senhor recebeu a decisão do PSB de lhe negar legenda para candidatura ao Senado?
Com surpresa. Como o convite me foi feito por unanimidade da executiva estadual, tinha a tranquilidade da candidatura, mesmo com o desconforto de alguns. Minha primeira opção sempre foi o PSB. Na medida que as negociações iam e voltavam, eu comecei a conversar com outros partidos, sempre dizendo que era candidato ao Senado. E todo mundo me dava garantia de concorrer, alguns já com estrutura de campanha. Até que no dia 2 de abril, o presidente José Stedile me liga convidando para ir à sede. E lá toda a executiva me comunicou que o PSB com o Beto (Albuquerque) e comigo tinham dois nomes e que só coligariam para quem oferecesse as duas vagas ao Senado. Está em ata isso. Diante desse convite, concordei em assinar ficha no PSB.
O que ocorreu?
Eu percebi que o Beto fazia movimentos para implodir com minha candidatura. Não tenho nada contra ele, só quero que o PSB cumpra com a sua decisão. Palavra empenhada é compromisso assumido. Me surpreendi com o resultado e percebe-se que isso não ocorreu gratuitamente. Acordos outros que eu não conheço...
O presidente José Stédile lhe garantiu a legenda e na quinta-feira trabalhou pela candidatura única do Beto...
Não só na quinta-feira. Ele trabalhou nos últimos tempos.
O senhor se sentiu traído?
Não vou usar adjetivos, são complicados numa hora dessas. Mas é indiscutível que me puxaram o tapete.
Na tarde de quinta, houve uma reunião da direção partidária com o governo no Palácio Piratini. O senhor acha houve uma ação para dinamitar sua candidatura?
Não creio. O que eu vi foi uma ação do Piratini para consolidar o apoio do PSB. Na medida que consolida o PSB, ofereceu uma vaga ao Senado.
Mas a reunião pode ter influenciado o diretório?
Não tenho dúvida. O PSB tem muitos cargos no governo do Estado. Isso acaba pesando.
O senhor já decidiu o que pretende fazer?
Não. Hoje é um dia de ressaca, cabeça quente. O que me deixa confortável é que tenho recebido muita solidariedade.
É a segunda vez que lhe prometem uma candidatura e na última hora lhe tiram a legenda. A que o senhor credita isso?
Nas duas vezes pelo mesmo motivo, por acreditar na palavra. Fui ingênuo por acreditar nas pessoas.
O senhor está arrependido de ter optado pelo PSB?
Se eu tivesse optado por outro partido, seria candidato. O Solidariedade até banner tinha feito para me receber. Mas eu fiz uma opção pelo PSB. Os outros partidos tinham estrutura, dinheiro, pessoas pra pré-campanha e campanha. Se pudesse voltar no tempo, bom, isso está dado, não tem volta. Fiz uma opção consciente, acreditando que a melhor. Partidos são compostos por pessoas, algumas cumprem e outras não cumprem com suas palavras. As que não cumpriram foram majoritárias ontem (quinta-feira).