Mulheres na faixa etária dos 21 aos 29 anos e com Ensino Fundamental incompleto: dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dão rosto à maioria dos eleitores de Caxias do Sul que não votou neste ano. No primeiro turno, 87 mil pessoas (25% do eleitorado) se abstiveram no município. Já no segundo turno, a parcela de ausentes subiu para 99 mil pessoas (28% do eleitorado).
De maneira geral, os dados do TSE apontam que as mulheres representaram a maior parcela dos ausentes, tanto no primeiro turno, com 45,6 mil faltantes, quanto no segundo turno, com 52,5 mil. Em relação aos homens, foram 41,6 mil faltantes no primeiro turno e 46,8 mil abstenções, no segundo turno.
Dentro do grupo dos 18 aos 69 anos, em que o voto é obrigatório, as ausências se concentraram entre os eleitores mais jovens. Em dados gerais, homens e mulheres de 21 a 29 anos representaram a maior fatia dos ausentes em Caxias do Sul. A média de abstenção em relação a esse grupo de eleitores mais jovens passou de 36% no primeiro turno a 44%, no segundo.
O dado contrasta com o grupo que apresentou menos faltas: eleitores entre 60 a 64 anos. Nos dois turnos, homens e mulheres dessa faixa etária participaram de maneira ativa do pleito, com abstenções entre 12% a 15%, abaixo da média histórica em Caxias.
— Os eleitores dessa idade nasceram na época em que não tinha eleição no Brasil. Eles viveram a redemocratização, então possivelmente a participação do processo democrático com o voto tenha outro significado para eles — acredita o chefe do Cartório Eleitoral, Edson Borowski.
Na avaliação da cientista política Elis Radmann, a falta de envolvimento das novas gerações com a política está ligada com o sentimento de falta de mudanças no cenário.
— Nós temos promessas que são feitas durante o processo eleitoral, e as pessoas, principalmente os jovens, votam com esperança. Depois esse grupo acaba frustrado porque as promessas não acontecem ou não ocorrem da maneira como era esperado. Então, isso cria um ciclo vicioso de expectativa e frustração — explica.
O que esperar dos novos eleitores
A participação de eleitores entre 16 e 17 anos na eleição municipal de 2024 também apresentou altos níveis de ausência. No primeiro turno o índice chegou a 35%, contando homens e mulheres. Assim como esperando, no segundo turno a abstenção cresceu e atingiu 37%.
Conforme Elis Radmann, esse grupo costuma ter um envolvimento maior com o pleito. O voto é encarado como um novo compromisso e uma forma de ascensão na vida social. No entanto, a cientista ressalta que a permanência desse eleitor nos pleitos precisa de um incentivo maior do que a obrigação de votar.
— Neste início da vida adulta, o jovem está motivado a participar, mas o que tem se visto nas pesquisas é que o ativismo digital e o envolvimento com alguma temática têm impulsionado a permanência nos pleitos. Quando o jovem escolhe um tema para votar, seja pets, meio ambiente, ou quando ele entra para uma ideologia, ele se mantém votando ao longo dos anos — indica.
Para a cientista política, além da iniciativa pessoal, um mecanismo capaz de atrais os jovens para o debate político é o desempenho da prefeitura e da Câmara de Vereadores. Quanto mais demandas forem solucionadas e projetos que atendam aos anseios desse público apresentados, maiores são as chances do novo eleitor optar pelo voto em vez da abstenção.
Abstenção acima da média histórica
Em termos de ausências, a eleição municipal de 2024 apresentou um crescimento expressivo. Os percentuais de 25% do eleitorado no primeiro turno e de 28% no segundo estão acima da média histórica, que até então indicava abstenção de 20% do eleitorado caxiense. Conforme Edson Borowski, o percentual de eleitores que tem deixado de votar na cidade está em pleno crescimento.
— Até o ano de 2010, o percentual de abstenção não passava de 10%. Em 2014, o índice subiu para 15%. Em 2018 ficou em 14%. Ali na pandemia, em 2020, a abstenção chegou a 24%, mas era algo esperado pela questão do isolamento. E neste ano alcançamos o índice de 28% de faltantes — detalha Borowski.