A partir das 7h deste domingo (6), 4.621 caxienses convocados para trabalhar nas eleições municipais, sendo cerca de 90% voluntários e o restante de não voluntários convocados para preencher as vagas necessárias, irão se apresentar em 162 locais de votação espalhados pela cidade e pelo interior. A apresentação uma hora antes, como explica o voluntário Ricardo Rubens Pereira, 43 anos, é para fazer um último teste nas urnas que terão sido recebidas e testadas no sábado, também pelos voluntários. 1.096 urnas serão utilizadas em Caxias do Sul neste ano, nas 1.110 seções eleitorais (algumas urnas atendem a mais de uma seção, onde há poucos eleitores).
Professor de Ciências Humanas e Éticas, Ricardo é voluntário nas eleições desde 2004, sempre na Escola Estadual Hercília Petry, em Ana Rech. Além de ter trabalhado em todos os pleitos municipais e federais desde então, como secretário, mesário ou presidente de seção, trabalhou também no referendo do comércio de armas de fogo e munições, em 2005.
— Eu tinha 23 anos e decidi experimentar, porque era algo diferente, e gostei. Além de estarmos colaborando com a democracia e exercendo nosso papel de cidadão, o trabalho é prazeroso. A gente passa a conhecer muita gente, forma uma equipe legal com os colegas. É um dia que passa bem rápido — comenta.
Cada voluntário recebe dois de folga por dia trabalhado (o que pode somar oito dias de folga, caso haja segundo turno), e um vale-refeição de R$ 60 para cada domingo, quando a jornada dura cerca de 10 horas, até a impressão do boletim de urna e entrega do disquete para a Polícia Federal. O voluntário conta que, na sua seção, o momento do dia em que há mais movimento é após as 10h.
— É quando acaba a missa. Aqui em Ana Rech votam muitos idosos, e grande parte gosta de vir votar depois de fazer as suas orações. À tarde volta a ficar tranquilo. Nestes 20 anos, nunca tive ou presenciei nenhum problema com urna, que precisasse ser trocada, nem com eleitor. Pelo menos para o voluntário, a eleição é um dia leve.
Além de 4.167 mesários, o voluntariado mobilizado em Caxias será distribuído entre administradores de prédios (328) e auxiliares de eleição (126). Todos os dados foram fornecidos pela Justiça Eleitoral.
OITO DÉCADAS DE COMPROMISSO DEMOCRÁTICO
Com 347.184 eleitores aptos a irem às urnas neste domingo, Caxias do Sul tem o segundo maior eleitorado do Estado e o 48 do país (era o 43º em 2020). Mesmo dispensado da obrigação de comparecer à urna, uma vez que o voto deixa de ser obrigatório após os 70 anos, Antônio Telles da Silva, aos 97, já separou o título para dar seu voto nesta eleição.
Antônio mora em Caxias do Sul, mas é nascido em São Francisco de Paula, onde viveu a maior parte da vida na comunidade de Pedra Lisa, distrito de Cazuza Ferreira. Se hoje faz o caminho até a igreja do bairro Sagrada Família, seu local de votação, acompanhado da inseparável bengala, antigamente, no interior de São Chico, ia votar montado no cavalo.
— Desde o fim do Estado Novo de Getúlio Vargas que eu voto (nas eleições de 1945). Acho que é uma parte importante da vida. A pessoa tem que manter o entusiasmo pela eleição — comenta, com suas frases curtas.
O envolvimento da família com a política, mesmo sem ser partidário, é ainda mais antigo. O nonagenário guarda consigo o título de eleitor do pai, Generoso da Silva, documento que também está reproduzido em um livro que reúne memórias de moradores da localidade de Pedra Lisa.
— Meu pai, com 15 anos, lutou na Revolução de 1923, pelo lado dos chimangos. Meu bisavô serviu ao exército na Guerra do Paraguai (1864 a 1870). Então as histórias sobre política sempre fizeram parte da vida na nossa família — conta o idoso, que trabalhou a maior parte da vida em uma madeireira.
Uma das filhas de Antônio Telles, Enia Antonieta Boff comenta que o pai tem boa memória e é antenado a tudo o que acontece, graças ao fato de ser um leitor de jornal e ouvinte assíduo de rádio. Além da mente ativa, Seu Antônio também mantém o corpo em movimento:
— O pai não é muito de ficar em casa. Gosta de estar na rua, frequenta os bailes em Cazuza Ferreira. Até os músicos já conhecem ele. Não é fácil acompanhar o pique que ele tem — diverte-se a filha.
CRESCIMENTO DE 4% NO ELEITORADO
Em nenhuma eleição Caxias do Sul teve tantos eleitores aptos a votar. O crescimento em relação ao pleito municipal de 2020, que teve 333.696 eleitores habilitados, foi de 4%. Idosos como seu Antônio Telles, cujo voto é facultativo por já terem mais de 70 anos, são 35.884. Um pouco só a mais do que a fatia mais jovem, entre 16 e 24 anos, que soma 35.773 pessoas. A maior parte do eleitorado caxiense está concentrada na faixa entre 35 e 59 anos, representando quase metade do total (46,3%).