Mais uma vez, Caxias do Sul aumentou a bancada feminina na Câmara de Vereadores. Em 2020, haviam sido cinco eleitas. Neste ano, para legislatura entre 2025 - 2028, foram sete. Novamente, quebra o recorde de mais representantes femininas da história. A mais votada no domingo (6) foi Daiane Mello (PL), com mais de cinco mil votos, enquanto o PT é o partido com mais parlamentares: duas. Ao mesmo tempo, três vereadoras conseguiram a reeleição.
— Eu, como mãe, mulher, levo algumas especificidades para dentro da Câmara, assim como a realidade de todas as outras mulheres que estão entrando. Eu acredito que vai ser uma bancada muito atuante na Câmara de Vereadores e os homens que se cuidem — promete Daiane.
Além dela, esta bancada histórica é composta por Marisol Santos (PSDB), reeleita com 4.783 votos; Estela Balardin (PT), reeleita com 3.821; Andressa Mallmann (PDT), eleita com 3.491; Rose Frigeri (PT), reeleita com 2.329 votos; Andressa Campanher Marques (PCdoB), com 2.171; e Sandra Bonetto (Novo) com 1.814. Juntas, elas somaram 23.443 votos.
— Eu já estava muito feliz de fazer parte da legislatura com a maior bancada feminina da história, de ser presidente da Câmara também nesse período histórico e agora ainda mais tendo as sete mulheres. Isso também sempre foi uma das minhas bandeiras durante o mandato, com todas as iniciativas para o fornecimento da presença das lideranças femininas na nossa Câmara — celebra Marisol.
A primeira mulher eleita para a Câmara de Caxias do Sul foi no pleito realizado em 8 de novembro de 1959. Aos 43 anos, Ester Troian Benvenutti foi a mais votada de sua sigla, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com 1.068 votos para a legislatura 1960-1963.
A mulher mais votada da história foi Paula Ioris, atual vice-prefeita de Caxias, com 5.823 votos nas eleições de 2016. Na atual legislatura, cinco mulheres compõem a Câmara. Três delas continuarão no ano que vem: Marisol, Estela e Rose.
— É uma resposta sem dúvidas da sociedade, que entende que cada vez mais a mulher tem que participar e ocupar todos os espaços, inclusive os de poder, de tomada de decisão. Mas, ainda tem muita luta para ser feita, ainda tem muito para a gente construir, porque a gente precisa de paridade dentro do parlamento — diz Estela.
Houve aumento também nos votos válidos para as mulheres. Juntas, as 119 candidatas receberam 55.941 votos. É 24,29% dos 230.274 votos válidos. Em 2020, a porcentagem foi de 20,1% (50.454 votos de 250.972 válidos).
"A saúde das democracias depende da pluralidade"
Não só o aumento na bancada feminina é relevante, como aponta a cientista social e doutora e mestra em sociologia Aline Passuelo de Oliveira. A professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS) analisa que outro fator positivo é que são parlamentares eleitas por diferentes partidos, e em espectros políticos distintos.
— São mulheres que têm trajetórias distintas, são de partidos distintos. E isso para o avanço civilizacional, para o avanço enquanto sociedade, isso é bem importante — avalia Aline.
É claro que ainda é um passo em busca de uma igualdade. Assim como em outras cidades e no próprio Congresso Nacional, o perfil dominante e que se mantém há décadas ainda é de um homem branco, de meia-idade e heterossexual. Mesmo assim, a especialista nota que o aumento deve ser destacado, bem como o fato de que há candidatas que estão conseguindo se reeleger:
— Reeleições são grandes vitórias no sentido de que o trabalho dessas mulheres está avaliado e valorizado pelo eleitorado. O aumento de duas cadeiras em relação ao pleito anterior também é bastante importante e a gente consegue enxergar, de fato, uma tendência a esse acolhimento à diversidade dentro da casa legislativa, porque é exatamente isso, a saúde das democracias depende dessa pluralidade.
Conheça as sete vereadoras e as propostas delas:
Andressa Campanher Marques, 28 anos
É natural de Itaqui (RS) e mudou-se para Caxias do Sul aos oito anos, junto com os pais e os irmãos em busca de uma vida melhor. É moradora do bairro Petrópolis. Trabalha como assistente social.
Filiou-se ao PCdoB aos 16 anos e faz parte da União da Juventude Socialista. Já foi candidata a vereadora em 2016 e 2020, tendo assumido como suplente na atual legislatura.
Vai lutar pelas mulheres na Câmara, pelo acesso a direitos sociais, qualidade na saúde e educação.
Andressa Mallmann, 40 anos
Natural de Veranópolis, ela mora em Caxias há mais de 20 anos. Moradora do bairro Madureira, Andressa é empresária e ativista da causa animal.
Ela fundou a Organização Não Governamental (ONG) Sem Raça Definida há cerca de dois anos.
Na Câmara, quer buscar união entre ONGs e protetores para debater propostas sobre lares temporários, castração e legislação sobre maus-tratos.
Daiane Mello, 37 anos
Nasceu em Caxias do Sul e é moradora do bairro Fátima. Ela é formada em Relações Públicas e é mãe da Yasmin, nove anos.
Já foi suplente do MDB em 2015 e assumiu cadeira quando Felipe Gremelmaier se licenciou para ocupar cargo no Executivo. Aos 37 anos, é casada.
Foi coordenadora do Grupo de Jovens Fátima em Foco do Bairro Fátima, assessora de gabinete da Secretaria Municipal de Gestão e Finanças (janeiro de 2009 a janeiro de 2011), coordenadora da Região Fátima pelo Orçamento Comunitário do município (janeiro de 2011 a junho de 2012), diretora da Unidade de Arte e Cultura Popular da Secretaria Municipal da Cultura (janeiro de 2013 a janeiro de 2015).
Recentemente, foi diretora da Estação Cidadania - Cultura no bairro Cidade Nova (2021-2023). Entre as bandeiras da nova vereadora, estão um sistema educacional inclusivo, saúde e "para manter viva a cultura da cidade".
Estela Balardin, 25 anos
É natural de Caxias do Sul e foi reeleita como vereadora. Moradora do Serrano, ela também é professora das séries iniciais.
Aos 15 anos, entrou no movimento estudantil, quando foi presidente do grêmio estudantil do Cristóvão de Mendoza e presidente da União Caxiense de Estudantes Secundaristas (UCES). Em 2017, filiou-se ao PT. Em 2020, foi eleita a vereadora mais jovem da história de Caxias.
Além de lutar pelas mulheres, negros e negras, juventude e proteção às mulheres, ela também quer melhorar a saúde municipal e tratar de habitação digna.
Marisol Santos, 47 anos
Nascida em São Leopoldo, ela trabalhou como jornalista durante 20 anos. É formada em jornalismo e relações públicas. Também foi professora.
Em 2019, foi assessora na Assembleia Legislativa. Foi quando decidiu concorrer como vereadora. Foi eleita em 2020, com mais de quatro mil votos.
Atua com questões voltadas às mulheres e educação especial.
Rose Frigeri, 61 anos
Nascida em Caxias do Sul, é formada em Direito e História, com mestrado em História e especialização em Sociologia. É advogada e professora. Moradora do bairro Rio Branco, é mãe do Vitório Augusto, 20 anos.
Aos 11 anos entrou no grêmio estudantil do colégio Clemente Pinto. A partir dali, participou do movimento no Ensino Médio e também na Universidade. Está filiada no PT há 41 anos. Também participou da direção do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv), entre 2017 e 2020. Em 2020, foi eleita como 1ª suplente do PT, tendo assumido a vaga de Denise Pessôa, eleita como deputada federal em 2022.
Atua em oportunidades para os jovens, proteção às mulheres e quer lutar pela universidade federal em Caxias.
Sandra Bonetto, 46 anos
Natural de Caxias do Sul, nasceu na comunidade do São José da Linha Feijó. Mora em Forqueta. É relações públicas.
Há 30 anos trabalha na comunidade de Forqueta. Na paróquia, fez parte do grupo de jovens. Em seguida, foi convidada pra trabalhar na Festa do Vinho Novo. Atuou como coordenadora do Ponto de Cultura Costurando Sonhos e foi subprefeita de Forqueta por cinco meses. Também esteve à frente da Associação de Moradores de Forqueta.
Quer manter os jovens na agricultura e trabalhar com cultura. Também quer atender às demandas da saúde e da educação.