Para participar do 14º Seminário de Saúde do Trabalhador, realizado no UCS Teatro (leia na página 4), o senador Paulo Paim (PT-RS) esteve em Caxias do Sul, sua cidade natal, nesta sexta-feira (26). O petista foi convidado a fazer uma fala inaugural do evento, que trata de uma das principais bandeiras que Paim defendeu ao longo da sua trajetória política. Na cidade, o senador também participou de almoço com a direção do Hospital Pompéia, que o convidou como agradecimentos às emendas parlamentares enviadas à instituição.
Na UCS, Paim reforçou o que chama de vigilância permanente, para prevenção de doenças e acidentes de trabalho. Ele também abordou a reforma da Previdência e as mudanças nas leis trabalhistas, uma pauta que o senador defende no Senado há pelo menos cinco anos, desde que elaborou o Novo Estatuto do Trabalho.
Sempre acompanhado das lideranças petistas da região, como a deputada federal Denise Pessôa (PT) e o deputado estadual Pepe Vargas (PT), Paim foi ao Pompéia, onde ouviu os planos da superintendente da instituição, Lara Vieira, de equiparar a capacidade da ala SUS com os atendimentos particulares — ou seja, atender a mesma quantidade de pacientes públicos e privados.
À tarde, o senador visitou a redação do Pioneiro e concedeu entrevista exclusiva. Entre os assuntos abordados, Paim – que é senador desde 2003 – falou sobre investimentos na região, política municipal e nacional, e também deu uma pista sobre o seu futuro na política, após o fim do atual mandato, que começou em 2019 e se estende até 2026.
Articulação de recursos para a região com o governo federal
"Precisa fazer um movimento para dentro do governo, é lá que estão os grandes investimentos. As nossas emendas são importantes, mas grandes obras, de fato, tem que fazer um movimento das forças políticas e sociais, empresariais, para dentro do governo. Às vezes, e não estou fazendo nenhuma crítica a ninguém, falta um pouco mais de comunicação. O governo Lula é um governo aberto para todos. O Lula tem uma posição republicana, ele procura atender todos os Estados, naturalmente, sem discriminar nenhuma região. Está faltando um pouco de comunicação, e digo de todos nós, me incluo, essas pendengas que estão aqui poderiam ser respondidas, porque a União tem condição, sabemos que tem, de atender com mais carinho essa região. (Destravar obras expressivas) passa por articulação política, isso é verdade. Não é só apresentar a demanda. Todos temos que apresentar e acompanhar, senão não anda mesmo. Tem que costurar, falar com o coordenador da bancada gaúcha. As decisões da bancada normalmente não têm grandes conflitos. A bancada define as prioridades e todo mundo vota junto. É difícil ter alguém que crie obstáculos."
Eleições municipais e chapa PT-PDT em Caxias
"A Denise (Pessôa, deputada federal do PT e pré-candidata a prefeita em Caxias) é uma jovem liderança, que tem se destacado, inclusive no Congresso Nacional, tenho acompanhado o trabalho dela. E aqui na região também, eu vi nos eventos que ela foi comigo o carinho da população com ela e dela com a população. O Alceu (Barbosa Velho, ex-prefeito e pré-candidato a vice-prefeito pelo PDT), eu o conheci quando ainda era prefeito da cidade. Eu acho que o PDT e o PT sempre estiveram caminhando muito próximos. E nos municípios onde eles resolvem caminhar juntos, tem tudo para dar certo. O que é o PDT? É o trabalhismo. O que é o PT? É o trabalho. Então tem muita similaridade, tem muita aproximação, tem muita coerência em matéria de programa. É uma boa indicação dos dois e tem tudo para dar certo."
Grandes obras tem de fazer um movimento das forças políticas e sociais, empresariais, para dentro do governo
Renovação de lideranças
"É natural que a medida que nós vamos envelhecendo outros terão que vir, ninguém é insubstituível. Eu dizia sempre que quando o Brizola faltasse, o PDT levaria um baque, e levou, é só ver o PDT do tempo do Brizola e agora. O Lula sem sombra de dúvida é uma liderança global, e está fazendo o papel dele, é só ver os investimentos, a política econômica está bem melhor, estamos praticamente tirando de novo o Brasil da linha da fome, taxa de juros caindo, enfim. Eu digo isso tudo porque ele está fazendo um bom governo e tem chance real de se reeleger, mas é uma decisão dele, ninguém vai contestar se ele resolver concorrer novamente. Mas é preciso que se comece a formar novas lideranças, não podemos ser um partido dos mesmos, que aperta, aperta, aperta e os mesmos concorrem. Até muitas vezes se elegem, mas é preciso olhar para a juventude que está aí, com pique, com raça, com força, com coragem, com competência, e dar essas oportunidades para que possam ir galgando o seu espaço na vida pública. A gente fala tanto que a vida política é quem norteia o destino de um país, porque tudo se decide ali. Se eu não concorrer, eu pretendo, provavelmente, colaborar para formar novas lideranças políticas. É importante fazermos com que a juventude vá assumindo seus espaços. Acho que é o natural, os nomes vão surgindo, um momento bom para ver isso será nas eleições desse ano."
Fortalecimento digital da esquerda
Eu não digo que vamos (esquerda) aprender com a direita, porque a direita não é fácil. Nós somos muito voltados para as políticas mais humanitárias, solidariedade, distribuição de renda, querer que a vida melhore para todos, existe uma diferença de visão de mundo. Agora, o que eu noto é que o setor mais à direita entra muito nesse campo virtual, ou seja, a inteligência artificial, a tecnologia, as redes sociais têm sido muito poderosas. Eles (direita) avançaram muito na comunicação pelas redes sociais. Com fake news, sem fake news, sei que são poderosas. É fundamental nos prepararmos, nós do campo da esquerda, se nós não trabalharmos cada vez mais com essa visão... Os caras dominam a tua mente e induzem o que tu tem que comprar, como é que tu tem que agir e em quem tu tem que votar. Isso é um perigo, mas é uma realidade. Então, acho que aí eles estão na nossa frente, mas nós temos que ir trabalhando para não ficar para trás.
Regulamentação da internet
"Tem que regulamentar as redes sociais. Não tem como não regulamentar. É um princípio constitucional, o teu direito termina quando começa o direito do outro. Tu não pode ir para uma rede querer esculhambar com o cidadão, com inverdades, mentiras, isso é crime, é calúnia. Ninguém quer fazer um bloqueio, não é isso. Cada um trabalha como entender melhor, mas não pode também cair no campo do devaneio, do absurdo, de ofensas, porque tudo tem limite. E por isso que o mundo todo está regulamentando, não é o Brasil que está inventando isso. Nós defendemos a regulamentação para ter limite, para que essa história de fake news não seja o que é hoje. Hoje é fake news para todo lado e, de repente, uma mentira dá a impressão que é verdade. Aquela história de que uma mentira contada tantas vezes e tantas vezes passa a ser uma verdade."
É preciso que se comece a formar novas lideranças, não podemos ser um partido dos mesmos
Elon Musk, Alexandre de Moraes e STF
"(Elon Musk) acha agora que é o dono do mundo, a partir do poder econômico dele. Não, o Alexandre (de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal) está dizendo "alto lá". Alto lá, não é bem assim que agora você vai querer dizer e dar o norte, o sul, o leste e o oeste, conforme a cabeça dele, não respeitando nenhum princípio. Acho que a democracia está firme e forte, nesse aspecto o Supremo é muito correto na minha avaliação. A democracia, em primeiro lugar, tem uma constituição e ela tem que ser respeitada. Não respeitou, você vai ter que responder pelos seus atos."
Futuro político
"Eu entrei lá na Constituinte. Sou um dos escritores, um dos que trabalhou e votou e construiu a Constituição. Então, faz muito tempo que eu estou lá (no Senado). Os anos vão passando, a gente vai envelhecendo, é um processo natural da vida. Tenho dito que pretendo encerrar, não concorrendo em 2026, mas naturalmente não deixarei de trabalhar, de militar, de ter um processo de solidariedade e ficar nessa linha de políticas humanitárias. Talvez uma fundação, um instituto para continuar ajudando o povo do Rio Grande como sempre me ajudou. Agora, há uma pressão de setores e da sociedade do Rio Grande que sempre votaram em mim e apostam no trabalho que eu tenho feito. Muita gente diz que não consegue ver o Senado sem mim. Muita gente acha que essa minha marca de um trabalho mais universal vai fazer falta, então tentam me pressionar daqui e dali."