O crescimento do adoecimento mental dos trabalhadores pautou a fala do especialista em Medicina do Trabalho e doutor em Saúde Pública, médico Rene Mendes, em Caxias do Sul, na manhã desta sexta-feira (26). Ele abriu o 14º Seminário de Saúde do Trabalhador, realizado no UCS Teatro.
Para uma plateia cheia, Rene evidenciou que nenhuma categoria está imune ao adoecimento mental ligado às atividades profissionais. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), mostrados pelo especialista, revelam que os enfermeiros, seguidos pelos professores e motoristas, lideraram as notificações de transtornos mentais relacionados ao trabalho entre os anos de 2006 e 2021. O mesmo sistema indica que, em 2007, foram contabilizadas 122 transtornos deste tipo, enquanto que, no ano passado, foram 3.567 casos. Em relação ao sexo, as mulheres são as mais afetadas, representando, por exemplo, em 2023, 2.579 notificações.
— O crescimento está associado, segundo nosso entendimento, às condições, as mudanças no mundo do trabalho, reformas trabalhistas e outras reformas da organização, além do sistemas de assédio no ambiente de trabalho. Aumentou a visibilidade, sobretudo, das formas graves, como por exemplo, o suicídio. É uma coisa dramática e completamente inadmissível que alguém se suicide pelo trabalho ou em função do trabalho — sinaliza o especialista.
O médico usou termos como gestão de assédio, gestão de humilhação e competição predatória para jogar luz sobre as causas de adoecimento.
— Vivemos hoje é uma pandemia de sofrimento e de adoecimento mental (...) No atual modelo de trabalho, as pessoas são rivais umas das outras, há uma competição predatória em que não há colegas, há competidores. É uma ideologia da alta performance, da alta produtividade, que você tem que ser o melhor, o vencedor. Perdeu-se o que chamamos de laços de solidariedade — opina.
Rene ainda ressaltou que o adoecimento mental do trabalhador é um problema social, político e econômico e que combatê-lo passa pelo empoderamento não só do indivíduo, como do coletivo.
— Os trabalhadores sozinhos, enquanto o indivíduos, têm pouca possibilidade de perceberem, fortalecerem ou de resistirem. As pessoas isoladas tendem a nem perceber que estão adoecidas. Precisamos fortalecer o coletivo e resgatar a força das pessoas, aquilo que nós chamamos na Psiquiatria de suporte social. Para mudar, precisamos empoderar a classe trabalhadora, mudar os determinantes dessa situação e o modelo de organização de trabalho. Sei que podemos tomar um calmante, podemos ter uma folga. Mas isso não resolve. Tem que ir na base — diz Mendes.
O 14º Seminário de Saúde do Trabalhador segue com programação durante a tarde desta sexta-feira. A entrada é gratuita e ainda é possível se inscrever para as palestras. A realização do seminário é do Sindicato dos Metalúrgicos e de outros movimentos.