Na noite de sexta-feira (8), o ex-procurador, ex-coordenador da Operação Lava-Jato e ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo) concedeu palestra em Caxias do Sul, com o tema "As lutas de um deputado cassado pelo sistema". O encontro promovido pelo partido do qual Deltan é considerado embaixador nacional foi realizado no Restaurante Bona Petti, com um jantar seguido da palestra.
O político está no Rio Grande do Sul desde quinta-feira (7), quando levou a chamada "Caravana Dallagnol" para Santa Cruz e Santa Maria. Na manhã de sexta, também houve palestra em Pelotas. A agenda encerra-se neste sábado (9), em Porto Alegre. Segundo Dallagnol, a conversa aborda bastidores da Lava-Jato, da passagem pelo Congresso Nacional durante cinco meses, entre o início do mandato em fevereiro deste ano e sua cassação em maio.
— Trago para as pessoas a importância de elas assumirem o protagonismo da transformação que elas querem ver, e de dar um passo à frente, se envolverem e se unir em time para transformar. Vou contar um pouco também da razão pela qual eu decidi me unir, depois da cassação, a esse time que é o Novo — afirmou.
Em entrevista ao Pioneiro, Dallagnol repercutiu o posicionamento do Novo na política nacional, a operação Lava-Jato e a sua cassação.
Confira:
Como o Novo se posiciona atualmente no cenário político?
Hoje, a característica do Novo é de um partido de direita que tem a coragem de enfrentar os donos do poder, que são aquelas pessoas que estão na política para se servirem da política, para se servirem do Brasil, em vez de estarem na política para servir ao Brasil. O Novo tem um espaço aberto para a pessoa que tem o perfil liberal e para o perfil conservador. O Novo teve uma série de aprendizados ao longo dos últimos anos. Um deles é que o Novo faz política, então ele vai ter que estar inserido no meio político, conversando com os políticos, dialogando, buscando construir soluções, fazendo política por meio das boas práticas.
Por que o partido decidiu usar o fundo eleitoral?
O Novo percebeu que não usar o fundo partidário é a mesma coisa que você entrar num jogo de futebol em que as pessoas jogam com 11 jogadores, e você entra com um time de cinco, você vai entrar pra perder. Se a gente quer mudar as regras do jogo, a gente precisa entrar no jogo. A estratégia do partido é utilizar o fundo eleitoral para colocar pessoas que possam diminuir ou extinguir o fundo eleitoral. O fundo eleitoral vai ser usado com transparência.
O eleitor não pode achar a decisão contraditória?
Não. Hoje quem não usa o fundo eleitoral está praticamente fora do jogo. Há 10 anos, quando o Novo foi criado, o fundo eleitoral era mínimo. Hoje está indo para cinco bilhões de reais, e é distribuído pelos caciques partidários na velha política basicamente para as pessoas ao redor deles que já estão no poder. Já o Novo tem uma ampla abertura para pessoas novas, busca critérios objetivos e meritórios de distribuição de recursos, com controle e transparência em relação a como é usada essa verba pública. Esses recursos são como uma faca, que você pode usar para o mal ou para o bem. Pode usar para passar a manteiga no pão e dar para uma criança com fome, ou para matar uma pessoa. O Novo tem o compromisso de utilizar isso pra lutar por bons propósitos e com transparência.
Havia legalidade jurídica nas conversas entre o senhor e o então juiz Sérgio Moro sobre os processos da Lava-Jato em andamento?
É perfeitamente legal e legítimo as partes argumentarem o caso perante o juiz. A gente fez isso pessoalmente uma série de vezes, por telefone, e, por conta do número de casos que a gente tinha, a gente fez isso inclusive por meio de mensagens. Não tem nada de ilegal ou de ilegítimo nisso. Todas as partes, advogados, promotores, procuradores, fazem isso todo dia perante juízes de tribunais. O que a gente viu a partir da divulgação daquelas mensagens foi uma série de deturpações, manipulações que transformaram em uma grande fofoca querendo bancar de escândalo. Até hoje, não se mostrou nenhuma investigação ou processo que tenha sido feito errado com base naquelas mensagens.
O senhor foi cassado de forma unânime pelo Tribunal Superior Eleitoral. Como avalia a decisão?
O que existe é uma perseguição contra quem combateu a corrupção. Isso não é o que eu acho, isso é fato. Quando houve minha cassação, todos os jornais do Brasil criticaram a decisão. O que fizeram foi uma grande injustiça dentro de um contexto maior de reação do sistema contra quem combateu a corrupção.