Em Caxias do Sul, o cenário mais claro que se coloca atualmente para as eleições de 2024 é o da direita, com uma mobilização para uma frente ampla de partidos alinhados com essa ideologia, apoiando uma candidatura do atual vereador Maurício Scalco (Novo) à prefeitura. O próprio Scalco já admitiu que, para efetivar a candidatura, ele irá migrar para o PL na próxima janela partidária, em março de 2024. Além disso, o candidato a vice-prefeito pelo Novo em 2020, César Bernardi, irá acompanhar Scalco e deve ser oficializado como presidente do PL em Caxias nos próximos dias.
Nos bastidores, Scalco já participa de reuniões e definições do PL, sigla da qual ele deve se tornar presidente, inclusive, quando for oficializada sua entrada no partido. E quem participa dessas movimentações é o presidente estadual do Novo, Marcelo Slaviero. Segundo ele, não há problemas em Scalco atuar pelo PL nos bastidores, já que esta é uma combinação entre os partidos para viabilizar uma candidatura de direita à prefeitura de Caxias, com chances de vitória.
Slaviero concedeu entrevista ao Pioneiro, em que explica a decisão do partido em abrir mão de uma candidatura própria à prefeitura e fazer parte da chamada frente ampla da direita que está sendo montada para 2024 em Caxias.
Confira a entrevista:
Pioneiro: Como o Novo-RS avalia as movimentações do vereador Maurício Scalco, com sua migração para o PL?
Marcelo Slaviero: A gente vinha há um bom tempo comentando sobre ter um candidato a prefeito em Caxias, vínhamos construindo isso. Temos um claro entendimento de que a gente teria muita dificuldade de lançar uma candidatura a prefeito, que defendesse nossos valores e princípios, sem criar coligações. Quando o (Maurício) Scalco manifestou o desejo de concorrer, percebemos que existia o interesse de outros partidos em ter candidatos do próprio partido também. Então dificilmente o Novo conseguiria liderar uma coligação com candidatura a prefeito, em função do tamanho, da estrutura e das dificuldades que o próprio partido tem de se organizar, pelas limitações que a gente impõe nas próprias candidaturas. O Scalco colocou isso, disse que havia convite de vários partidos, e falava abertamente em migrar para outro partido na próxima janela. A única coisa que ele sempre deixou claro é que ele não gostaria de sair do partido, e que, se ele o fizesse, seria única e especificamente para viabilizar uma candidatura do campo da direita. Nessa conversa com outros partidos, o que ele colocou é que a única forma de viabilizar uma coligação ampla seria ele migrando para outro partido.
Como Maurício Scalco chegou ao PL?
O PL tinha sido convidado a integrar o atual governo municipal, assim como vários partidos com quem o Novo conversou. O atual governo tem cooptado quase todos os partidos, é difícil achar quem não esteja de alguma forma vinculado com o governo. O Governo Adiló (Didomenico) tem o PDT (com o líder de governo na Câmara, Lucas Diel), o PSB, mais toda a base que foi construída anteriormente, e hoje se aproxima do Republicanos, colocando a possibilidade do João Uez ser vice do Adiló pelo Republicanos. Essa mesma oferta foi feita ao PL, para que convidasse o João Uez e participasse do governo com secretarias. Nosso objetivo foi garantir ao Scalco que ele vai ter viabilidade eleitoral e política, ainda que, para isso, ele tenha que sair do Novo e migrar para outro partido. A construção da candidatura dele já está viabilizada, com pelo menos quatro partidos claramente comprometidos: PP, Novo, Podemos e PL. Hoje conseguimos viabilizar uma candidatura de oposição ao Governo Adiló e também ao PT, em defesa dos valores liberais e de direita.
E como o diretório estadual (do Novo) encara essa saída?
O Scalco teve liberdade ampla, com as pessoas que estavam dispostas a construir o plano com ele, de estabelecer se ele continuaria no Novo ou se ele trocaria de partido. Eu tenho certeza que a decisão dele, de ir para o PL, está muito mais ligada ao movimento que o prefeito Adiló fez de tentar puxar o PL para dentro da base do governo, do que efetivamente uma decisão de sair do Novo naquele momento.
O que Scalco colocou é que a única forma de viabilizar uma coligação ampla seria ele migrando para outro partido
A construção era de termos uma unidade do campo da centro-direita, com um plano de governo, valores e princípios que sejam convergentes. No meio dessa construção, o Scalco teve que tomar uma decisão porque já havia um encaminhamento de um acordo entre o PL e o Governo Adiló, que inviabilizaria ou deixaria bem limitado o número de partidos, tempo de TV, capacidade de organização e número de candidatos a vereador trabalhando junto na campanha. Isso é uma coisa importante e determinante. Para termos um plano de governo que tenha suporte e apoio da sociedade, a gente precisa ter mais representação dela, e para isso precisamos estar junto com mais partidos para termos mais candidatos a vereador que possam representar essa comunidade.
Existem conversas com outras siglas para a coligação?
Vamos tentar ampliar esse leque dos quatro partidos (PP, PL, Novo e Podemos) buscando outros partidos que entendam que esse plano de governo que a gente quer é para voltar a ter uma cidade com capacidade de investimento, que realmente resolva seus problemas e não empurre com a barriga. Se a gente tiver partidos interessados em fazer essas reformas e fazer essas mudanças que a gente precisa na estrutura política de Caxias, são muito bem-vindos. Um partido que eu acho que deveria estar integrando essa coligação é o MDB. É um partido que foi reformista no governo federal com Michel Temer, o Governo Sartori foi um governo com grandes reformas. É um partido que, em Caxias, com as figuras do (deputado estadual) Carlos Búrigo, do (vereador) Felipe Gremelmaier, do (ex-governador) José Ivo Sartori, e o próprio (ex-governador) Germano Rigotto, têm muito mais alinhamento político e ideológico, nessa visão de reforma do Estado e retomar capacidade de investimento. É o que a gente quer fazer em Caxias.
Quais os planos do Novo para as eleições de 2024 em Caxias?
Um partido que deveria estar integrando essa coligação é o MDB. Eles têm muito mais alinhamento político e ideológico, nessa visão de reforma do Estado e retomar capacidade de investimento
Vamos estar juntos para construir a candidatura do Scalco, construir o plano de governo, criar uma grande nominata. O Novo vai com nominata cheia, com 24 candidatos a vereador. A gente precisa fazer uma grande nominata para ajudar o futuro governo, para que possa implementar e executar o plano de governo. Vi que já se falou muito sobre quem vai ser o vice, mas isso é uma discussão secundária, o Novo não está preocupado com isso, nunca esteve preocupado com cargos. A nossa preocupação é que se faça um plano de governo preocupado em ajudar Caxias, em fazer voltarmos a termos capacidade de investimento e ser a grande cidade que já foi. Pega a última LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2024), estamos vendo que não vai ter capacidade de investimento nenhuma. Caxias parou e não resolveu seus problemas. O problema da Maesa está aí, do Magnabosco continua o mesmo, a questão da Codeca continua a mesma, então a gente precisa encarar esse desafio de enfrentar e tomar as decisões para fazer essas reformas.
Se fala nos bastidores sobre um movimento de saída de pessoas do Novo ao PL. Como o diretório estadual encara?
Não é verdade que há uma migração. Tirando a assessora de gabinete do Scalco e o César Bernardi, não tem mais nenhum nome saindo do partido, pelo contrário. Tivemos filiações, pessoas voltando ao Novo, e o Novo está crescendo em número de filiados.