Foi por volta das 12h30min desta segunda-feira (7) que o senador e ex-vice-presidente da República no governo Bolsonaro, Hamilton Mourão (Republicanos) começou sua palestra na reunião-almoço da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Caxias do Sul (CIC-Caxias). Durante 45 minutos, Mourão falou sobre diversos assuntos, no tema da "cenários políticos e econômicos para o Brasil". Ele avaliou o atual governo e as recentes ações do Supremo Tribunal Federal (STF), tratou do pacto entre os Estados Sul-Sudeste — proposto pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) —, além de outras pautas importantes ao cenário político nacional.
O evento foi aberto pelo presidente da CIC, Celestino Loro, que exaltou o senador e fez críticas ao chamado Pacote da Democracia.
— Temos clareza que suas contribuições enriquecerão ainda mais o debate sobre a importância de encontrarmos soluções equilibradas para os desafios que enfrentamos em nossa sociedade — afirmou Loro, em seu discurso de abertura.
Na sequência, Mourão começou sua manifestação elogiando Caxias e agradecendo os, segundo ele, 55% dos eleitores da região que votaram nele em 2022.
— Tenho acompanhando a evolução e o crescimento de Caxias, uma das grandes responsáveis pelo mandato que tenho hoje no Senado. Deixo aqui uma mensagem de que o nosso país, o nosso Estado e nossa cidade são maiores do que tudo aquilo que a gente pode imaginar que seja negativo e que esteja acontecendo a nossa volta — declarou.
Abaixo, as principais declarações de Mourão durante a RA.
:: Fala contra narrativas: "o domínio da narrativa no nosso país aparece desde o momento em que o presidente Bolsonaro e eu fomos eleitos em 2018. A partir dali, se iniciou uma campanha colocando expressamente a pessoa do presidente Bolsonaro, como alguém que se opusesse ao sistema democrático, que fosse um cidadão autoritário e que buscasse implantar uma ditadura aqui no nosso Brasil. Essa narrativa prossegue em relação aos acontecimentos melancólicos de 8 de janeiro. E digo melancólicos porque, lamentavelmente, um grupo de pessoas, a maioria pessoas de bem, faz uma marcha pacífica e termina por se envolver numa invasão nos três prédios públicos emblemáticos da capital da República. E aquilo é transformado em uma tentativa de golpe de Estado. Ô golpe de estado tabajara esse aí. O que houve ali foi uma baderna e uma omissão dos organismos do atual governo, responsáveis por desencadear o planejamento que existe para a defesa da Esplanada dos Ministérios contra manifestações dessa natureza. Se omitiram e deu no que deu. E hoje busca-se tratar aquelas pessoas como terroristas. Ora, terrorismo tem método, tem organização. A qual organização eles pertencem?"
:: Economia no atual governo: "esse governo pensa em arrecadar mais, mas não pensa em diminuir o gasto. Todo mundo sabe que, se eu tenho que equilibrar minhas contas, eu tenho que diminuir o gasto. Por isso se fala tanto na reforma administrativa, para gastarmos com qualidade. Funcionalismo trabalha, mas tem gente que é muito mais dedicada, e a gente sabe disso, que são os grandes carregadores de piano. Então, a gente precisa de uma reforma que reconheça esses carregadores de piano e dê méritos pra eles. Uma reforma administrativa não vai sair nesse governo. Não vai sair, lamentavelmente, porque não tem essa visão. O governo tem a visão que precisa de mais Estado e mais gente trabalhando no governo. Se ele vai contratar 5 mil durante quatro anos é uma quantia razoável na minha visão. As agências ambientais que precisam recuperar sua capacidade, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, tudo bem. Mas, se for contratar 50 mil, isso será um problema para nós no futuro. O governo está sub judice, e a tendência é chegarmos a 2026 com uma dívida interna mais elevada. As medidas tomadas pelo governo Bolsonaro entraram por dentro desse governo junto com a coerência do Banco Central na defesa da moeda. Então, o país tem um momento bom para, se não meter os pés pelas mãos, se o governo não resolver gastar muito mais do que arrecada, entrarmos num ciclo de crescimento sustentável."
:: Reforma tributária: "temos três pontos que consideramos inegociáveis na reforma tributária. Primeiro, tem que haver simplificação. Segundo, ela tem que ser neutra, não pode haver aumento da carga tributária, que hoje é um terço do PIB. E terceiro, o recurso não pode ficar centralizado na mão do governo central, porque isso rompe o pacto federativo. A partir daí, nós temos discussões pontuais. Estou entrando com uma emenda retirando vinhos e espumantes do imposto seletivo. Essa é a defesa que nós vamos fazer."
:: Avaliação do atual governo: "o governo foi eleito sob a égide da união e reconstrução, mas não tem se comportado. O presidente da República (Lula) faz alguns discursos sectários, e agora ele está procurando atrair outros grupos partidários para o seio do governo dele, para tentar ter uma tranquilidade maior dentro do Congresso. Acho que ele pode até ter uma mudança nessa visão sectária que ele estava tendo, que seria muito bom para o país. Mas quero chamar atenção para algumas ações do atual governo que são preocupantes. Vamos lembrar que, no período anterior desse grupo no poder, nós tivemos inúmeros escândalos de corrupção que hoje estão sendo apagados um a um porque foram fruto da delação premiada, e para isso a delação premiada não vale. Ela vale agora para os assassinos da Marielle Franco. A delação premiada eventualmente irá valer para o tenente-coronel (Mauro) Cid, preso há praticamente 100 dias sem acusação, se delatar contra Bolsonaro. Vai valer essa delação. Mas aquela, da corrupção, não está valendo. Isso é preocupante. Nós vemos o avanço em cima dos grandes fundos de pensão. Petrobras vem segurando os preços do combustível, petróleo caiu 84 dólares e estamos sem mexer no preço. O Pacote da Democracia é uma reedição do Programa Nacional dos Direitos Humanos, elaborado no governo da Dilma. E agora, há aquela proposta de que quem ofender uma autoridade vai ser preso. Ou seja, extinguiram a lei de segurança nacional. Xingamento faz parte do processo político. Tá na chuva é para se molhar."
:: Supremo Tribunal Federal: "a Suprema Corte tem que sofrer o que eu chamaria de freio de arrumação. Mas, na minha visão e na de muitos lá dentro (do Congresso), nós temos que colocar mandatos. Fim das decisões monocráticas, não pode um ministro, numa canetada, sozinho, decidir a respeito de algo que influi na vida da maioria da população. E deixar muito claro a questão de pronunciamento político de magistrado. Magistrado só pode se pronunciar nos autos, não pode se pronunciar politicamente. Não é uma mera questão de impeachment dos ministros, não é uma mera questão de derrubar decisões da Suprema Corte, que praticamente legislam usurpando o poder do Congresso Nacional. É uma questão de realinhar os princípios que caracterizam o tripé da democracia. Poder Executivo executa, poder Legislativo legisla e poder Judiciário julga. Cada um dentro da sua esfera. Essa é a luta política que tem que ser travada e o Senado tem essa responsabilidade. E não é uma luta simples, porque é uma questão de persistência e convencimento. Essa é a questão emblemática em termos da estrutura política do país, sob pena de nós deixarmos de ser efetivamente uma democracia.
:: Universidades federais: "a educação de base é onde nós temos que ter a maior quantidade de investimentos hoje. Porque é a partir daí que nós teremos alguém preparado para ingressar no mercado de trabalho. A parcela da esquerda tem um fetiche com a questão da universidade, principalmente a universidade federal. Eu tenho algumas ideias radicais, por exemplo, na universidade federal, quem tem possibilidade de pagar, paga. Porque hoje nós temos universidades privadas frequentadas por quem não pode pagar, e universidades federais frequentadas por quem pode pagar. Essa é a realidade, só olhar. Não vejo que vai sair alguma coisa boa daí."
:: Pacto Sul-Sudeste: "isso aí está mal interpretado. Tivemos uma reunião pouco antes da votação na Câmara, estavam todos os governadores da região Sul-Sudeste, mais o Mato Grosso do Sul e Goiás, que fazem parte desse pacote. 60% da população do Brasil está aqui. 75% do PIB do Brasil está aqui, então, tem que haver um jogo de equilíbrio, de modo que, em uma reforma que vai tirar recursos daqui, não tire tudo. Nos deixe aquilo que hoje nós temos, essa é a discussão. Aí o governador Zema se expressou, ele não é um político na acepção da palavra, e óbvio, suscita a revolta da porção do Norte e Nordeste, e volta e meia saem declarações infelizes contra nordestinos, então acho que temos que baixar essa tensão."