Nem a reunião do PDT de Caxias do Sul deve mudar a ideia do vereador Lucas Diel de ser o líder de governo na Câmara. Após o encontro, que ocorreu na noite de quinta-feira (9), Diel afirmou que não irá reconsiderar sua decisão e classificou a situação como "desnecessária". Entre as mais de três horas de duração do encontro, a situação do parlamentar foi o assunto mais debatido pelos membros da sigla. Lucas assumiu a vaga na Câmara no dia 2 de fevereiro, após a saída de Ricardo Daneluz para a secretaria do Turismo, e, sem anuência do partido, aceitou convite do prefeito Adiló Didomenico (PSDB) para ser líder de governo no Legislativo.
O grande impasse neste caso é que o PDT já havia divulgado nota recusando a participação na base do governo, e a função de Lucas seria incongruente com a posição do partido, segundo a presidente da sigla, Maria Cecília Pozza. Segundo Lucas, seu posicionamento já havia sido comunicado na última segunda-feira (6), e não havia necessidade da reunião nesta quinta.
— Eu acho completamente desnecessário tudo isso aí, sinceramente. Tenho uma história longa no PDT, sempre trabalhei pelo partido, já fui presidente, e minha intenção sempre foi fortalecer o partido. Eu vejo (assumir a liderança) como uma valorização ao partido. Nós já tínhamos feito uma reunião na segunda, e já tinha dado minha posição à Cecília (de que não iria reconsiderar). Sou um homem de palavra, já tinha me comprometido com o prefeito. (A função) é algo relevante, honroso — afirma.
Na avaliação de Lucas, a reunião foi marcada por um "tensionamento" entre os presentes, que cobravam seu afastamento da liderança do governo. Para ele, os partidários não estavam dispostos a debater ou conversar, mas "estavam partindo para o embate", e isso levou o vereador a deixar o encontro antes do fim.
— Imaginei que já tinha colocado minhas razões, vários membros comentaram, aí assuntos começaram a se repetir, e após três horas de reuniões, chegou num ponto que se tornou até uma questão de ameaças, do tipo "ou tu faz isso ou vamos fazer aquilo". Muitas pessoas faltaram na reunião, várias lideranças do partido me parabenizaram, não vou ficar refém de um pequeno grupo — declarou Diel.
Já na avaliação da presidente pedetista, a reunião foi de "avaliação e conversa". Segundo Cecília, o encontro serviu para que os membros do PDT pudessem ouvir a versão de Diel e também dar seus pareceres sobre a situação ao vereador.
— Essa é uma coisa maior do que cada um de nós. Vamos fazer os encaminhamentos internos dessas reclamações da não aceitação dos filiados. Abrimos a palavra e todos que se manifestaram foram unânimes em dizer que o Lucas deve se afastar da liderança do governo. O que se colocou na reunião é que, pessoalmente, pode aceitar ou não (a função de liderança), mas toda ação tem uma reação. Precisamos ter serenidade para fazer os encaminhamentos e esperamos que até a próxima semana ele reconsidere a decisão. Não foi uma decisão acertada da parte dele — explica a pedetista.
"Simplesmente uma interlocução"
No entendimento do vereador Lucas, seu papel como líder do governo na Câmara é fazer um "elo de ligação" entre Executivo e Legislativo. Além disso, ele diz que não se vê forçado a sempre votar a favor do governo, nem acredita que a bancada pedetista fique pressionada a apoiar as matérias da prefeitura.
— Vamos sempre discutir e debater na bancada. Não há obrigatoriedade de eu como líder de governo ter que votar sempre a favor, e há a liberdade de o vereador Rafael Bueno votar como entender também. Não teria (problema em votar contrário ao governo). Não há obrigatoriedade, as matérias que são votadas são da cidade. O PDT não é oposição ao governo, não há quebra de decoro nem questão ética (ao assumir a liderança).
Questionado sobre um cenário em que o partido e o próprio vereador fossem contrários a projetos do governo, o parlamentar reforçou que sua função não obriga a bancada a se posicionar favorável ao Executivo e que as medidas devem ser debatidas.
— Nessa situação hipotética, vamos analisar caso a caso, vai da interpretação de cada um. Temos que estudar os temas e analisar, é de se discutir e identificar a relevância da matéria, mas não há esse requisito para sempre votar a favor do governo, minha função é fazer a interlocução. Não vai obrigar a bancada a votar sempre a favor do governo — explica.
Planejamentos do PDT para 2024
Quanto aos planos do partido para as próximas eleições municipais, a presidente pedetista Cecília Pozza explica que o partido trabalha no momento em montar uma boa nominata para cargos no Legislativo. Uma candidatura à prefeitura não está descartada, mas Cecília afirma que este é um segundo passo e que "é muito precoce" pensar em Executivo neste momento.
— Queremos uma construção coletiva. O que o PDT quer é justamente essa construção do partido em cima do coletivo, de um partido que pense coletivamente.
Quanto aos nomes que podem aparecer nas urnas em 2024, Cecília explica que o partido tem expectativa em Diel, mas que novas alternativas também podem surgir e compor a campanha do partido no pleito municipal de Caxias.
— Lucas seria uma das apostas do PDT para as próximas eleições, se esperava isso, infelizmente acho que ele vislumbra outra coisa. Mas nós temos excelentes quadros, gente bacana que vem para o PDT. Sempre temos perdas, mas sempre se reconstrói — relata.