Faltando menos de dois anos para o fim da gestão na prefeitura de Caxias do Sul, o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) anunciou mudanças no primeiro-escalão do governo. Cinco novos secretários e o um novo coordenador da comunicação foram empossados quinta-feira (1º). Porém, esse pacote de mudanças envolveu a presença de membros do PDT, partido que não faz parte da base do governo. O que mais surpreendeu a direção da sigla foi o convite aceito pelo novo vereador Lucas Diel (PDT) de ser líder do governo na Câmara. Isso porque, no Legislativo, o partido decidiu ser independente, nem governo nem oposição.
Diel era suplente e assumiu no lugar de Ricardo Daneluz, que saiu da Câmara para ser secretário municipal de Turismo, em decisão pessoal, sem o assunto ter sido discutido no partido. Por causa destes dois movimentos, a presidente do PDT, Maria Cecília Pozza, anunciou que serão feitas reuniões na próxima semana com a bancada do PDT e com o diretório do partido, tanto municipal quanto estadual. O objetivo é avaliar as decisões tomadas pelos dois. Ela não descarta eventuais punições aos partidários, em função de as decisões terem sido tomadas sem a anuência do PDT.
Tanto a presidente do partido em Caxias quanto o ex-prefeito e uma das lideranças do PDT no município, Alceu Barbosa Velho, concordam que a situação é no mínimo "estranha". Maria Cecília explica que o partido havia divulgado nota recusando o convite do prefeito para compor a base do governo, e que os cargos que fossem negociados com partidários do PDT seriam da cota pessoal do prefeito.
— Ficou uma situação bastante ruim. O que causou estranheza à nossa comissão, e a mim também, foi que, ao ficar sabendo que o convite já havia sido feito, liguei para o Lucas, na condição de presidente do partido. Afirmei que não poderia acontecer e que o PDT não está na base do governo, portanto, ele não poderia aceitar a função. A resposta que ele me deu foi de que não estaria sabendo de nada, e que eu poderia ficar tranquila porque isso passaria por uma decisão partidária. Fomos tomados de surpresa com uma decisão pessoal e unilateral. O que esperamos é que ambos voltem atrás, tanto o prefeito que reflita sobre o que fez, quanto o nosso vereador entenda que essa é uma decisão partidária — relata a pedetista.
Já o ex-prefeito Alceu diz que o anúncio de Lucas Diel como líder do governo foi uma "surpresa muito grande", e considera a atitude do prefeito quase como uma interferência política no partido, avaliação corroborada pela presidente Cecília.
— É uma situação inusitada. O vereador do PDT é líder de um governo do qual o partido dele não faz parte. É muito estranho, ficou muito esquisito. Na minha vivência política, eu nunca vi isso. Respeitosamente, penso que o prefeito não deveria ter feito isso. É quase que uma interferência no PDT. O prefeito deixou o PDT numa saia justa muito grande, criou um caso totalmente desnecessário para o partido — avalia Alceu.
Prefeito entende que havia permissão
O prefeito Adiló Didomenico afirma que a nota divulgada pelo PDT dava liberdade para que ele negociasse diretamente com os vereadores, dentro da sua cota pessoal. No entendimento do prefeito, não há nada para questionar nas atitudes do Executivo.
— Quando o PDT publicou uma nota dizendo que oficialmente não estaria no governo e que qualquer acerto seria com os vereadores, eu entendo que estava liberado para conversarmos com eles. Respeitamos o posicionamento do partido, não fizemos isso com intenção de criar nenhum ruído, pelo contrário. Também não fizemos nenhum ruído quando a presidente do PDT mandou uma nota à imprensa sem nos comunicar. O Lucas aceitou o convite e tenho certeza que vai desempenhar muito bem, é uma pessoa preparada — justifica Adiló.
A presidente do PDT argumenta que a nota daria condições para o prefeito negociar cargos na sua cota pessoal, mas não na função da liderança de governo na Câmara.
— A liderança de governo não é cota pessoal do prefeito, é uma decisão do partido. Não é uma decisão pessoal, mas sim de partido. Liderança de governo na Câmara passa necessariamente pela definição partidária, o que é melhor para o partido. Estamos falando de projeto de partido, de governo e de futuro. E não de projeção pessoal, são duas coisas diferentes — esclarece Cecília.
"Climão" na bancada do PDT
O líder da bancada do PDT na Câmara, vereador Rafael Bueno, também foi pego de surpresa com o anúncio de Lucas como líder de governo. Para ele, foi uma situação "atípica" e que pode causar conflitos na relação da bancada.
— Não houve uma discussão partidária. O vereador tem autonomia, mas precisa haver no mínimo uma coerência partidária. Esperamos, e eu confio que o vereador Lucas terá coerência partidária em todas as instâncias, especialmente nessa questão que começa por ouvir o partido, seguir as instruções, não ter combinações políticas.
Já o vereador Lucas Diel diz que sua função será levar os pontos do Executivo à Câmara, com argumentação e esclarecimentos a respeito dos projetos. Segundo o agora líder do governo, ele não será "advogado da prefeitura", e seu trabalho será apenas para facilitar a comunicação com os parlamentares
— Vamos fazer uma interlocução do governo na Câmara. Serei um porta-voz do prefeito. Não vejo nenhuma interferência no PDT ou na direção do partido, algum tipo de desautorização, como se deu a entender, como se eu estivesse passando por cima da direção. Vejo como uma das funções. As funções que nós vamos assumir são decisões pessoais, princípios de cada um. Vejo (a indicação para líder do governo) como uma confiança (do Executivo) ao partido, ao vereador.
Base de Adiló fora da liderança
Uma dúvida em comum cerca os pedetistas em relação à base atual do governo Adiló na Câmara. O vereador Bueno, a presidente partidária Cecília e o ex-prefeito Alceu questionam o porquê de o prefeito escolher um vereador de fora da sua base aliada para liderar o governo no Legislativo, enquanto sua base é composta por seis parlamentares do PSDB e do PTB.
— O Adiló tem seis ótimos vereadores da base dele. Por que a Marisol ou a Tatiane, por exemplo, não aceitaram? Pegar o Lucas, no meio de um mandato, que nunca teve experiência no Legislativo, fica um negócio até meio estranho. Acho inclusive que prejudica o trabalho dele na Câmara, já que poderia estar se dedicando mais ao mandato dele como vereador — questiona Bueno.
Segundo o prefeito, o governo já havia dado oportunidade para o PTB, por meio dos vereadores Velocino Uez e Adriano Bressan, e para o PSDB, com Olmir Cadore.
— Convidamos a Tatiane e a Marisol, mas elas declinaram. A Tatiane alegou querer se dedicar a projetos pessoais e a Marisol está na mesa, e está se preparando para assumir a presidência da Câmara no ano que vem. Como o Lucas estava chegando e estava bem disposto para exercer o mandato (o convidamos) — explica Adiló.