O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decidiu, nesta quarta-feira (18), manter 140 pessoas presas de forma preventiva e liberar 60 das detidas por conta dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro em Brasília. Essa é apenas a primeira decisão que deve ser feita para os mais de mil detidos na capital federal por conta das ações golpistas. Entre os detidos no Complexo Penitenciário da Papuda, estão duas pessoas nascidas em Caxias do Sul. Uma ainda mora em Caxias, a outra não.
Um deles, conforme fontes ouvidas pela reportagem, é Armando Valentin Settin Lopes de Andrade, 46 anos. Nascido em Caxias, Andrade está há mais de 20 anos no Distrito Federal e não vem tanto à Serra, conforme um familiar. Lá, o suspeito dos atos na Capital trabalhava com compra e venda de carros. Isso, pelo menos, até que os acampamentos iniciaram no Quartel-General da capital, na frente do Exército.
Quando a reportagem questionou este familiar de Andrade, que também mora no Distrito Federal, sobre o acampamento, ele desligou a ligação e não atendeu mais. Mas um sócio do caxiense na Capital em outro empreendimento, Marcos Araújo de Miranda, relata que o amigo passou 50 dias no acampamento, até que foi preso pela Polícia Federal (PF).
No momento, Andrade não teria um advogado. Ainda de acordo com o sócio, que foi candidato a deputado federal de DF pelo PTB, o caxiense teria ficado sem dinheiro porque estava sem trabalhar enquanto permanecia no acampamento bolsonarista. Em Águas Claras (DF), onde estaria morando atualmente, Andrade teria apenas um irmão, enquanto o resto da família estaria ainda em Caxias.
— Ele está sem grana porque estava há 50 dias lá na manifestação. Ele estava lá e estava sem trabalhar. Ficou sem o carro, que foi apreendido, então a situação não é favorável — relata Miranda.
De acordo com o Fantástico e o jornal O Globo, o caxiense foi preso nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e, antes, já estava sendo monitorado pela Polícia Civil desde o final do ano passado, como suspeito de planejar atentados contra as estações de energia do Distrito Federal. Ele estaria respondendo por inquérito. O sócio de Andrade afirma que o amigo não participou da “quebradeira” na Capital.
— No domingo (8 de janeiro), ele foi para o Congresso, mas ele foi embora, antes de dar a quebradeira. Ele foi para casa. Só que ele tinha deixado o carro próximo (do Congresso). Ele voltou para buscar o carro, estava passando no local e foi preso — alega Miranda.
Polícia Federal, Polícia Civil e Ministério da Justiça e Segurança Pública foram procurados pela reportagem e afirmaram que não comentam informações sobre uma investigação em andamento. A relação dos 60 detidos que serão liberados por decisão do ministro Alexandre de Moraes também não foi divulgada.
O outro detido caxiense é Telmo José Reginatto, que mora em Caxias do Sul. A reportagem tentou contato com ele e com familiares, e foi possível confirmar que, de fato, ele está preso em Brasília. A reportagem foi até a casa de Reginatto, no bairro Desvio Rizzo, e conversou com a esposa dele, que afirma não ter sido contatada por nenhuma autoridade até o momento. Também diz que ainda não conseguiu falar com o marido.
Suspeitos de contratar ônibus estão resguardados
Entre os investigados da Serra por financiar os atos em Brasília, César Pagatini, morador de Bento Gonçalves, e Sheila Ferrarini, caxiense moradora de Farroupilha, não foram localizados pela reportagem. Pagatini está na lista de suspeitos por financiar o transporte aos atos antidemocráticos divulgada pela Advocacia Geral da União (AGU). Já Sheila não está nesta lista, mas teve seu nome informado como contratante de serviço de fretamento até a capital federal no período dos atos antidemocráticos pela empresa Gravatinha Turismo.
Depois de um contato na quinta-feira (12/11) a reportagem não conseguiu mais localizar César e procurou pessoas ligadas a ele, que é mais conhecido por Bagatini (seu sobrenome deveria ser com a letra B, mas, por um erro de cartório, ficou registrado com o P). Duas pessoas que trabalharam com Bagatini no passado, há cerca de dois anos, informaram que o morador de Bento nunca teve ligação com política nem falava muito sobre o assunto.
Uma delas cita que ele fazia lives como “Tio Baga” no Instagram, “falando de bons costumes e boas maneiras”. Outro conhecido disse que César “não tem cacife” para financiar atos desse tipo. Desde que pararam de trabalhar juntos, nunca mais tiveram contato, mas contaram que ele comanda uma empresa de marketing digital e que, em 2022, passou a trabalhar com campanha política na área de audiovisual.
Outra pessoa ligada a César disse que ele é uma pessoa idônea e que “entrou na furada meio que sem querer”. Além disso, afirmou que as pessoas que saíram de Bento Gonçalves em direção à Brasília não chegaram a estar na Praça dos Três Poderes durante as invasões. Segundo a fonte, o grupo “chegou duas, três horas depois e logo foram embora”.
Na ocasião do contato com a reportagem, César afirmou ainda estar em Brasília, mas disse que estava “se organizando para voltar” no dia seguinte.
— Não tem nexo esse negócio. Não tenho relação nenhuma (com os atos). Tem muita desinformação no meio desse negócio. Eu fui para Brasília, nosso grupo não tem vínculo nenhum, ninguém se envolveu com polícia, com quebra-quebra, nada. Isso aí é intriga da oposição — declarou na ocasião.
A reportagem segue tentando contatar Sheila Ferrarini, mas sem sucesso até o momento. As principais lideranças bolsonaristas da região foram consultadas sobre se conheciam César e Sheila, mas afirmaram não conhecer nem ter contato com nenhum dos dois.