Com larga experiência política — já foi vereador, prefeito, deputado federal e ministro — Pepe Vargas (PT) encara a partir de 2023 o segundo mandato consecutivo na Assembleia Legislativa. Reeleito com 69.949 votos no domingo, dia 2 de outubro, superou os números de 2018, quando conquistou 38.798 eleitores.
Com foco na região, diz que quer seguir trabalhando por temas como saúde e educação. O parlamentar também pretende dedicar-se à fiscalização do modelo de pedágios aprovado, do qual foi contra.
Ouça a entrevista:
— Teremos um processo de concessão de rodovias que foi aprovado, não por unanimidade na Assembleia. Nós fomos contra essa modelagem apresentada por entendermos que é muito cara para o cidadão e com pouco retorno por parte da concessionária, que vai ter lucros elevadíssimos. Ao ver pouco retorno para a população, um dos trabalhos será fiscalizar a implantação desse processo. Inclusive, havia criado e vou retomar o trabalho de uma frente parlamentar em defesa dos usuários das rodovias pedagiadas no RS — destacou Pepe, durante entrevista ao Gaúcha Hoje, da Gaúcha Serra, desta quarta-feira (5).
Pepe também falou do desafio em eleger o candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Quanto à disputa ao governo do Estado, disse que o partido está debatendo a questão, mas adiantou que não há como apoiar Onyx Lorenzoni. Confira:
Como foi estar entre os principais nomes não só do partido? Chamou a atenção na comparação com outras eleições?
São eleições diferentes. Eleição para prefeito é majoritária, onde tu tem uma exposição grande na mídia, na medida em que o candidato a prefeito tem um programa de televisão praticamente diário. O grande desafio quando tu concorre a deputado, por incrível que pareça, é fazer com que as pessoas saibam que tu é candidato. É muito comum terminar a eleição e encontrar gente que não sabia que tu era candidato. Por quê? Porque tu aparece pouco no horário eleitoral gratuito. E aparece emespaço que é dividido com dezenas de companheiros do teu próprio partido e com centenas de outros candidatos. Então, fica um um processo muito pulverizado, a campanha mais do corpo a corpo, mais do contato direto.
É diferente de uma campanha para prefeito, mas eu acho que a votação que a gente fez é produto de uma série de questões, é produto do reconhecimento do trabalho que eu fiz ao longo da minha vida como prefeito duas vezes na nossa cidade, como deputado federal, como deputado estadual, como ministro de Estado que fui também. Isso é um dos componentes. O outro componente é que, inegavelmente, nas últimas eleições, em 2016, 2018 e 2020, o nosso partido tinha tido um decréscimo de apoio por conta de um conjunto de acusações que foram feitas e que o tempo foi demonstrando que não eram verídicas. Inclusive, tivemos a principal liderança do nosso partido presa injustamente, depois foi libertado, sofreu vários processos judiciais, foi absolvido em todos, teve um que foi anulado porque foi recheado de ilegalidades e irregularidades por parte de quem conduziu o processo.
Isso está mais do que comprovado. Tanto que ele é candidato a presidente. Foi, inclusive, o mais votado agora no primeiro turno porque é ficha limpa e pode concorrer. Tudo isso também afetou as nossas votações em 2016, 2018 e 2020. Não só a mim, mas a todos os integrantes do nosso partido. O que está acontecendo agora é um processo de recuperação desse espaço. Elegemos a maior bancada na Assembleia Legislativa, elegemos o maior número de deputados federais do Rio Grande do Sul. Importante também que tivemos uma importante capacidade de unificação do campo democrático no Rio Grande do Sul.
A nossa bancada na Assembleia Legislativa, contando os partidos que apoiaram a candidatura do Edegar Pretto, ampliou em 40% o nosso peso. Agora temos um novo desafio. Primeiro, o desafio de segundo turno, mas falando especificamente de mandato, independente de quem venha a ser o governador, seremos uma força política de oposição. Quando digo oposição, não quero dizer que seremos contra tudo e qualquer coisa que o futuro governador apresentar. Não foi quando o Eduardo Leite foi governador. Votamos várias vezes matérias que o governo encaminhou favoravelmente e outras vezes votamos contra. É sempre uma avaliação daquilo que entendemos que seja melhor para a população, mas o nosso papel será um papel de fiscalização.
Sou um parlamentar que prioriza a região da Serra e também tem algum trabalho no Vale do Caí e no Vale do Taquari, e em municípios nos Campos de Cima da Serra. Essas são as regiões que priorizo, mas especificamente na nossa região, teremos um processo de concessão de rodovias que foi aprovado, não por unanimidade na Assembleia. Nós fomos contra essa modelagem apresentada por entendermos que é muito cara para o cidadão e com pouco retorno por parte da concessionária que vai ter lucros elevadíssimos. Ao ver pouco retorno para a população, um dos trabalhos será fiscalizar a implantação desse processo. Inclusive, havia criado e vou retomar o trabalho de uma frente parlamentar em defesa dos usuários das rodovias pedagiadas no RS.
Creio que tem uma outra questão importante que é a saúde. Não é possível que a gente tenha uma legião de pessoas aguardando uma cirurgia ou aguardando exames complementares para haver a decisão de qual o tratamento mais adequado enquanto o estado não aplica os 12% da receita corrente líquida como determina a lei no Sistema Único de Saúde e enquanto o Governo Federal corta bilhões e bilhões do orçamento da saúde para colocar no orçamento secreto, que ninguém sabe o que é. Essa é uma outra questão fundamental, precisamos exigir dos governantes mais recursos e também uma gestão mais adequada.
A educação é outro tema gravíssimo no Estado. Em Caxias mesmo temos mais de uma escola que tem espaços inteiros interditados porque o Estado não faz a reforma da infraestrutura, que se deteriorou. Mas não é só aqui em Caxias, em várias cidades da região é a mesma coisa. Em Garibaldi tem escola que tem risco na fiação elétrica, em Caxias tem interditada porque os pilares colapsaram, temos auditórios e outras partes do Cristóvão de Mendoza também interditados, a Alexandre Zattera com vários problemas, só para citar algumas. Essa é uma outra questão que estamos sempre cobrando. Infelizmente, o atual governo não dá a atenção devida a esse tema. Temos que exigir do novo governador. Não vou nem falar da questão funcional dos professores, que estão extremamente desvalorizados do ponto de vista salarial.
Qual será seu posicionamento neste segundo turno? Irá declarar apoio a algum dos candidatos?
Estamos justamente discutindo isso. Nossa prioridade número um é a eleição do Lula para presidente. Obviamente, defendemos a democracia e somos contrários a toda e qualquer candidatura que não preza pela democracia. Estamos fazendo esse debate agora de manhã (quarta-feira, 5), temos uma reunião da executiva estadual do partido. Mas a nossa prioridade é a eleição do Lula. Não é possível que a gente tenha um país onde 33 milhões de pessoas passem fome e o governo não faz nada.
Tínhamos superado essa chaga da fome nos governos do Lula e da Dilma. Não é possível que a gente tenha um desemprego altíssimo quando já tivemos uma situação de pleno emprego no Brasil nos governos do PT. Não é possível que a renda das pessoas esteja tão baixa e as pessoas estejam tão endividadas porque já tivemos uma situação de valorização de salário mínimo acima da inflação. No governo Lula, o salário mínimo cresceu 70% acima da inflação. Nós precisamos de um governo que novamente enfrente os problemas do país e unifique a nação. Quando eu digo a nação, não quer dizer que as pessoas não tenham divergências, mas que as divergências sejam respeitadas. É disso que eu estou falando. Nós precisamos e essa é a nossa grande prioridade.
Temos uma situação colocada um pouco inusitada em relação ao segundo turno, em que os apoiadores do candidato Lula precisam dos votos dos apoiadores do candidato Eduardo Leite e vice-versa. Nesse sentido, partirá do PT propor uma interlocução com o PSDB para tentar equacionar e equilibrar esse interesse eleitoral que é recíproco?
O Eduardo Leite fez 26%, 2,4 mil votos a mais do que o Edegar Pretto. Não vejo como o Leite conseguir ter sucesso eleitoral sem um apoio decidido de quem votou no Edegar. Agora, esse gesto é um gesto que ele (Leite) também precisa compreender. O partido dele, o PSDB, liberou, não definiu apoio nem ao Lula e nem ao Bolsonaro. Definiu que cada um faz o que quer. Nós temos, por exemplo, o caso do Tasso Jereissati, que já declarou apoio ao Lula, mas também temos o caso do Rodrigo Garcia, o governador derrotado em São Paulo, que declarou voto ao Bolsonaro. O presidente do PSDB do Rio Grande do Sul, Lucas Redecker, já disse que vai apoiar o Bolsonaro.
Nesse sentido, parece que não quer ajudar muito o governador dele. Esses movimentos estarão sendo realizados. O que eu posso te garantir com certeza é que de forma alguma nós vamos votar no Onyx Lorenzoni, porque ele é apoiador do Bolsonaro e nós não concordamos com o programa que ele desenvolve. Aliás, não concordamos também com o programa do Eduardo Leite. No caso do Lula, ele fez 48,8% dos votos. O que ele precisa nesse segundo turno é crescer um pouquinho mais, não pode crescer menos do que o Bolsonaro.
Houve uma eleição aqui em Caxias do Sul em que eu disputei, quase ganhei no primeiro turno. Foi por uma miséria de votos que a gente não ganhou no primeiro turno. No segundo turno, acabei ganhando por 54%, se não me engano, na época. O segundo turno sempre é uma outra eleição, como se diz popularmente. Eu espero que nesse segundo turno se faça o debate programático e não o debate da mentira, da fake news. O que tem de fake news rolando aí é uma coisa impressionante. O Lula governou o país por oito anos e nunca fechou igreja nenhuma, e tem fake news aí dizendo que o Lula vai fechar a igreja. Aliás, o Lula chegou a ter ministro que era bispo de Igreja Universal, e os apoiadores do Bolsonaro ficam espalhando essa mentira, tentando enganar a fé das pessoas. Então, espero o debate programático e não com base nessas rasteiras.