Caxias do Sul pode, em breve, alterar a lei que, há 10 anos, deu uma nova cara ao centro da cidade. Enviado à Câmara de Vereadores em maio, o projeto de autoria da prefeitura para disciplinar a publicidade visual revoga, em um de seus artigos, a legislação vigente. A chamada Lei das Fachadas limpou a frente de prédios e revelou a história, até então, encoberta por grandes placas.
A cidade deu um importante passo naquele momento (em maio de 2012) para garantir a preservação histórica. Municípios preocupados com a conservação do patrimônio e que acreditam neste fator como potencial turístico adotam leis semelhantes e até mais ousadas. É o (bom) exemplo de Taxco de Alarcón, no Estado de Guerrero — a 177 quilômetros da Cidade do México e a 246 de Acapulco. Há cerca de 50 anos, a cidade mexicana tem um padrão para os prédios do centro histórico.
Todas as edificações, independente da finalidade, devem ser pintadas de branco com telhas e detalhes em vermelho. As fachadas dos estabelecimentos comerciais precisam estar escritas na cor preta e ter tipografia especial. As normas fazem com que a cidade colonial até pareça cenário de filme — que fica completo com as ruas estreitas sem calçada e semáforos e a frota de táxis formada principalmente por Fuscas, com motor capaz de dar conta dos morros, já que Taxco está encravada em uma montanha.
Vice-presidente da Associação de Hotéis e Empresas Turísticas de Taxco, Martha Mejía Domínguez, explica que a junta de conservação do município autoriza o design gráfico das fachadas e fiscaliza a obediência às regras. Para ela, a legislação faz com que a cidade tenha destaque nacional entre os "pueblos mágicos". Taxco é o único "pueblo mágico" de Guerrero. O título é conferido pela Secretaria de Turismo do México a pequenas cidades que preservam história, cultura e tradições e mantêm viva a identidade nacional.
— Todos nós sabemos que temos que cumprir essa lei e conservar o município como está. Podemos dizer que somos um ícone dos pueblos mágicos em México. Taxco tem uma peculiaridade especial, pois ainda conserva e respeita a lei — destaca.
Além dessas regras, há 12 anos, o município de 105.586 habitantes, conforme dados de 2020, iniciou o processo de "enterrar" a fiação. Pelas principais ruas da cidade, os cabos não são visíveis. O programa é constante, segundo Martha. Proprietária do hotel San Javier, ela também "escondeu" todos os fios para deixar o espaço mais convidativo aos hóspedes.
— Você pode caminhar pelas ruas principais de Taxco e os fios estão ocultos. Pode tirar fotografias e os fios não aparecem. No entorno é possível visualizar alguns fios, mas estamos sempre trabalhando para ocultar para que o turista possa visitar e tirar fotos sem nenhum cabo — ressalta.
Em 2021, Taxco recebeu 1.008.419 visitantes, dos quais 899.977 eram nacionais e 108.442, estrangeiros.
A origem do branco em Taxco de Alarcón
Em um país colorido como o México, o branco das edificações de Taxco chama bastante a atenção. A escolha pela cor tem origem, segundo os guias locais, no começo da formação da cidade, no Século 16. Como não havia banheiros, os moradores usavam penicos e jogavam a urina pela janela. Inclusive, gritavam “águas” para alertar quem estivesse passando pela rua — a expressão "águas" virou sinônimo de "atenção" em Taxco e é usada até hoje.
Para higienizar as ruas e as paredes dos prédios, os moradores utilizavam cal, que é branca. Daí o motivo para o uso da cor nas casas e estabelecimentos comerciais. Em áreas mais afastadas do centro de Taxco, não há necessidade de seguir a regra e as edificações tem diferentes cores.
Em Caxias
- A lei atual estipula em Caxias do Sul um coeficiente de 0,6 a ser multiplicado pela largura da fachada, para definir a área possível de ocupação por letreiros.
- Para prédios históricos, o coeficiente é 0,3, isto é, a área ocupada cai para metade.
- O novo texto proposto pelo Executivo, que vai à votação na Câmara, não faz distinção de prédios e estabelece um coeficiente único, de 0,6.
- A proposta já teve reação do movimento Vivacidade, que se mostra preocupado com a mudança e os riscos de prédios voltarem a exibir grandes placas encobrindo prédios históricos do centro da cidade.
* A repórter viajou a Taxco com a Organização Mundial de Jornalistas de Turismo a convite do governo do Estado de Guerrero.