O uso de tecnologias conquista cada vez mais espaço no poder público, e um dos exemplos disso será apresentado na próxima semana. A Câmara de Vereadores de Antônio Prado, na Serra Gaúcha, fará a primeira sessão ordinária do Brasil no metaverso no dia 14 de junho (terça-feira). Essa evolução digital poderá ser acompanhada pela população pelo canal no YouTube e no Facebook da Casa a partir das 19h.
A ação é uma parceria do Legislativo pradense com a empresa Núcleo Sistemas, de Caxias do Sul e anunciada como inédita no Brasil pela empresa e pela Câmara de Antônio Prado. Uma pesquisa em sites de busca não informa sobre alguma ação semelhante no país. Segundo o diretor da Núcleo, Pedro Bocchese, será recriado todo o ambiente do plenário do Parlamento, com a constituição de todos os nove vereadores, que serão representados por avatares (representações virtuais). Além disso, a sessão ordinária será toda transmitida e projetada dentro do metaverso, através do site Ágora Virtual, e replicada nos canais da Casa.
— A população que estiver acompanhando de casa estará vendo os avatares de cada vereador, as características físicas deles e o movimento que cada um terá durante a sessão.
De acordo com Bocchese, existem três formas de fazer os movimentos dentro do metaverso: através do joystick, uma espécie de controle, e de óculos de realidade virtual; outra forma é através de câmeras que capturam os movimentos; e a última, que será utilizada na sessão ordinária, com movimentos já pré-programados, ou seja, os administradores da plataforma de tecnologia irão comandar os movimentos dos parlamentares conforme o que ocorre em plenário, de forma simultânea.
Para o presidente do Legislativo pradense, Gelsomir Corassa Sabiá (PDT), a iniciativa de utilizar o metaverso em uma sessão ordinária mostra o avanço da tecnologia do setor público e vai ao encontro das modificações tecnológicas que serão implantadas na Casa.
— Essas mudanças começaram em 2017, com as transmissões das nossas sessões, reuniões e audiências no YouTube e Facebook para a população poder acompanhar. Estamos implantando, também, a Lei Geral de Proteção de Dados (a LGPD), que não tínhamos. Outra novidade é que as sessões serão todas no digital, sem mais papel nas sessões, por meio do sistema de votação digital. Cada vereador terá seu próprio notebook na sua bancada para ser utilizado apenas nas sessões. Terá o sistema de votação digital, a pauta da sessão, os documentos que ele irá utilizar na sessão, tudo vai estar ali.
O QUE É
:: Segundo Pedro Bocchese, diretor do Núcleo Sistemas, o metaverso é um conceito que busca replicar a realidade através de dispositivos digitais e, em algumas situações, desdobrar a realidade no mundo virtual.
:: Ainda de acordo com Bocchese, o grande desafio nos dias atuais é saber como inserir os cidadãos nesses espaços e gerar negócios nesse ciberespaço coletivo e compartilhado.
:: O metaverso é composto por realidade virtual e aumentada, blockchain, NFTs (sigla em inglês para token não fungível, dispositivo eletrônico que armazena um certificado digital com autenticação de garantia de que determinado conteúdo é único), internet, áudio, avatares e comunidade.
Utilização no poder público
O presidente da Câmara de Antônio Prado conta que a iniciativa da sessão no metaverso começou por conta do programa Aluno Cidadão, que ocorre todos os anos no Legislativo. Em 2022, o projeto tem como tema central o impacto da tecnologia na educação e conta com nove alunos participantes de escolas municipais, estaduais, particulares e da Apae da cidade. A cada 15 dias, os estudantes participam de atividades desenvolvidas pelo Parlamento, intercalando conhecimento das práticas legislativas e questões relacionadas ao Poder Legislativo.
Em um desses encontros, no mês de maio, Pedro Bocchese palestrou para os alunos e vereadores presentes no encontro. Na ocasião, trouxe as perspectivas do metaverso e as tendências atuais da tecnologia na educação. Os alunos e vereadores também puderam utilizar óculos de realidade virtual e interagir com o ambiente digital.
A partir dessa palestra, surgiu a ideia de realizar a primeira sessão ordinária no Brasil com a tecnologia do metaverso. Na opinião de Bocchese, nos últimos oito meses, o conceito de metaverso foi muito acelerado para as áreas da educação e estruturas voltadas ao varejo. Entretanto, ele afirma que esse movimento está se expandindo para os poderes públicos cada dia mais.
Em abril deste ano, a prefeitura de Caxias do Sul realizou seu primeiro evento em plataforma de realidade virtual. A iniciativa foi da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, que utilizou a tecnologia de realidade virtual, imersiva e compartilhada para falar sobre o InovaCaxias — programa desenvolvido a partir de lei municipal que prevê a redução de alíquota de Impostos sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) de 4% para 2% para projetos de inovação de empresas certificadas.
— Existe uma caracterização de que, para eu usar o metaverso, eu preciso de um óculos. Porém, para o metaverso existe um conceito, que é a criação de ambientes por computadores em que esse ambiente seja compartilhado, coletivo, e utilize ferramentas de realidade virtual e aumentada, inteligência artificial, avatares. Por isso, todos os serviços começarão a ser movimentados para essa tecnologia. Daqui um tempo, eu vou poder entrar em uma prefeitura (através de um metaverso) e tirar uma guia do IPTU, conversar com atendentes, humanos ou não, seja por meio de inteligência artificial, por exemplo.