Nem mesmo com intervenção estadual o PDT caxiense conseguiu manter alinhamento para a reorganização após uma comissão provisória ter sido nomeada em razão da falta de consenso na definição de novo diretório municipal. Na última terça-feira (13/7) 15 nomes foram confirmados para integrar o grupo que comandaria o partido até realização de convenção (prevista para o pós-pandemia). No entanto, na sexta (16), seis dos nomeados pediram a exclusão da comissão. Rafael Bueno, Pedro Incerti, Raquel Rota, Agenor Basso, Paulo Sausen e José Freitas de Abreu emitiram ofício ao representante jurídico do PDT junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pedindo a saída.
Bueno, atual líder de bancada na Câmara, destaca que os seis que assinaram o documento constituem as chamadas "pontas", ou movimentos do partido, o que demonstra a insatisfação de correligionários históricos. Na opinião dele, a intervenção da executiva estadual foi o que atrapalhou os planos de busca por consenso.
— Estávamos encaminhando um diretório consensuado, mas a partir do momento que foi para Porto Alegre (diretório estadual), houve uma movimentação estranha que não entendemos de quem partiu, até chegar ao ponto da intervenção. Quando vimos que não tinha mais volta, até sugeri alguns nomes que seriam importantes para estar nesse processo. O meu, o do (vereador Ricardo) Daneluz, respeitar quem tem voto. E cadê o Daneluz nessa executiva provisória? Tem gente que eu nem sei quem é e está participando. Não estão respeitando lideranças históricas — critica.
Ele ressalta não ter oposição à atribuição de Lucas Diel como presidente da comissão e que o posicionamento mira a executiva estadual:
— Não é nada contra o Lucas, mas contra esse movimento orquestrado que não entendemos por quem ainda e que não vem a contribuir em nada. Espero que o partido estadual entenda o recado e deixe as lideranças falarem, respeitar quem tem voto. E não pessoas que querem usar do partido de Caxias para se promoverem às eleições do ano que vem — complementa.
O presidente estadual da sigla, Ciro Simoni, destaca que a saída dos seis nomeados não compromete a manutenção da comissão provisória. Ele esclarece que o diretório estadual não teve influência na composição:
— Nós, da executiva estadual, não nomeamos ninguém. Pedimos para as lideranças dali organizarem nomes, são 15 nomes. Foram nomes que vieram prontos e aceitamos. Quem não quer participar, não participa. Seis saíram? Vão ficar nove, não tem problema nenhum, é o grupo que vai comandar o partido até se realizarem as convenções municipais, que só vão ocorrer quando tiver condições sanitárias.
Segundo o site do TSE, a comissão provisória tem prazo para trabalhar com término em 11 de outubro deste ano. Simoni, no entanto, afirma que não há previsão para realização de convenção.
"Maior ato antidemocrático dos últimos 30 anos"
A advogada Raquel Rota, então assessora jurídica do partido, também solicitou a saída. Ela, inclusive, era um dos nomes cogitados a assumir a presidência municipal da legenda quando iniciou-se a busca por uma chapa de consenso. Agora, Raquel, critica as medidas "impositivas" adotadas pelo diretório estadual.
— Discordo dessa "solução imposta". Poderia ter sido prorrogado o mandato da executiva eleita por mais estes três meses. Haveria a necessidade de uma executiva provisória se houvesse algum motivo legal que comprovasse o impedimento da executiva eleita em permanecer até a data provável para a realização da convenção. Não posso me colocar à disposição de um sistema democrático e, no final, concordar com a imposição de uma comissão provisória, que é o maior ato antidemocrático já praticado no PDT de Caxias do Sul nos últimos 30 anos, e permanecer fazendo parte dele — afirma.
Raquel alega ainda que sequer foi consultada se concordava em compor a comissão. Ciro Simoni nega que não tenha havido consulta dos nomeados:
— Não é verdade. Não fomos nós que fizemos essa consulta, foi o pessoal de Caxias mesmo. Os nomes vieram prontos e duvido que quem enviou não tenha falado com essas pessoas
"Espero que nos deixem em paz"
Lucas Diel, que assumiu a presidência da comissão provisória, lamenta a saída dos seis nomes. Entretanto, garante que o posicionamento manifestado pelo grupo não invalida a continuidade do comando temporário do partido.
— A comissão vai continuar. Lamentamos muito as saídas, pois estavam representando várias alas. Só lamentamos a saída deles, pois seria importante o apoio. Estamos pensando em construir o partido, mas, se infelizmente eles não querem, não podemos obrigar ninguém. Esperávamos que eles estivessem imbuídos em apoiar e fazer o partido forte novamente, mas cada um segue o seu caminho. O PDT tem em torno de 7 mil filiados, vamos continuar — declara Diel.
O presidente, inclusive, não considera que houve qualquer intervenção do diretório estadual, por não haver ninguém "de fora" nomeado na executiva caxiense. Apesar de reiterar que lamenta a perda de representatividade na executiva provisória, Diel diz que espera que os dissidentes não intervenham na continuidade da organização do partido.
— É engraçado alguém se colocar à disposição para querer construir o partido, mas quando tem oportunidade de ajudar o partido, não quer. Tomara que eles repensem essa questão e retornem, pois queremos colocar o partido acima de eventuais vaidades ou vontades. Mas espero que eles nos deixem tranquilos para trabalharmos em paz. Esperamos (eventualmente) unir forças, sem ressentimentos. Se não quiserem fazer parte, quem sabe futuramente venham a apoiar — ressalta o presidente da comissão.
Diel comenta que lideranças do partido é que articularam as indicações para composição da comissão. Entre eles, citou o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho e o ex-candidato a prefeito, Edson Nespolo.
Sobre as frequentes divergências expostas do partido, Diel aponta dois nomes:
— Toda hora o Paulo Sausen e o Rafael Bueno recorrem à imprensa de assuntos que ainda estamos tratando, eles adoram, mas não temos nada a esconder.
COMO FICA
- Pediram para sair: Rafael Bueno, Pedro Incerti, Raquel Rota, Agenor Basso, Paulo Sausen e José Freitas de Abreu, o Jack.
- Os 9 restantes: Lucas Diel (presidente) / Júlia Carolina da Silva Ferreira / Marcos Abreu / Maria Cecília Pozza (tesoureira) / Mirian Bueno Fonseca / Carlos Daniel de Oliveira Brando / Kelen Souza Oliveira / Maria Januária da Costa / Michele dos Santos Xavier.