Cristiano Becker da Silva assume pela primeira vez um cargo de atribuição política. Aos 47 anos, dedicou mais de 20 deles na vida militar: foi bombeiro de 1993 a 2015 e, entre 2019 e 2020, comandou a Força Tática do 12º Batalhão de Polícia Militar de Caxias do Sul (12º BPM). Entre 2015 e 2019, atuou como coordenador-adjunto de Defesa Civil no Estado que, apesar da nomeação política, tratava-se de uma função técnica. Ele atribui o ingresso na política ao seu pai, Zoraido Silva (PTB), vereador em Caxias por seis mandatos e que lhe convenceu a concorrer à Câmara na eleição do ano passado. Cristiano acabou fazendo 1.502 votos, ficando na primeira suplência do PTB. Foi também por meio de Zoraido que ele conheceu o prefeito Adiló Didomenico:
— Conheço ele de longa data, foi colega do Zoraido na Câmara, de partido, sempre tive uma relação de respeito, acompanhava às vezes O trabalho na Câmara, mas hoje se fortalece essa relação. Na própria campanha, foi onde nos conhecemos ainda mais — relata.
A confiança estabelecida foi tanta que Cristiano acabou sendo escolhido com chefe de gabinete, função estratégica de articulação interna. Cristiano foi nomeado na última quarta-feira (20). Ele mesmo admite não conhecer muitas das atribuições do cargo, até porque estava dividindo as atenções do gabinete com a atuação na Brigada Militar — sua reserva foi publicada na última semana pelo Governo do Estado.
Ao Pioneiro, Cristiano falou sobre suas expectativas frente ao cargo. Confira:
Conte um pouco da sua trajetória.
Morava em Canela, trabalhava na rede hoteleira e, quando entrei na Brigada, fui atuar no Corpo de Bombeiros. De 1993 a 2015, fiquei no Corpo de Bombeiros, trabalhei na parte de salvamento, trabalhei um pouco na parte de prevenção, salvamento de pessoas, animais, resgate veicular, mergulho, fiz de tudo que um bombeiro faz. Depois, em 2015, fui convidado pelo governador (José Ivo) Sartori (MDB) para assumir a coordenadoria adjunta de Defesa Civil. Trabalhei no Palácio Piratini e tinha uma regional de Caxias do Sul que compreendia 62 municípios. Aí depois fiquei mais um período com o governador Eduardo Leite (PSDB) e, a partir daí, fui convidado a comandar a Força Tática do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) em Caxias do Sul.
Diante dessa trajetória quase que inteiramente militar, qual sua relação com a política?
Meu pai foi a principal porta de entrada, pois não tinha projeção política em nada. Na verdade, a primeira experiência foi quando o Sartori me convidou, mas foi para uma área técnica, da Defesa Civil. Meu pai me surpreendeu em 2020, próximo da eleição, dizendo que não ia concorrer, pois queria abrir espaço para eu concorrer a vereador. Porém, como sou muito apaixonado pelo meu trabalho de policial militar, eu não queria aceitar naquele momento. Então meu pai, por intermédio do deputado (federal Ronaldo) Santini (PTB), que me ligou e me convenceu. Eu falei que queria continuar na Brigada ajudando pessoas, salvando pessoas, que a política não era pra mim. Então o Santini e o Zoraido entraram num acordo e me convenceram a concorrer a vereador em Caxias.
Chefia de gabinete é um cargo bastante próximo do governo. O que o torna qualificado para a função?
Na verdade, num primeiro momento, eu não sabia nem o que exercia um chefe de gabinete. Eu recebia ligações de pessoas próximas dizendo que eu seria provavelmente o novo secretário de Segurança. E quando o Adiló me chamou, me surpreendeu pelo convite para a Chefia de Gabinete. Eu me emocionei, ainda mais vindo de uma pessoa como o Adiló, um camarada de quem me aproximei muito no momento da eleição e pude conhecer não só o Adiló político, mas o Adiló de bom coração, conhecedor da cidade, que se dá bem com as pessoas. Aprendi muito com ele nesse período eleitoral, aí não teve como não aceitar. Mas tenho a humildade de reconhecer que tenho de correr atrás, conhecer o trabalho. Uma prerrogativa que eu tive para aceitar era que a prefeitura estivesse de portas abertas, que pudéssemos atender as pessoas e fosse um ambiente harmônico, tanto dentro do Executivo, quanto com Legislativo, Judiciário.
Mas o que acha que o Adiló viu no senhor para o perfil correto para a função?
Acredito que mais a questão da forma de atendimento às pessoas, a articulação, me dou bem com diversos vereadores, com diversos segmentos da sociedade, atendo, despacho, ainda mais com ajuda das colegas junto do gabinete. O fato de eu ter sido militar também, tem essa questão de... como é que eu vou te dizer... de responsabilidade, buscar conhecimento. Somos eternos aprendizes na vida. Eu confesso e tenho humildade de dizer que não sei bem o ofício do chefe de gabinete, mas aprenderemos juntos, atendendo bem a sociedade.
E qual a definição do senhor para o cargo?
É uma cargo de muita relevância, de extrema responsabilidade, um cargo de confiança de fato, um braço direito do prefeito, na ausência dele, querendo ou não, a tomada de decisão parte de mim também. Eu sei que não vai ser fácil, a gente tendo humildade, bom coração e buscando sempre o melhor para as pessoas, eu tenho certeza que vamos fazer um bom trabalho.
Em tese, ao cargo cabe a articulação entre as secretarias. O prefeito adiantou que esse papel será desempenhado pela Paula Ioris (PSDB). O que resta para o senhor fazer exatamente?
Permaneço nessa função, a Paula também, (ela) participa de todos os processos dentro da prefeitura, é muito articulada, trabalha muito bem o que ela faz, mas eu também vou continuar com essa função de harmonização, integração entre as secretarias, é o que eu tenho feito, até porque os despachos partem do gabinete e eu mesmo já faço contato com o secretariado para que tenhamos celeridade nas respostas para a comunidade. Entrando aqui os pedidos, a gente já articula com o secretariado, com as diretorias. Vamos continuar com esse processo, como a Paula está fazendo. Todos os dias nós nos reunimos, conversamos, vemos as demandas pendentes e fizemos de tudo para dar encaminhamento.
E não corre o risco de vocês "baterem cabeça" por desempenharem a mesma função?
De forma nenhuma, até porque há uma relação de respeito muito grande entre nós e, na verdade, os assuntos às vezes não têm relação, entre o que a Paula vai atrás e eu tenho de despachar. Queremos manter a harmonia, a energia está muito boa dentro da prefeitura, queremos manter isso, que o Executivo seja harmônico entre nós, com o Legislativo, com a comunidade.
Como o Adiló explicou sua atribuição? Quais são suas tarefas no dia a dia?
Você mesmo já disse ali, seria essa articulação entre as secretarias, e também aproximação com o Legislativo, foi bem por aí a conversa com o Adiló.
Que principais desafios vê para a pasta ou para o governo?
Como um todo. Tenho muito medo de decepcionar, não só meus eleitores, mas todos os meus colegas da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil, toda a Caxias e o próprio prefeito, que me confiou essa missão. Os desafios são muitos, e entram todos os dias. E não vai ser um governo fácil, até porque vivemos num momento pandêmico, que atrapalha a arrecadação, todo mundo quer trabalhar e temos de ter cuidado para não enfrentarmos um problema ainda maior.
Mas quais desafios especificamente o senhor já percebe?
A própria segurança pública, eu venho da segurança pública, de fato é uma questão que temos de estar atentos, a questão da drogadição que temos nas ruas, nos bairros, no Centro, por mais que seja do Estado isso, nós temos de ter nossa participação, trabalhar juntos com as forças de segurança.
Tem pretensões políticas?
Hoje estou nessa função de cargo de confiança, chefia de gabinete, e não penso politicamente no futuro, só neste momento, aprender o ofício da Chefia do Gabinete, suprir a expectativa do prefeito e da comunidade. Mas a médio e a longo prazo, não tenho pretensão, por enquanto, mas não descarto obviamente. Talvez a gente concorra novamente à Câmara de Vereadores ou... mas tudo é questão de tempo e no seu devido tempo.
A questão das nomeações é sempre algo polêmico... o senhor acredita que o Adiló montou uma equipe qualificada com atribuições bem definidas?
Sim, nas primeiras reuniões que tivemos eu percebi muita humildade, pessoas muito técnicas para as áreas que foram convidadas. O Adiló colocou cada pessoa que entendia que deveria ocupar aquele espaço e tenho certeza que foi no lugar certo.