A nova legislatura da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul foi posta à prova na sessão extraordinária da última quinta-feira (21). Foi o primeiro evento de maior relevância para a recém eleita composição de parlamentares, que tiveram de votar um pacote de sete projetos do Executivo, sendo quatro deles voltados a assuntos polêmicos: a redução de 12 para três dias de passe livre ao ano; a retirada de meia passagem para professores e funcionários de escolas; a isenção do ISSQN e da taxa de gerenciamento para a Visate; e a ampliação do uso de crédito voltado a investimentos em escolas para compra de máquinas e equipamentos.
Ao término das cerca de sete horas de debate, desde a leitura dos projetos até a votação da última proposta, Adiló Didomenico (PSDB) consagrou a primeira vitória do seu governo. Todos os projetos foram aprovados e mesmo tentativas de adiamento das votações foram rejeitadas pela ala disposta a defender a administração. Embora o líder de governo seja Olmir Cadore (PSDB), quem assumiu na prática o papel voluntariamente foi o vereador Adriano Bressan (PTB), que é o vice-líder. Ele se manifestou na sessão mais do que o normal, em comparativo aos mandatos que assumiu a suplência, em 2017, 2019 e 2020.
Do partido governista, o PSDB, além da atuação discreta de Cadore, que admitiu nervosismo em sua primeira participação efetiva como parlamentar, Marisol Santos e Tatiane Frizzo também intervieram de maneira pontual, mas chamaram atenção em momentos inesperados: Marisol Santos por votar pela revogação do benefício a professores no transporte público, quando a própria elenca como uma de suas prioridades a educação, por ter sido professora antes de se tornar jornalista, e Tatiane Frizzo. Não sabendo que o microfone do colega vizinho da bancada — Cadore — estava ligado, sugeriu a ele: "Quando tu está na dúvida, olha para o PT, o que eles votam, vota ao contrário".
Já Marisol alegou que votou pela retirada do benefício a professores e funcionários de escolas pois considera "dever do empregador custear o valor da passagem".
Dos discursos, muitas das tendências se confirmaram e já indicam que a legislatura será bastante marcante nos debates ideológicos. A postura negativa com relação a toda tentativa de ampliar o debate às questões, o tom na defensiva no discurso de muitos parlamentares e a própria exaltação de Adiló Didomenico (PSDB) por parte de alguns deles tornaram mais claro quem devem ser os defensores da administração. Na linha de frente: Adriano Bressan (PTB), as bancadas da coligação vencedora das eleições com PSDB (Cadore, Tatiane e Marisol), PTB (Bressan e Clovis Xuxa), Ricardo Daneluz (PDT), Alexandre Bortoluz, o Bortola (PP), que ficou em silêncio durante toda a sessão, e a bancada do Novo, cujo porta-voz foi Mauricio Marcon. Ele não poupou elogios às propostas da administração. Sandro Fantinel (Patriota) também sugeriu apoio à prefeitura, porém, mais calcado pelo fato de o PT ser oposição ao governo.
O PT, inclusive, se postou definitivamente como protagonista da oposição, que será bastante reduzida: além dos três vereadores petistas, Renato Oliveira (PCdoB) e, possivelmente, Gilfredo De Camillis (PSB) e Zé Dambrós (PSB). Os dois socialistas deram indicativos de que firmarão posição contrária esporádica contra a administração.
Chamou atenção
Nas sessões extraordinárias de quinta-feira...
- Postura enfática de Gladis: após um primeiro mandato com poucas manifestações políticas em plenário, Gladis retornou mais enfática e tentou apresentar dois pedidos de vistas (de adiamento), rejeitados pela maioria dos vereadores. Acabou tomando posição contrária nas votações e fez críticas indiretas a colegas que negaram seus pedidos, os classificando como "avalistas" do prefeito.
- Embates esperados: o ensaio do que deve ser visto ao longo dos quatro anos de legislatura pôde ser observado na sessão extraordinária, com embates que devem se tornar recorrentes, especialmente entre a bancada do PT e a chamada (pelo vereador Mauricio Marco, do Novo) frente anti-PT (não assumida), formada pelos vereadores do Novo, Sandro Fantinel (Patriota), Adriano Bressan (PTB) e Ricardo Daneluz (PDT)
- Crítica à imprensa: antes mesmo do final da sessão, os vereadores já se defendiam... atacando a imprensa. Adriano Bressan criticou o Pioneiro sobre a publicação da matéria que informava a aprovação da isenção do ISSQN e da taxa de gerenciamento à Visate. Marcon também criticou prematuramente a imprensa, dizendo que a cobertura induziria a população a acreditar que os vereadores votaram "contra a educação", o que não seria o caso, segundo seu entendimento.
- PT alvo e oposição: da chamada frente "anti-PT", Sandro Fantinel e Marcon foram os mais direcionados ao confrontar o discurso de esquerda. Daneluz e Bressan retiveram o debate nas propostas, inicialmente. Bortola não se pronunciou nenhuma vez na sessão. Quem surgiu como potencial integrante foi Tatiane Frizzo, que deixou escapar.
- "Puxadinho da prefeitura": Estela Balardin (PT) reiterou críticas à rejeição de pedido de informações da bancada do PT acerca dos números referentes ao transporte coletivo, que foi rejeitado:
— Informações foram negadas dentro desta Casa, que nega seu papel fiscalizador. (...) Esse debate precisa ser feito de forma aprofundada, e não a toque de caixa para que possamos votar de forma clara e não sendo mais um puxadinho da prefeitura.
O tabuleiro do Legislativo
Um indicativo de como devem se dividir os "blocos" de vereadores na Câmara, a partir do perfil esboçado por suas atuações e movimentos no início da legislatura.
FRENTE ANTI-PT
- Mauricio Marcon (Novo): elogioso a projetos de Adiló, assumiu tom de defensiva ao manifestar apoio a parte das propostas. A postura anti-PT assumida antes da legislatura se confirma. Tendência de recorrente apoio a Governo Adiló.
- Maurício Scalco (Novo): atuação apagada, apenas fez a leitura de um dos projetos. Deve seguir movimentos de Marcon, com recorrente apoio a ações do governo municipal.
- Ricardo Daneluz (PDT): defendeu enfaticamente projeto de redução do passe livre. Deve apoiar maioria das ações do governo municipal e reforçar frente anti-PT.
- Sandro Fantinel (Patriota): direcionou suas manifestações para discursos de cunho ideológico. Bolsonarista de carteirinha, deve ser o vereador mais polêmico da legislatura. Apoiará o governo.
- Alexandre Bortoluz, o Bortola (PP): não se pronunciou uma única vez na sessão extraordinária, mas já admitiu ser de direita e simpatizante de Jair Bolsonaro. Potencial apoiador do governo municipal.
GOVERNISTAS ASSUMIDOS
- Adriano Bressan (PTB): assumiu defesa do governo, mesmo não sendo líder (é vice-líder).
- Marisol Santos (PSDB): chamou atenção por votar a favor de projeto que tirou subsídio de passagem de ônibus a professores e também a projeto que redireciona parte dos recursos previstos a escolas para compra de equipamentos e máquinas. A mais participativa da bancada governista.
- Olmir Cadore (PSDB): líder de governo, admitiu estar nervoso em sua primeira atuação. Apagado, seu papel é o de comandar a base governamentista.
- Tatiane Frizzo (PSDB): pouco participativa em plenário, mas semelhante a mandato anterior, em que assumiu vaga no lugar de Neri, o Carteiro (Solidariedade), eleito para a Assembleia. Deixou escapar que espera PT votar para assumir posição. Apoiadora do governo.
- Clóvis de Oliveira, o Xuxa (PTB): apesar de assumir em 2020 como vereador na vaga de Flávio Cassina (PTB), mostrou-se mais atuante na sessão de quinta. Apoiador de Adiló Didomenico.
OPOSIÇÃO ASSUMIDA
- Denise Pessôa (PT): não participou da sessão por estar de licença após contrair covid-19. Quem substituiu a petista foi a suplente Rose Frigeri (PT), que, junto com os colegas de bancada, mostrou que o PT deve comandar a oposição.
- Estela Balardin (PT): assumiu a defesa mais emocional pela pauta defendida pela bancada petista. Deve travar recorrentes debates especialmente com Sandro Fantinel (Patriota) e Mauricio Marcon (Novo).
- Lucas Caregnato (PT): também assumiu a oposição e ocupou a tribuna para reiterar sua bandeira da educação. Deve ser protagonista de debates com vereadores de direita.
- Renato Oliveira (PCdoB): fez relato emocionado na defesa do passe livre e deve repetir postura dos outros mandatos, colaborando na oposição liderada pelo PT.
NEUTROS
- Velocino Uez (PTB): integrante da base do governo, integrará grupo dos governistas assumidos. Porém, neste ano, como presidente do Legislativo, precisa adotar postura de neutralidade na condução dos trabalhos.
- Elisandro Fiuza (Republicanos): atuou de forma semelhante ao que se viu em seu primeiro mandato. Votou a favor das propostas do governo, mas fez ponderações pontuais.
- Juliano Valim (PSD): leu todos os discursos. Apesar de apoiar a maior parte dos projetos, votou contrário a um deles (o da extensão do uso de crédito para aquisição de máquinas). Tem proximidade com a ala anti-PT, o que pode direcionar sua atuação.
APOIADORES DO GOVERNO
- Felipe Gremelmaier (MDB): atuação semelhante à de outros mandatos, pronunciou-se esporadicamente. Tende a ser apoiador do governo de Adiló, com eventuais ressalvas.
- Rafael Bueno (PDT): participou de forma remota, mas votou favorável a quase todos os projetos, com exceção do que versa sobre a ampliação do uso de crédito destinado a obras em escolas e não votou no relativo à tarifa colegial. Apoio às ações do governo municipal deve ser recorrente.
- Wagner Petrini (PSB): também participou de forma remota. Votou contrário à proposta que tirou benefício de professores e não votou em proposta de ampliação de uso de crédito destinado a escolas. Porém, apoio a ações do governo deve ser frequente.
APOIADORES CRÍTICOS
- Gilfredo De Camillis (PSB): questionou alguns pontos e até votou favorável a pedido de adiamento de um dos projetos. Tende a ser independente, porém, com potencial apoio ao governo de Adiló.
- Gladis Frizzo (MDB): surpreendeu ao contestar parte das medidas do governo e fazer críticas indiretas a colegas. Tendência é de apoiar governo, porém, sessão extraordinária deu indicativo de eventual postura de oposição.
- Zé Dambrós (PSB): votou contrário a projeto que retirou benefício de professores e que amplia uso de crédito destinado a escolas. Demarcou suas posições. Tendência é ser a oposição mais efetiva do partido.