Após quatro anos à frente da prefeitura de Pelotas, Eduardo Leite (PSDB) resolveu dar um tempo e passou uma temporada nos Estados Unidos, estudando na Universidade de Columbia, em Nova York. De volta, ele se prepara para a disputa de 2018. Embora não admita qual a maior inclinação, deve mesmo concorrer ao Piratini.
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Nesta entrevista, o jovem líder tucano de 32 anos critica o ritmo lento do governo de José Ivo Sartori (PSDB), fala da dificuldade em permanecer na base do Governo Temer e cobra o afastamento definitivo do senador Aécio Neves, seu colega de partido, da presidência do PSDB. Confira:
Pioneiro: Por que você não concorreu à reeleição na prefeitura de Pelotas?
Eduardo Leite: No nosso sistema político brasileiro, pela fragmentação que a gente tem dos partidos políticos, são 26 partidos com representação no Congresso, ela enseja um jogo de barganha por apoios e que quando um governante é candidato à reeleição, acaba, em geral, colocando o governo como um balcão de negócios para poder conquistar apoios e, muitas vezes, significa precarização da estrutura do governo, e seus quadros técnicos ficam também mais fragilizados porque o governo se submete a negociações de ocupação de espaços pelos partidos políticos em nome dos apoios que virão. Acho que nesse sistema político brasileiro, a reeleição é um problema e, por isso, em geral, os segundos mandatos são piores do que os primeiros. Essa foi a minha decisão, eu entendia que era importante, especialmente em Pelotas, mostrar que é possível fazer política colocando o projeto acima das pessoas. Formar novas lideranças e abrir espaço para que elas toquem esse projeto é algo importante do ponto de vista político e de continuidade de transformação da cidade sem precisar ficar tão vinculado a uma pessoa. Em Pelotas, quando decidi não concorrer à reeleição e apresentei a nossa vice-prefeita como candidata, os nossos adversários estavam vindo com os mesmos nomes de sempre. Em geral, os políticos têm medo de formar novas lideranças porque podem se sentir ofuscados, que alguém vai lhe fazer sombra, que vai perder espaço.
Quais seus planos para 2018?
A região sul do Estado não tem nenhum deputado federal. E nós temos votos para eleger pelo menos três, quatro. Temos um problema de representatividade que dificulta as coisas para a nossa região. Um dos exemplos é a duplicação da BR-116. Só agora depois de o próprio Grupo RBS estar encampando uma luta toda em função da BR-116 é que lideranças políticas do Estado passaram a defender a obra como prioridade. Uma das possibilidades seria, sim, concorrer a deputado federal em nome dessa região por conta dessa falta de representatividade. Há também um grupo de pessoas, do meu próprio partido e de outros partidos, que tem vindo conversar comigo a respeito de uma candidatura ao governo do Estado. Não tenho nenhum medo e estou à disposição para essa candidatura, mas antes de se falar em uma candidatura ao governo, a gente tem que falar do projeto, porque o RS passa por uma dificuldade muito grande. Não basta ganhar, tem que ter um projeto que seja viável, realista, honesto, transparente em relação ao que precisa ser feito no Estado. Temos conversado sobre isso, há um movimento incipiente, acho que há uma série de ações que o atual governo está promovendo que precisa ser discutida na Assembleia, então o foco precisa ser mantido nessas propostas do governador, que são importantes do ponto de vista da reestruturação do Estado, mas começa a se discutir no segundo semestre, sim, um projeto alternativo que esteja mais conectado às demandas da população e que seja realmente ousado. A única coisa para a qual não posso me candidatar é senador ou presidente da República, porque a idade mínima é de 35 e eu vou ter 33. Todo o resto é viável.
Quais outros partidos te procuraram?
Essas conversas ainda são muito reservadas. Mais claro é que há uma conversa com o PP, mas não tem me procurado para que eu seja candidato, é uma conversa PSDB-PP, porque estivemos juntos nas últimas eleições. É natural que trabalhemos juntos projetos para o Estado. A preocupação é que o RS tem dificuldades e eu entendo que nós precisamos de uma agenda mais positiva para o governo e com mais velocidade. A gente tem demandas urgentes que estão numa velocidade muito lenta no atual governo, na minha percepção. Respeito o governador Sartori, acho que é uma pessoa bem intencionada, tem seus méritos, o PSDB apoia o governo porque confia no governador Sartori, mas é legítimo que nós possamos pensar em um projeto de acordo com as nossas visões ideológicas.
Sua inclinação maior é concorrer a deputado ou a governador?
Não há nenhuma inclinação para nenhum lado ainda, há a disposição de discutir um projeto, os resultados que tivemos em Pelotas, por termos sido o único município dos cinco maiores do Estado onde teve continuidade de projeto. Todos tinham seus candidatos à sucessão e Pelotas foi o único em que o candidato do prefeito foi eleito, com a maior votação da história da cidade, no primeiro turno. Foi um resultado eleitoral expressivo fruto de uma transformação que a gente está promovendo na cidade. Pelo PSDB ter vencido a eleição em Santa Maria, em Porto Alegre, em Novo Hamburgo, isso nos credencia a estar no centro do debate político para um projeto para o governo do Estado. Uma vez que nós discutamos o projeto, possamos criar um consenso mínimo entre partidos políticos expressivos do Estado, isso envolve PSDB, PP, PTB, por exemplo, mas com esses nós já tivemos algumas conversas, preliminares, evidentemente. O que temos é que, uma vez identificado o projeto que nos une, pensarmos em nomes e meu nome estará à disposição.
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Qual sua avaliação sobre o PSDB nacional, sobre estar ou não no governo Temer?
A grande dificuldade para o PSDB em nível nacional é poder ajudar o Brasil a sair da sua mais grave crise na história. O primeiro foco é socorrer o país. Se você se envolve em um acidente de trânsito em que há vítimas, você primeiro socorre a vítima e depois vai perseguir os culpados, sem prejuízo de perseguir os culpados. Não podemos inverter essa lógica, é claro que tem que haver responsabilização por todo mundo que tenha feito algo de errado. Mas há uma vítima, que é o país, que precisa ser socorrida. Essa é a grande dificuldade para o PSDB, porque sabe que a sua posição importará em fragilização de uma agenda de reformas importantes para o país, por isso vejo que, nesses últimos acontecimentos, (o partido) vem demonstrando a grande dificuldade em sustentar o presidente Temer, aliás, não pode ser sobre dar apoio apenas para sustentar alguém no poder. O apoio do PSDB sempre foi à agenda de reformas, de modernização do Estado brasileiro, de redução de gastos, do equilíbrio fiscal e do equilíbrio necessário nas contas da Previdência. Se esse governo demonstra incapacidade de tocar essa agenda, não resta outra alternativa a não ser deixar o governo e buscar construir uma saída que seja compreendida em nível mundial até, do ponto de vista institucional, respeitando a Constituição, de uma eleição direta, se for o caso. Nós estamos diante nem de uma eleição direta, mas do afastamento do presidente para que ele responda a um processo, só depois do julgamento do STF é que haverá realmente a vacância do cargo e, portanto, uma nova eleição.
Qual sua avaliação sobre os episódios envolvendo o senador Aécio Neves (PSDB). O senhor acredita na inocência dele?
Quem tem que provar inocência é ele. Prefiro respeitar o processo para que ele apresente suas condições de inocência. Acho muito ruim o que aconteceu. Por mais que ele consiga provar que nada de errado fez, o simples fato de procurar um empresário que notoriamente estaria sob investigação e que recebeu recursos que... por mais que não haja isso com clareza dentro de um processo judicial, sempre se falou nacionalmente que os recursos aportados pelo BNDES junto a JBS eram muito estranhos naquele volume e condições que tinham acontecido, e aconteceram no governo do PT. O simples fato de procurar esse empresário para pedir um empréstimo é muito ruim e para mim é uma mácula na imagem do senador que inviabiliza a manutenção dele na presidência do partido. Espero que o partido possa nos próximos dias tomar a decisão de que ele deixa definitivamente a presidência do PSDB, que responda a esse processo, preste os esclarecimentos. Ao final desses esclarecimentos e do julgamento que for feito, ele arcará com as consequências.
Você é considerado um dos políticos mais bonitos do país. Isso ajuda ou atrapalha na carreira política?
Talvez eu já tenha sido, hoje em dia não sei se ainda. Esses tempos na política, especialmente tendo sido prefeito, judiam bastante da gente. Por um lado pode ajudar, por outro atrapalha, porque há preconceito, as pessoas tentam reduzir o debate a isso. Deixam de se olhar as virtudes que realmente importam numa pessoa para governar, que não tem nada a ver com beleza, tem a ver com formação, vocação, capacidade de diálogo. Agradeço às pessoas que me julgam alguém dotado de alguma beleza. No cenário político, é muito fácil ser mais bonito, porque talvez a figura clássica do político não é exatamente um modelo. Se eu fosse pensar qualquer outra carreira que precisasse de beleza, eu não conseguiria me destacar, mas nesta talvez haja algum destaque porque o nível de comparação pudesse favorecer. Por conta da juventude mais do que nada, porque obviamente não me considero um exemplar de beleza. Mas é uma questão que está superada. Num primeiro momento, houve aquela coisa: tá, é bonitinho, mas e aí? E agora a gente mostrou que bonito mesmo é o trabalho que a gente faz na política, que fez diferença na cidade de Pelotas, que mudou a vida de muita gente e que teve aprovação de cerca de 80% da população.