Com 200 municípios gaúchos visitados em menos de seis meses, o ex-prefeito de Canoas Jairo Jorge (PDT) firma sua pré-candidatura ao governo do Estado para 2018. Cauteloso, ele prefere aguardar a definição que ocorrerá no final de setembro.
Mesmo diante da precaução, o pedetista comenta sobre os principais desafios para recuperar a economia, o poder de investimento e a manutenção do Estado. Para ele, o Rio Grande do Sul deve ter o tamanho “necessário”, ter instituído o paradigma do diálogo, uma revolução da educação e tornar o Estado uma fonte de inovação com o desenvolvimento por meio de parcerias público-privadas (PPP).
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Na entrevista, Jorge avalia a condução do governo de José Ivo Sartori (PMDB) que ele classifica como “lenta” e indecisa”.
- Entendo que a condução que ele está fazendo foi tardia.
O ex-prefeito de Canoas, também defendeu a antecipação da eleição para presidente da República e por consequência a extensão do mandato para cinco anos, como alternativa para a condução das reformas necessárias para tirar o país da crise. Confira a entrevista na íntegra.
Pioneiro: Nos últimos cinco meses, o senhor visitou 185 municípios gaúchos. Sua candidatura está consolidada?
Jairo Jorge: O partido vai decidir no final de setembro durante a pré-convenção. Até lá podem surgir outros nomes. Estou fazendo ouvindo e conhecendo as lideranças. Nessa semana chego a 200 cidades e pretendo até a convenção visitar a metade dos municípios do Rio Grande do Sul. O partido é soberano e vai decidir seu nome para o governo do Estado e para o Senado.
Como o PDT deve conduzir a política de alianças para a candidatura ao governo do Estado?
Queremos construir um campo de centro-esquerda para o Rio Grande do Sul. Uma frente ampla que possa efetivamente levar o Rio Grande do Sul para um novo rumo. Desde a eleição de Alceu Collares até agora a eleição tem sido polarizada entre PMDB e o PT. Buscamos uma alternativa a essa polarização. Queremos uma alternativa, uma mudança com segurança. A população não quer o PT, não quer o PMDB, mas também não quer uma aventura. O PDT quer oferecer aos seus aliados uma proposta de campanha que esteja propositiva, afirmativa e sem ataques. O Rio Grande do Sul está cansado dessa disputa entre Chimangos e Maragatos, essa grenalização ou Caju. Essa polarização se esgotou no Rio Grande do Sul.
E quais são os principais desafios do Estado?
Temos quatro grandes desafios. Temos que reestruturar o Estado, ele caminha para a insolvência. O Estado foi moldado no Século 19 pela mente brilhante de Júlio de Castilhos, mas é um Estado que não atende mais os desafios do Século 21. Ele tem que ser reestruturado, tem que ser um Estado necessário e do tamanho que a sociedade quer, mas tem que ser um Estado empreendedor e se eleve ao desenvolvimento e dentro disso entra a questão do déficit. O segundo desafio é substituir o paradigma do conflito pelo paradigma do diálogo. É através da pactuação que vamos levar o Rio Grande do Sul para um novo caminho. O terceiro desafio é necessário uma nova revolução na educação no nosso Estado. Tivemos na década de 50 uma mudança muito importante com a construção de escolas na época do Brizola e isso gerou uma universalização da educação. Agora o grande desafio é fazer uma segunda revolução educacional que prime pela qualidade, criatividade e inovação. O quarto elemento é tornar o Rio Grande do Sul um celeiro de inovação, tecnologia de ponta, com as startups com capacidade de produzir conhecimento, novas formas de fazer gestão pública, novas práticas para saúde, para segurança e o uso de tecnologia para complementar o trabalho humano, mas também trabalhar na busca de parcerias público-privadas, porque jamais vamos conseguir fazer os investimentos em infraestrutura que o Rio Grande do Sul precisa sem PPPs.
Como o senhor avalia o governo Sartori?
Respeito muito o governador Sartori ele foi prefeito em Caxias e eu em Canoas, mas entendo que a condução que ele está fazendo foi tardia. São medidas que pela lentidão e pela indecisão são praticamente inócuas. Precisamos ter um líder que lidere pela afirmação e não pela negação. Não adianta ficar culpando o passado. Churchill (Winston Churchill, político inglês) já disse: se nós iniciarmos uma disputa entre o presente e o passado corremos o risco de perder o futuro. O governador Sartori governa olhando para o retrovisor, mas ele disse não faria isso na campanha eleitoral. Concordo que questões que ele está desenvolvendo são importantes. Tem que reestruturar o Estado, a crise do Estado é profunda, mas penso que diferente do que ele apregoa entendo que tem solução para o Rio Grande do Sul. Não basta usar o mesmo caminho que outros já usaram, porque os caminhos conhecidos nos levam a lugares já conhecidos. Precisamos buscar novos caminhos. Entendo que as coisas positivas que o governador está fazendo devam ter continuidade. Vou continuar todos os bons projetos do governo Sartori, mas recuperar também boas ideias da governadora Yeda, do governador Rigotto que deixou marcas importantes para o Rio Grande do Sul, do governador Tarso. Tenho divergências da forma como ele trata os funcionários. Entre atirar pedra no Davi e Golias ele prefere atirar pedra no Davi e não enfrentar o Golias. É mais fácil atirar pedra no Davi, ele é franzino, mas o Golias é o poderoso. Aqui o Davi são servidores e o Golias são grandes empresas que se beneficiam com incentivos fiscais de quase R$ 9 bilhões ao ano e com a sonegação na ordem de R$ 7 bilhões.
Como recuperar a confiança da população e dos investidores para retomar o crescimento econômico do país?
O único caminho possível é uma antecipação do processo eleitoral dando ao futuro presidente um mandato de cinco anos para que pudesse fazer com a legitimidade popular as mudanças estruturais necessárias. Vamos perder um ano e acho que deveríamos ganhar um ano. Quem ganha nas urnas em um processo eleitoral e democrático tem condições de fazer as mudanças imediatas. Se isso não ocorrer em razão da decisão do Congresso vamos perder um ano. Estamos perdendo prestígio no cenário internacional, basta ver o que aconteceu no G20. Aqui não está a questão partidária, mas o interesse do país deveria ser colocado em primeiro lugar e não os interesses pessoais e de grupos. Com as formas de proteção para evitar a ação do estado, do Ministério Público e da Justiça acho que, infelizmente, o Brasil está em último lugar.
Há viabilidade para as candidaturas do ex-governador do Ceará Ciro Gomes e do ex-presidente Lula à presidência para 2018?
Em 2002, o Ciro Gomes chegou a polarizar com o Lula e esteve na frente do Lula. Depois o Lula ultrapassou e foi para o segundo turno. Acredito efetivamente que o Ciro possa ser uma alternativa viável para que o país possa buscar um caminho de progresso, desenvolvimento e sem a polarização. Não nos interessa transformar o Brasil em uma nova Venezuela. Acho que o Ciro é o nome concreto para pacificar o país pela experiência como governador do Ceará, prefeito de Fortaleza, ministro da Fazenda que consolidou o plano real e ministro da Integração que iniciou as obras de transposição do Rio São Francisco. Essas tarefas o qualificam. Respeitamos os demais candidatos como o Lula e a Marina (Silva), mas acredito que o Brasil quer uma mudança de página e acredito muito no potencial do Ciro que tem a experiência e os predicados que a gente precisa de um líder para esse momento.
Qual sua avaliação sobre a condenação do ex-presidente Lula?
Acredito na Justiça. O ex-presidente Lula vai recorrer ao Tribunal Regional Federal e apresentar os seus argumentos. Acredito que se ele apresentar elementos que demonstrem que sua condenação não foi justa, não tem dúvida que o Tribunal vai revisar a sentença, como já revisou em outros casos. Temos que acreditar no poder na instituição, porque homens e mulheres, eventualmente, podem errar, mas a instituição não. Acho que ele deve como qualquer outro cidadão estar sujeito a lei e ninguém maior do que a lei.