Prova considerada fundamental para esclarecer quem matou Matheus da Silva dos Santos, 21 anos, em Caxias do Sul, o laudo pericial referente a reprodução simulada dos fatos que levaram a morte de ainda não foi concluído. Há mais de oito meses, nas noite de 5 e 12 de abril, os peritos reuniram todos os envolvidos e refizeram todos os passos da abordagem da Guarda Municipal ao carro onde estava o jovem, morto no dia 6 de junho de 2021. Esta última etapa da investigação e, segundo a Polícia Civil, é importante para determinar quem foi autor do disparo que tirou a vida de Matheus.
Segundo o Instituto Geral de Perícias (IGP), essa é uma das perícias mais complexas feitas pelo órgão. Por isso, mesmo em fase final, ainda não há uma data para a conclusão do laudo. Somente quando a perícia for concluída serão repassadas informações sobre o caso.
A reprodução simulada dos fatos é indicada para confrontar a versão apresentada por acusados ou testemunhas de um crime com outras versões e até outros laudos periciais. Cada envolvido relata a sua versão dos fatos para a perita criminal, que é responsável por recriar e fotografar cada momento.
Depois, é elaborado um laudo pericial apontando quais versões são mais compatíveis.
— Ainda não retornou o laudo do IGP, está em fase final. Sem o laudo, que é uma peça fundamental, não podemos concluir a investigação — explica o delegado Caio Márcio Fernandes, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, que é responsável pelo inquérito policial.
A simulação, em abril, recriou cada movimento dos envolvidos naquela madrugada do dia 6 de junho de 2021. Os relatos iniciaram na Rua Moreira César, em frente a um bar, que foi alvo de uma força-tarefa durante as vistorias para dispersar aglomerações durante a pandemia de coronavírus.
Matheus e dois amigos, Rian dos Santos, 20, e Sebastião Daniel dos Santos, 21, estavam naquele bar. Ao perceber a fiscalização, eles decidiram fugir. Matheus era o motorista de Parati e não tinha Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Com as testemunhas, o trabalho pericial refez o trajeto subindo a Rua José de Carli, dobrando na Rua Alfredo Belizário Peteffi e acessando a Perimetral Norte. A Parati foi perseguida por viaturas da Fiscalização de Trânsito, que solicitou o reforço da Guarda Municipal, que continuava na Moreira César e desceu diretamente na Perimetral Norte.
A perseguição prosseguiu até a rótula com a Rua Ludovico Cavinatto, onde a Parati foi cercada. Foi neste momento que aconteceu a sequência de tiros, sendo que um deles atingiu Matheus na cabeça. O jovem chegou a ser encaminhado ao hospital, onde foi confirmada a morte.
Relembre o caso
Matheus da Silva dos Santos, 21 anos, foi morto durante uma perseguição pela Guarda Municipal. Naquela noite, uma força-tarefa envolvendo diversos órgãos de segurança fiscalizou estabelecimentos comerciais na Rua Moreira César, quase na esquina com Rua José de Carli, no bairro São José. Matheus e seus amigos, que estavam em um destes bares, correram e fugiram com uma Parati, o que gerou a perseguição. O rapaz não tinha carteira de habilitação.
A fuga aconteceu por ruas dos bairro São José e terminou na rotatória da Rua Ludovico Cavinato com a Perimetral Norte, caminho que leva aos pavilhões da Festa da Uva. O disparo, segundo a Policia Civil ocorreu no momento em que ele perdeu o controle do carro na rotatória e foi cercado. Os servidores envolvidos alegaram que, após uma colisão, o motorista jogou a Parati que conduzia contra eles e, por isso, efetuaram disparos em legítima defesa.
Um vídeo gravado por um morador contradiz a primeira versão dos guardas municipais e mostram que a sequência de disparos aconteceu antes, quando os veículos ainda estavam em movimento.
Para a Polícia Civil, há cinco investigados: quatro guardas municipais e um servidor municipal que possui porte de arma. A reprodução deve auxiliar a determinar qual deles foi o autor do disparo fatal. Ela é uma tentativa de fazer esta individualização das condutas, mas há 12 versões, por isso o IGP já havia adiantado que é complicado estimar quanto tempo será necessário para este laudo.
O posicionamento de cada atirador é importante porque a perícia no corpo de Matheus apontou uma zona de tatuagem. Este efeito na pele ocorre quando há um disparo a curta distância, de no máximo um metro. A pólvora e outros elementos que grudam na pele fazendo esta "tatuagem". Outro ponto relevante é que a perícia aponta que o tiro que matou Matheus veio do lado direito, ou seja, da janela do passageiro. O motorista foi atingido na cabeça, mas o projetil o transfixou, por isso não foi possível fazer o exame de comparação que determina de qual arma partiu o projetil.
O relatório pericial apontou ainda que a Parati branca, dirigida por Mateus, foi atingida por pelo menos oitos disparos de arma de fogo. A maioria dos tiros atingiu a lateral e a parte traseira do veículo. Todas as munições apreendidas eram de mesmo calibre — não divulgado pela Polícia Civil.