Pelo terceiro final de semana seguido, as forças de segurança de Caxias do Sul se fizeram presentes na Estação Férrea, histórico ponto de encontro de jovens. Na noite desta sexta-feira (2), a ação foi menor, afinal a temperatura baixa e o chuvisco que persistiu durante todo o dia afastou o público. Ainda assim nove carros foram recolhidos e mais quatro motoristas foram autuados por estacionar em local proibido.
A operação iniciou às 22h30min, com a chegada de 10 viaturas e mais de 20 servidores públicos, entre policiais militares, guardas municipais, fiscais de trânsitos e agentes da Secretaria Municipal de Urbanismo. O comboio estacionou na Rua Feijó Júnior, de forma bem visível, como um alerta para afastar os mal intencionados. O horário também foi escolhido para avisar e proporcionar 30 minutos para que os motoristas retirassem seus carros das vagas proibidas.
Nas proximidades do Largo da Estação Férrea, o estacionamento nas ruas Feijó Júnior e Dr. Augusto Pestana é proibido entre 23h e 6h. A medida foi estabelecida em 2018 como forma de afastar os veículos que costumam ligar som alto, perturbando a vizinhança durante toda a madrugada. A infração é considerada média e tem multa de R$ 130,16. Caso o motorista não seja encontrado, o automóvel é retirado por um guincho.
Na noite úmida desta sexta-feira, seis estabelecimentos estavam abertos no Largo da Estação Férrea. Nenhuma das casas noturnas teve fila para entrada. Quem trabalhava na noite apontou o frio como explicação para o baixo movimento. O som das festas só era escutado próximo aos locais e não incomodavam a vizinhança.
Apesar dos 11ºC e da chuva, dezenas de jovens se reuniam em pequenos grupos ao longo da Rua Dr. Augusto Pestana. Protegidos da umidade embaixo de marquises, eles consumiam bebidas alcoólicas e conversavam alto. Os jovens não foram abordados ou tiveram qualquer contato com os policiais militares ou guardas municipais, que apenas faziam patrulhamento e acompanhavam a ação dos fiscais de trânsito.
A operação foi finalizada às 2h de sábado (3), sem qualquer incidente. Uma hora após a saída da fiscalização, quando os termômetros já marcavam 8ºC, já era possível ver carros estacionados nos locais proibidos. No entanto, os grupos de jovens já haviam dispersados.
Moradores relatam som alto e brigas pelas ruas
A força-tarefa acontece após, mais uma vez, a Estação Férrea virar local de tumultos e violência. As noites mais quentes do início de agosto atraíram este público para o local, que é o principal ponto de encontro da cidade. Os relatos, porém, foram de insegurança. Sem qualquer presença policial, diversos jovens embriagados causavam tumultos e brigas, assustando quem estava ingressando ou deixando as festas da região.
Os tumultos também incomodam a vizinhança, que tem diversas casas e prédios residenciais. Os moradores relatam que são centenas de jovens que se espalham da Estação Férrea, na Rua Feijó Júnior, até a esquina da Dr. Augusto Pestana com Os Dezoito do Forte.
— É um pessoal que fica ali fora, não entra nos bares, e ficam se aparecendo um para os outros. São caminhonetes com som alto, motoristas fazendo rachas, aquelas motocicletas acelerando sem escapamento, além da sujeira e os tumultos pela bebedeira — conta um morador que prefere não ser identificado.
A presença policial dos últimos finais de semana se mostrou eficaz para afastar estes baderneiros e impedir as infrações de trânsito, contudo não empolga os moradores do bairro São Pelegrino. Os relatos apontam que estas força-tarefas não tem continuidade.
— Já vimos em outros anos. Esta operação dura alguns finais de semana, mas assim que a polícia parar de vir, a bagunça retornará. A Brigada Militar e a Guarda Municipal dizem que não tem efetivo para vir todo final de semana, nem para ficar toda a noite. Assim que a polícia sai, começa o barulho tudo de novo — relata a moradora de outro prédio próximo, que também pede sigilo. Há quatro anos neste apartamento, ela detalha os problemas que se repetem todos os finais de semana:
— Quanto mais tarde for, mais eles já ingeriram bebida, e pior fica o barulho. Eles brigam e é uma gritaria, que dá eco escutamos tudo. O maior barulho é a música dos carros, que abrem os capôs. Isso acontece inverno e verão. Mesmo com frio eles ficam (nas ruas). São menos (jovens), mas conseguem fazer bagunça. Até com chuva, eles vem e fazem balbúrdia — aponta.
Em 2018, uma mobilização dos moradores do bairro São Pelegrino apresentou um abaixo-assinado com quase 800 assinaturas, que foi entregue ao Ministério Público (MP). A investigação da Promotoria, contudo, terminou com um relatório considerado sem respostas pelos reclamantes.
— Foi arquivado sem qualquer punição ou medida. No relatório, dizia que ficava uma viatura fixa da Brigada Militar, o que só aconteceu após um homicídio naquele ano. Ficou cerca de um mês aquela viatura. Depois, nunca mais. A Brigada sempre nos respondeu que não tem efetivo para deixar uma viatura ali — reclama a moradora responsável pelo documento em 2018, que diz que a falta de ações desanimou a vizinhança.
— O pessoal está cansado, nem reclamar quer, porque não adianta. O problema continua todos os finais de semana, mas está difícil se mobilizar novamente. É uma bola de neve, o problema só aumenta — opina.
Uma das soluções propostas pela prefeitura nos últimos anos passa pela revitalização do Largo da Estação Férrea. Contudo, a licitação teve apenas uma empresa interessada, que apresentou proposta cerca de 20% superior aos quase R$ 6,9 milhões que haviam sido orçados pelo município. Um novo edital foi divulgado nesta sexta-feira (2), com novos mecanismos para tentar atrair mais empresas.
Por enquanto, as noites de sono são garantidas pelas presença das forças de segurança. A tendência é que a força-tarefa continue, mas o planejamento não é divulgado. A vizinhança teme que, sem a presença policial, novos episódios de baderna e violência possam ser vistos nos próximos meses, principalmente quando o verão trouxer dias mais quentes.